Yellowstone vira “Game of Thrones” do Velho Oeste ao misturar intrigas políticas e tiros

Thais Bentlin
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A montanha-russa de poder, traições e disputas sangrentas que seduziu o público em Game of Thrones ganhou um cenário bem diferente em 2018: as pradarias de Montana. A série Yellowstone, criada por Taylor Sheridan, trocou dragões por cavalos, mas manteve o foco em personagens moralmente ambíguos que lutam até o fim para defender suas posses e ampliar influência.

Ao estrear sete anos depois da produção da HBO, o drama estrelado pela família Dutton mostrou como o faroeste ainda rende boas histórias quando incorpora o ritmo ágil, a profundidade emocional e as reviravoltas políticas que tornaram o sucesso de Westeros um fenômeno global.

Yellowstone é a versão faroeste de Game of Thrones nos temas e na forma

Embora fantasia medieval e western pareçam universos opostos, ambos os programas compartilham elementos-chave logo nos primeiros minutos. As aberturas exibem mapas em constante movimento enquanto trilhas orquestrais criam sensação de grandiosidade. Em seguida, sexo explícito, violência gráfica e disputas territoriais ocupam o centro da narrativa, deixando claro que estar vivo, seja em Winterfell ou no rancho dos Dutton, é questão de estratégia.

No caso de Yellowstone, a grande extensão de terras da família funciona como Trono de Ferro moderno. John Dutton (Kevin Costner) exerce poder político considerável no estado, mas enfrenta ameaças de grandes corporações, índios que reivindicam a posse ancestral e autoridades públicas interessadas em pedaços daquele solo bilionário. Já Game of Thrones apresenta casas como Targaryen e Lannister que duelam para comandar os Sete Reinos, recorrendo a alianças frágeis, veneno e exércitos inteiros.

A semelhança mais evidente é o protagonismo de figuras “cinzentas”. Tanto Beth Dutton quanto Cersei Lannister podem demonstrar afeto e crueldade extrema na mesma cena. Do lado dos heróis, Jon Snow e Kayce Dutton encarnam dilemas morais constantes, oscilando entre honra e dever familiar. Esse retrato nuançado dos personagens quebra o clichê de que histórias de cowboy ou de fantasia se resumem a mocinhos e vilões.

Outro ponto em comum está na forma como os roteiros quebram tradições de gênero. Sheridan evita tiroteios gratuitos e explora negociações políticas, reuniões de conselho e manobras judiciais para criar tensão, processo semelhante ao que George R. R. Martin fez ao substituir grandes batalhas por discussões estratégicas em castelos. O resultado é um faroeste de TV prestígio, onde cada bala disparada carrega peso dramático — assim como cada espada desembainhada em Westeros.

Intriga familiar como motor da trama

A espinha dorsal de Yellowstone é o conflito interno entre os Dutton. Beth, Jaime e Kayce disputam o posto de herdeiro natural enquanto questionam as decisões de John. Esse caos doméstico dialoga diretamente com as brigas dos Lannister, em que Tyrion, Jaime e Cersei tramam uns contra os outros apesar do laço sanguíneo. Nas duas produções, amor e ódio se confundem: laços familiares servem tanto para proteger quanto para destruir, mantendo o espectador preso à tela.

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Imagem: Divulgação

Além disso, ambos os shows tratam o cenário como personagem. Em Game of Thrones, o inverno que se aproxima representa ameaça constante; em Yellowstone, o Parque Nacional que circunda o rancho vira obstáculo geográfico e político. Os ambientes influenciam decisões e moldam o destino de cada clã.

O alcance cultural também merece destaque. Game of Thrones transformou fantasia em televisão de alto prestígio, abrindo portas para produções como The Witcher e A Casa do Dragão. Yellowstone faz movimento similar ao ressuscitar o faroeste para as novas gerações, gerando derivados como 1883 e 1923, além de alimentar discussões sobre posse de terra e questões indígenas.

Para o leitor do Salada de Cinema, vale observar como Taylor Sheridan equilibra elementos clássicos — cavalgadas, duelos, chapéus — com diálogos sofisticados dignos de dramas políticos contemporâneos. Essa mistura explica o sucesso estrondoso da série e o motivo pelo qual muita gente a descreve, de forma nada exagerada, como “Game of Thrones de chapéu”.

Ficha técnica

Yellowstone – estreia: 20 de junho de 2018; criador: Taylor Sheridan; gênero: drama, faroeste moderno; temporadas: 5 (em andamento).
Game of Thrones – estreia: 17 de abril de 2011; criadores para TV: David Benioff & D. B. Weiss; gênero: fantasia épica; temporadas: 8 (concluída).

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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