Um atendente solitário, um cliente misterioso e um pacto inesperado em pleno balcão de bar. A partir dessa conversa casual, O Predestinado engata uma história que dobra linhas temporais, questiona o livre-arbítrio e coloca Ethan Hawke no encalço de um criminoso sempre um passo à frente.
Lançado em 2014, o longa dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig combina ficção científica, drama e suspense policial. Agora no catálogo da Netflix, o título ganha novo fôlego, sobretudo entre fãs de narrativas cheias de reviravoltas que lembram os enigmas de Agatha Christie.
Quem é quem em O Predestinado
No centro da trama está um agente temporal interpretado por Ethan Hawke. Funcionário de uma agência secreta, ele usa uma mala especial para saltar entre décadas com a missão de impedir atentados atribuídos a um terrorista de codinome enigmático. Cada salto carrega o peso de ferimentos, cirurgias e dúvidas sobre causa e efeito.
Do outro lado surge o personagem vivido por Sarah Snook. A narrativa começa em um orfanato, passa por rígidos testes físicos e psicológicos, segue por corredores de hospital e desemboca em uma transformação de gênero que muda não apenas o corpo, mas também o registro civil. Em comum, ambos carregam cicatrizes – algumas visíveis, outras nem tanto.
O encontro que move o suspense
O roteiro engrena quando agente e desconhecido se esbarram em um bar de Nova York nos anos 1970. Entre drinques e olhares desconfiados, o visitante se apresenta como escritor disposto a contar “a melhor história já ouvida” em troca de bebida grátis. O atendente, sem imaginar o tamanho da encrenca, aceita.
Hawke, observador, entende ali uma chance rara: talvez aquele relato revele pistas sobre o terrorista que ele caça há anos. Surge então um acordo improvável: viajar juntos no tempo até o instante que detonou a ruína pessoal do narrador e, quem sabe, evitar a próxima grande explosão.
A lógica dos saltos temporais
Diferente de muitos filmes de ficção científica que despejam explicações técnicas, O Predestinado confia na inteligência do público. Mudanças sutis de luz, repetição de diálogos sob novos ângulos e reaparições de cenários dão conta de mostrar quando a linha temporal foi alterada.
Essa montagem fragmentada gera tensão constante: cada correção pode criar outra tragédia. O agente, guiado por ordens oficiais e motivos íntimos, precisa decidir em qual rua aparecer, que minuto atrasar ou qual conversa antecipar. O objetivo é sempre o mesmo: neutralizar o terrorista antes da detonação mais letal.
Regras, consequências e paradoxos
A mala temporal obedece a normas rígidas. Viagens só podem ocorrer para datas específicas, e há limite de permanência em cada época. Quebrar protocolos, além de colocar vidas em risco, ameaça a própria estrutura da agência responsável pelas missões. Mesmo assim, cada intervenção parece alimentar o ciclo de violência que se quer interromper.
Identidade em xeque do início ao fim
Questões sobre pertencimento, gênero e auto-reconhecimento permeiam todo o enredo. A trajetória da personagem de Sarah Snook — da infância em dormitório coletivo às salas cirúrgicas — espelha a busca por um lugar onde finalmente possa existir sem julgamentos. A reação da sociedade, no entanto, é marcada por estranhamento e exclusão.
Imagem: Divulgação
Para o agente, as fronteiras entre perseguidor e perseguido ficam cada vez mais borradas. Cicatrizes idênticas, gestos replicados e lembranças que não batem com arquivos oficiais apontam para uma verdade desconfortável: talvez ele esteja mais ligado ao alvo do que imagina.
Confronto final sem garantias
No clímax, o agente encontra a versão envelhecida do terrorista em um prédio abandonado. A cena mistura urgência operacional e dilema moral. Encerrar o caso promete aposentadoria tranquila; ouvir as explicações do inimigo pode revelar laços inesperados. Qualquer decisão, inclusive recuar, sela o destino dos dois.
Após o encontro, o longa segue para um desfecho que deixa perguntas em aberto. A mala continua ativa, missões burocráticas seguem, mas cada salto carrega o peso de tudo descoberto sobre ciclos temporais e limites do conserto.
Por que o filme volta a ganhar destaque na Netflix
O Predestinado reúne elementos que agradam ao público de novelas e doramas: relações cruzadas, viradas dramáticas e identidade em constante negociação. Na plataforma, o longa aparece como opção certeira para quem curte histórias de mistério carregadas de emoção, mas sem abrir mão de ritmo ágil.
Para o Salada de Cinema, a volta do título ao streaming ajuda a explicar o interesse renovado por produções que misturam ficção científica e drama intimista. Além disso, a presença de Ethan Hawke e Sarah Snook — antes mesmo de seu sucesso em Succession — chama a atenção de quem busca atuações intensas e cheias de nuances.
Ficha rápida
Título original: Predestination
Direção: Michael Spierig e Peter Spierig
Elenco principal: Ethan Hawke, Sarah Snook
Ano de lançamento: 2014
Gêneros: Ação, Drama, Ficção Científica, Thriller
Avaliação: 8/10
No catálogo da Netflix, O Predestinado permanece como convite para quem gosta de histórias que desafiam lógica, testam emoções e, de quebra, fazem o público revisitar cada pista em busca de sinais que estavam lá o tempo todo.


