Documentário da Netflix celebra 100 anos da The New Yorker e revela bastidores do jornalismo de elite

Thais Bentlin
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Quando a notícia corre cada vez mais rápido, encontrar uma produção capaz de interromper a rolagem infinita e prender o olhar do público é quase um milagre. É exatamente o que faz “The New Yorker: 100 Anos de História”, novo documentário que acaba de entrar no catálogo da Netflix e mergulha no coração de uma das publicações mais influentes do planeta.

Ao longo de pouco mais de hora e meia, o diretor Marshall Curry revisita capas, reportagens e personagens que moldaram a revista fundada em 1925. O resultado é um retrato íntimo de como se constrói, dia após dia, um jornalismo que resiste à pressa do algoritmo e sustenta a própria relevância há um século.

Uma revista centenária sob os holofotes

Lançada em 21 de fevereiro de 1925 por Harold Ross e Jane Grant, a The New Yorker consolidou-se como sinônimo de apuração meticulosa, humor refinado e textos literários que cruzam fronteiras. O filme celebra esse legado revelando a evolução editorial da revista em paralelo com grandes eventos dos Estados Unidos, sempre ilustrados por capas icônicas e charges irreverentes.

Entre as joias de arquivo, aparecem nomes que ganharam as páginas da publicação e depois o mundo, como John Hersey, Saul Bellow, Truman Capote e James Baldwin. O documentário evidencia, sem didatismo, como a revista funcionou como uma vitrine para talentos e como suas reportagens ajudaram a moldar a percepção pública de temas centrais do século XX.

Bastidores comandados por David Remnick

Figura central da narrativa, David Remnick ocupa a cadeira de editor-chefe desde julho de 1998, quando sucedeu Tina Brown em um processo conturbado. No longa, ele surge avaliando charges para a edição de centenário, reiterando a busca por novidade, frescor e inovação, mas sempre ancorado em métodos clássicos de checagem.

Remnick conta, em tom descontraído, como foi recebido pela redação após a saída abrupta de Brown, que aceitou uma oferta de Harvey Weinstein. “Recebi alguns aplausos e fomos trabalhar”, relembra, numa amostra da leveza que permeia o depoimento do jornalista, mesmo ao abordar transições turbulentas.

Confissões de um editor em cena

A câmera de Marshall Curry acompanha o editor em momentos de pura artesania: ele circula entre mesas de repórteres, revisa ilustrações e discute pautas como quem lapida uma peça única. São passagens que revelam a cultura interna do veículo, ainda guiada pelo rigor estabelecido pelos fundadores quase cem anos atrás.

Capas, perfis e textos que marcaram época

Curry costura trechos históricos — fotos, trechos de entrevistas e animações — para mostrar como a revista transformou jornalismo em arte. O caso mais rumoroso surge quando o documentário relembra a publicação de “A Sangue Frio” (1965), longa reportagem de Truman Capote que, depois, virou livro. Na época, o editor William Shawn descobriu passagens inventadas e conversas que jamais aconteceram, fato que magoou profundamente a redação e fortaleceu ainda mais o processo de checagem.

O filme também destaca a rotina de Richard Brody, crítico de cinema da casa. Ele admite assistir a pelo menos um filme por dia — “às vezes dois, já foram três” — num ritmo que reflete a dedicação quase obsessiva da equipe em entregar conteúdo profundo mesmo diante da enxurrada diária de novidades.

Da fundação à era digital

Ao percorrer suas dez décadas, a produção relembra como a revista sobreviveu a guerras, crises econômicas e às mudanças tecnológicas que pressionaram a imprensa. Mesmo na era do feed, a The New Yorker mantém checadores, redatores e editores que discutem cada linha antes de imprimir ou publicar online, um luxo raro no mercado atual.

Um estudo sobre relevância jornalística

Sem recorrer a narração em off, Curry permite que ex-colaboradores, cartunistas e repórteres contem a própria história. Eles revelam erros, acertos e a eterna busca por credibilidade. O documentário também joga luz sobre o desafio de continuar relevante quando publicações nascem e morrem em poucos cliques.

Para quem acompanha novelas, doramas ou qualquer outra forma de narrativa, o filme oferece lições valiosas sobre contar boas histórias, algo que o público do Salada de Cinema certamente aprecia. A cada depoimento, fica evidente que, antes de falar mais alto ou mais rápido, a revista preferiu falar melhor — e esse cuidado transparece em cada segundo de tela.

Ficha técnica

Título original: The New Yorker: 100 Anos de História

Direção: Marshall Curry

País: Estados Unidos

Ano de lançamento: 2025

Duração: aproximadamente 1h30

Gênero: Documentário

Disponível em: Netflix

Avaliação crítica: 10/10

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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