Antes de Chandler Bing se tornar sinônimo de humor na TV, Matthew Perry já buscava papéis que mostrassem outras facetas de seu talento. Foi exatamente isso que ele encontrou em Studio 60 on the Sunset Strip, produção de 2006 criada por Aaron Sorkin.
Embora a comédia Friends tenha projetado o ator mundialmente, o drama dos bastidores de um programa de variedades permitiu que Perry demonstrasse intensidade dramática rara em sitcoms. O resultado? Uma performance que muitos fãs e críticos consideram a mais completa de sua trajetória.
Como nasceu Studio 60 on the Sunset Strip
Logo após o término de The West Wing, Aaron Sorkin uniu forças novamente com o diretor Thomas Schlamme para desenvolver Studio 60 on the Sunset Strip. A ideia era mostrar os bastidores de um programa semanal de esquetes, claramente inspirado no Saturday Night Live, abordando as pressões de manter humor inteligente na televisão norte-americana.
A série estreou na NBC em 2006 com grande expectativa: elenco estrelado, roteirista premiado e orçamento robusto. Matthew Perry assumiu o protagonista Matthew Albie, chefe de roteiro gênio, enquanto Bradley Whitford interpretou o produtor Danny Tripp. Essa dupla refletia a própria parceria Sorkin-Schlamme: um escrevia quase tudo, o outro fazia a engrenagem girar.
O papel de Matthew Perry como Matt Albie
Matt Albie carregava traços que dialogavam diretamente com o intérprete. Sorkin chegou a escrever o personagem para Perry, atribuindo-lhe até o mesmo primeiro nome. Na trama, Albie enfrenta o desafio de manter o público rindo enquanto luta contra inseguranças profundas e um rígido código moral liberal.
Ao lado da colega Harriet Hayes, vivida por Sarah Paulson, o roteirista se envolvia em discussões sobre fé, política e liberdade artística. Harriet era cristã devota; Albie, judeu liberal convicto. O embate constante dos dois trazia debates afiados, típicos da escrita de Sorkin.
Drama entre talento e dependência
Um arco marcante mostra Albie mergulhando no abuso de medicamentos após o término conturbado com Harriet. A dependência, detectada por sua assistente Suzanne e por Danny, reflete a dificuldade de separar criação artística e bem-estar pessoal. Matthew Perry revelou em sua autobiografia que esteve sóbrio durante as filmagens, mas a coincidência com seus desafios reais deu peso emocional extra às cenas.
Enredo e temas centrais da série
Studio 60 on the Sunset Strip defendia a relevância de uma sátira política afiada em horário nobre. Enquanto Albie lutava por conteúdo mais ousado, executivos do canal retrucavam com preocupações de audiência e patrocinadores. Entre ensaios, leituras de roteiro e crises de última hora, a série questionava o papel da televisão no debate público.
A produção assumia tom aspiracional semelhante ao de The West Wing: mostrava personagens idealistas, apaixonados pela missão de melhorar o país. Porém, em vez de políticos, eram comediantes e roteiristas tentando usar o riso como arma de mudança social.
Imagem: Divulgação
Recepção, elogios e cancelamento
Apesar do elenco de peso – Amanda Peet, D. L. Hughley e Steven Weber completavam o time principal – a audiência não correspondeu. Argumentar que “a TV precisa evoluir” mostrou-se um apelo menos popular do que “a política precisa mudar”. Com números modestos, a NBC cancelou a produção após apenas uma temporada, totalizando 22 episódios.
Críticos, no entanto, elogiaram especialmente o trabalho de Matthew Perry. Muitos apontaram a habilidade do ator em transitar entre sarcasmo, ironia e vulnerabilidade, superando o estereótipo cômico firmado em Friends. Para o portal Salada de Cinema, a interpretação de Perry em Studio 60 on the Sunset Strip ilustra como o artista conseguia sustentar tramas densas sem perder carisma.
Comparação inevitável com Friends
Em Friends, Chandler Bing era o mestre das tiradas rápidas, mas raramente tinha espaço para aprofundar a dor interna que motivava seu humor autodepreciativo. Já em Studio 60 on the Sunset Strip, o roteiro permitiu a Perry revelar o lado obscuro dessa necessidade de agradar. Há cenas em que Albie analisa a reação da plateia a cada piada, algo que o ator admitiu sentir na vida real.
Enquanto todos os personagens de uma sitcom são engraçados por natureza, no drama de Sorkin o riso era ferramenta e responsabilidade exclusiva de Albie. Isso destacava a pressão criativa e expunha suas fragilidades. Por isso, muitos fãs consideram Studio 60 on the Sunset Strip a produção que melhor capturou a essência do artista.
Legado após a única temporada
Ainda que breve, a série deixou legado curioso. Tornou-se referência para estudantes de roteiro interessados em diálogos ágeis e temas metalinguísticos. Além disso, consolidou a parceria entre Perry e Whitford, que já havia ocorrido em participações pontuais de Perry em The West Wing.
Por que a atuação é lembrada até hoje
Perry demonstrou domínio completo das nuances de Matt Albie: gestos nervosos, silêncios carregados e explosões de franqueza no momento certo. O público tinha a sensação de enxergar o indivíduo por trás do personagem, fenômeno raro na televisão.
Com a morte do ator, em 2023, muitos fãs revisitaram Studio 60 on the Sunset Strip para apreciar esse retrato sensível. A série prova que, mesmo fora de Friends, Matthew Perry entregou uma performance capaz de emocionar, divertir e fazer refletir sobre o poder da comédia.


