Plano 75: a distopia japonesa do Prime Video que encara o envelhecimento como problema de Estado

Thais Bentlin
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Um tiro ecoa nos primeiros segundos do longa. O sangue ainda respinga quando a câmera corta para o silêncio. Assim começa Plano 75, produção japonesa disponível no Prime Video que vem causando calafrios em quem se arrisca a dar o play.

Dirigido pela estreante Chie Hayakawa, o filme imagina um país onde idosos perdem o status de cidadãos e viram simples cifras no balanço público. A solução oficial soa eficiente, porém cruel: eutanásia gratuita a partir dos 75 anos, vendida com pacotes “personalizados”.

Distopia pautada pela utilidade econômica

O ponto de partida de Plano 75 é direto. Quando a economia passa a medir a utilidade das pessoas pelo que ainda produzem, o envelhecimento vira sentença. Ao ligar o programa de suicídio assistido à redução de gastos do governo, Hayakawa expõe uma lógica que troca cuidado por contabilidade.

Essa frieza se materializa na tela quando um idoso, incapaz de pagar despesas médicas, decide tirar a própria vida. O incidente mobiliza autoridades, que anunciam o plano de eutanásia como política de “bem-estar coletivo”. A suposta solução, no entanto, só aprofunda o abismo social.

Personagens revelam faces da exclusão

Michi, vivida pela veterana Chieko Baishō, trabalha limpando quartos de hotel ao lado de outras senhoras. Experiente e dedicada, ela percebe que hóspedes reclamam da presença de funcionários “tão velhos”. Sem família por perto, teme ser demitida e ficar sem renda justamente quando mais precisa de segurança.

O gerente confirma seus temores: dinheiro fala mais alto que gratidão. Desempregada, Michi considera aderir ao Plano 75. A burocracia que a recebe é composta por jovens operadores, treinados para vender pacotes “premium” com direito a refeição de despedida e ataúde customizado, como se estivessem oferecendo um cruzeiro.

Como funciona o Plano 75 dentro do filme

Quem opta pelo serviço assina termos, escolhe data, cardápio e ainda pode receber um benefício financeiro adiantado. O detalhe mais desconcertante: membros da família podem herdar parte desse subsídio caso incentivem o parente a participar. O longa destaca, assim, uma engrenagem que transforma a morte em transação comercial.

Hayakawa não recorre a imagens gráficas o tempo todo. A violência é sugerida por corredores vazios, pilhas de formulários e expressões cansadas. Cada detalhe reforça o desconforto de encarar a finitude como política pública e ressalta por que Plano 75 tem incomodado tanta gente.

Direção combina realismo e suspense

Chie Hayakawa adota ritmo contido, quase documental. Planos longos e sons ambientes substituem trilhas dramáticas, deixando o espectador refletir sem distrações. A fotografia aposta em tons frios que contrastam com pequenos lampejos de calor humano, como a solidariedade entre faxineiras.

Essa escolha estética faz o tema ganhar força. Ao invés de discursos inflamados, o que surge é o cotidiano de quem já trabalhou a vida toda e agora precisa lutar para provar que ainda merece existir. O resultado é um drama intimista que soa mais perturbador do que muitos thrillers explícitos.

Recepção e impacto internacional

Lançado em 2022, Plano 75 recebeu elogios em festivais asiáticos e europeus por provocar reflexões sobre longevidade, mercado de trabalho e política de bem-estar. A crítica destaca o equilíbrio entre empatia pelos personagens e denúncia de um sistema desumanizante.

No catálogo do Prime Video, o título ganhou notoriedade por dialogar com discussões globais sobre previdência, sobretaxa da saúde e envelhecimento populacional. No site Salada de Cinema, leitores comentam como a narrativa ressoa em países que enfrentam aumento da expectativa de vida e redução da natalidade.

Por que a história continua assombrando

Ao exibir um Estado que sugere a morte como política de equilíbrio fiscal, Plano 75 coloca o público diante de dilemas éticos urgentes: até que ponto a sociedade está disposta a sacrificar indivíduos em nome da eficiência? E quem define o valor de uma vida considerada “improdutiva”?

Essas perguntas não recebem respostas fáceis. A diretora prefere deixar ecoar o desconforto, lembrando que a fronteira entre ficção científica e realidade pode ser tênue. Talvez por isso o longa permaneça rondando a memória de quem termina a sessão.

Ficha técnica

Título original: Plan 75

Direção: Chie Hayakawa

Ano de lançamento: 2022

Gênero: Drama / Ficção científica

Duração: 112 min

Elenco principal: Chieko Baishō, Hayato Isomura, Stefanie Arianna Akashi

Disponível em: Prime Video

Avaliação média: 8/10 (segundo agregadores de crítica)

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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