Quando a sétima temporada de Arquivo X entrou no ar, ninguém imaginava que a série fosse trocar o suspense cinematográfico por câmeras tremidas de reality show. Mas foi exatamente isso que aconteceu em “X-Cops”, exibido em fevereiro de 2000. Há 25 anos, Fox Mulder e Dana Scully invadiram o formato de Cops, o popular programa policial que acompanhava patrulhas reais pelas ruas americanas.
O resultado foi um episódio crossover de Arquivo X totalmente fora da curva, filmado em vídeo, com áudio ambiente imperfeito e participação de uma equipe real do reality. A mistura poderia parecer desastrosa, porém o roteiro de Vince Gilligan – futuro criador de Breaking Bad – provou que, às vezes, o risco compensa.
O ousado episódio crossover de Arquivo X que virou reality policial
“X-Cops” começa como um Cops genuíno: letreiro clássico, música tema “Bad Boys” e a câmera seguindo o xerife do condado de Los Angeles, interpretado por Judson Mills. Quem zapeava pela TV na época, sem grade de programação à mão, levava alguns minutos para perceber que aquilo era, na verdade, Arquivo X.
A narrativa abandona por completo a estética tradicional da série. Em vez de fotografia sombria e trilha discreta, vemos iluminação de luz de poste, comentários espontâneos de policiais e cortes rápidos – tudo igual ao reality original. O caso investigado parece primeiro um ataque de lobisomem, mas logo Mulder identifica sinais de uma entidade que se alimenta do pavor das vítimas. É o típico “monstro da semana”, porém apresentado como se fosse vida real, o que reforça a tensão.
Enquanto a entidade se molda aos medos individuais, a câmera registra reações autênticas: a incredulidade de Scully diante da equipe de filmagem, a empolgação de Mulder com a exposição midiática e o pânico crescente entre moradores. Essa escolha deu frescor à trama na reta final da sétima temporada, fase em que muitas séries já demonstram desgaste.
Imagem: Divulgação
Além disso, o episódio crossover de Arquivo X funcionou como sátira: a criatura invisível que se aproveita do medo alheio ecoa críticas à indústria de reality shows, sempre pronta para explorar inseguranças e tragédias pela audiência. Essa camada de leitura transformou o capítulo em material de estudo para fãs e críticos, garantindo vida longa ao debate sobre formatos televisivos.
Como a linguagem de reality transformou Mulder e Scully
A câmera de ombro e o som captado no susto revelaram nuances inesperadas da dupla protagonista. Mulder adota postura quase performática, aproveitando cada pergunta da equipe para defender a existência do sobrenatural. Já Scully reclama da “bagunça”, tenta preservar procedimentos forenses e, ao mesmo tempo, sente a pressão de ter suas explicações racionais gravadas sem cortes. O contraste acentuou o conflito central da série – fé versus ceticismo – com pitadas de humor involuntário, reforçando por que Arquivo X se manteve relevante por tantos anos, inclusive para leitores de Salada de Cinema.
Ficha técnica
- Título do episódio: X-Cops
- Temporada: 7 • Episódio: 12
- Data de exibição: 20 de fevereiro de 2000
- Formato: crossover com o reality Cops, gravado em vídeo
- Roteiro: Vince Gilligan
- Direção: Michael W. Watkins
- Sinopse: Mulder e Scully investigam uma criatura que assume a forma do maior medo de cada pessoa, enquanto são filmados por uma equipe de TV.


