Uma casa isolada, um pai abalado e uma menina mergulhada em tristeza. Essa é a combinação que dá início aos eventos de O Armário, longa de mistério e terror que acaba de entrar no catálogo do Prime Video.
Dirigido por Kwang-bin Kim e lançado em 2020, o filme apimenta a dor do luto com elementos sobrenaturais, explorando até onde um pai é capaz de ir para salvar a própria filha. O resultado é um suspense que cutuca traumas pessoais e coletivos sem medo de perturbar o público.
Enredo: luto, mudança de casa e um móvel sinistro
A trama acompanha Sang-won (Ha Jung-woo), arquiteto que tenta recomeçar a vida após a morte da esposa. Convencido de que um novo ambiente ajudará, ele se muda com a filha Yi-na (Heo Yool) para uma residência afastada da cidade.
O cenário, porém, está longe de oferecer conforto. Logo nos primeiros dias, a garota exibe comportamento hostil, ouve risadas que ninguém mais escuta e se isola em seu quarto. O ponto central de toda estranheza é o armário antigo instalado no cômodo – peça que parece observar cada movimento como se fosse parte viva da casa.
Racionalidade x sobrenatural
Sang-won resiste à ideia de que algo paranormal ameace a filha. Ele busca explicações médicas e psicológicas para o desequilíbrio de Yi-na, mas os acontecimentos se tornam cada vez mais inexplicáveis. Objetos caem sozinhos, portas batem sem vento e a menina surge com arranhões que não consegue explicar.
Investigador entra em cena e revela passado sangrento
Quando a situação chega ao limite, o pai recorre a Kyung-hoon (Kim Nam-gil), pesquisador especializado em fenômenos sobrenaturais. Com olhar clínico, o novo personagem abastece O Armário de informações sobre antigos desaparecimentos infantis ligados àquela casa.
Documentos, recortes de jornais e fitas antigas apontam para um histórico de violência que nunca veio à tona. A investigação conecta as dores de Sang-won a famílias que, décadas antes, enfrentaram perdas semelhantes. O armário, na verdade, funcionaria como portal entre o mundo físico e uma dimensão marcada por rancor e sofrimento.
Viagem a outra dimensão
Para recuperar a filha, o protagonista precisa atravessar esse espaço paralelo, onde crianças perdidas vagam sem rumo. A atmosfera opressora dessa sequência é reforçada por cenários cinzentos, sons abafados e a sensação constante de que algo vigia cada passo.
Atuação de Heo Yool amplifica tensão
Embora o roteiro use fórmulas conhecidas de J-horror e produções ocidentais, a interpretação de Heo Yool dá novo fôlego ao material. A atriz alterna fragilidade e frieza, tornando cada aparição incômoda. O espectador nunca sabe se ali está a verdadeira Yi-na ou uma entidade agindo através dela.
Imagem: Divulgação
Ha Jung-woo, por sua vez, transmite culpa e desespero ao perceber que não foi o pai presente que a menina precisava. Esse conflito emocional sustenta o suspense e evita que o longa se resuma a sustos fáceis.
Temas: culpa, abandono e tentativa de reparação
Mais do que um simples filme de horror, O Armário discute a necessidade de encarar traumas em vez de varrê-los para debaixo do tapete. A culpa parental, o abandono emocional de uma criança e o esforço desesperado para reparar erros alimentam a narrativa do começo ao fim.
Quando Sang-won finalmente resgata Yi-na, não há sensação de alívio completo. O que permanece é a constatação dolorosa de que o luto não some com mudança de endereço. Ele se infiltra em cada fresta não resolvida, tal qual a entidade que se esconde no móvel antigo.
Ligação com o público brasileiro
Fãs de terror psicológico vão reconhecer ecos de produções como O Grito e Invocação do Mal, mas com tempero sul-coreano voltado a dramas familiares. Para o leitor do Salada de Cinema, a chegada do longa ao Prime Video representa oportunidade de conferir uma abordagem diferente sobre perdas e fantasmas.
Detalhes técnicos e avaliação
Título original: O Armário (The Closet)
Direção: Kwang-bin Kim
Ano: 2020
Duração: 98 minutos
Gênero: Mistério/Terror
Onde assistir: Prime Video
Nota média: 8/10
Apesar de alguns clichês, a produção entrega atmosfera angustiante e debates relevantes sobre saúde mental e responsabilidade parental. O Armário pode não reinventar o gênero, mas oferece sustos eficientes e reflexão sobre vínculos que persistem além da morte.


