Os anos 2020 confirmaram a boa fase dos westerns na TV, colocando séries de alto orçamento no radar do grande público. No centro dessa onda está Yellowstone, fenômeno pop que levou disputas de terra e política familiar ao horário nobre.
Antes, porém, outra produção fincou bandeira e preparou o terreno para esse renascimento: Justified, drama criminal exibido pela FX entre 2010 e 2015, que mantém 97% de aprovação no Rotten Tomatoes e um público fiel até hoje.
Justified mostra força de roteiro e coesão que faltam a Yellowstone
De acordo com especialistas, Justified se destaca pela clareza de visão criativa. Ao longo de seis temporadas, a série manteve tom consistente e evoluiu personagens sem abrir mão da lógica interna. O mesmo não se pode dizer de Yellowstone, cujas mudanças de rumo, expansões de universo e bastidores conturbados acabaram afetando a narrativa.
No drama da FX, acompanhamos o delegado Raylan Givens (Timothy Olyphant) voltando a Harlan County, Kentucky, após um tiroteio polêmico em Miami. Lá, ele cruza constantemente o caminho de Boyd Crowder (Walton Goggins), velho conhecido que troca de lado entre religião, crime e política de acordo com a conveniência. A rivalidade serve de eixo para conflitos cheios de humor ácido, moral ambígua e pontaria afiada.
Diferente de Yellowstone, que aposta em grandes cenários e tramas quase operísticas, Justified prefere duelos verbais. A tensão cresce em diálogos rápidos, recurso que evita excessos visuais e ajuda a manter a série “atemporal”, segundo críticos. Mesmo quem maratona agora nota um ritmo ágil, fruto de episódios fechados que alimentam arcos sazonais.
Outro ponto levantado por analistas é o desfecho. Enquanto o drama estrelado por Kevin Costner enfrenta incertezas sobre a saída do protagonista e divide a história em diversos spin-offs, Justified encerrou seu ciclo no momento certo. O capítulo final, batizado de “The Promise”, entrega resolução emocional sem depender de reviravoltas mirabolantes.
Enredo centrado em personagens e final redondo garantem longevidade
Justified constrói impacto com escolhas simples: códigos morais conflitantes, humor que surge da fala direta e consultas constantes ao passado dos personagens. Esses elementos, combinados à fotografia que troca os desertos clássicos pelos Montes Apalaches, fazem do programa um “western sem cavalos”, como descreve parte da crítica.
Imagem: Divulgação
Quem acompanha Salada de Cinema já sabe que séries com valor de repetição alto costumam envelhecer melhor. Nesse quesito, Justified leva vantagem: arcos bem amarrados estimulam revisitas, sem a sensação de que algo ficou pendente. Yellowstone, ao contrário, ainda procura um encerramento satisfatório para os Duttons e pode ficar marcado por polêmicas fora de cena.
Mesmo assim, o sucesso comercial de Yellowstone é inegável. A produção virou franquia e colocou o gênero de volta ao centro das discussões. A diferença é que envelhecer bem exige mais do que audiência: pede coerência, personagens sólidos e confiança de que cada temporada segue um plano maior. Três pontos que Justified entrega com folga, segundo avaliações especializadas.
Com isso, a tendência é que a série da FX permaneça como referência de neo-western enxuto, enquanto Yellowstone será lembrada como o título que popularizou novamente o faroeste, mas nem sempre com a mesma precisão narrativa.
Ficha técnica
Título original: Justified
Exibição: 2010–2015, FX
Episódios: 78 (6 temporadas)
Criação: Graham Yost, a partir de obra de Elmore Leonard
Elenco principal: Timothy Olyphant, Walton Goggins
Gênero: Crime, Drama, Neo-western
Aprovação no Rotten Tomatoes: 97%
Disponível no Brasil: Hulu (via VPN) ou serviços sob demanda que tenham acordo de licenciamento


