Quase três décadas depois, ainda causa espanto lembrar da madrugada de 9 de agosto de 1996, quando um simples caldo de mariscos transformou os bastidores de Titanic, de James Cameron, em um cenário de pânico. O episódio, conhecido como “sopa misteriosa de Titanic”, levou o diretor, o ator Bill Paxton e mais de 60 membros da equipe para o hospital.
O caso ganhou status de lenda em Hollywood não só pelo número de vítimas, mas também porque jamais se descobriu quem misturou PCP, o “pó de anjo”, na refeição. A história permanece sem respostas oficiais e continua a intrigar fãs e profissionais do cinema, inclusive leitores do Salada de Cinema.
Sopa misteriosa de Titanic: o que aconteceu na madrugada de 9 de agosto
A equipe filmava em Halifax, costa atlântica do Canadá, onde parte das cenas do transatlântico era reconstruída. Após horas de gravação, o serviço de buffet ofereceu uma sopa de mariscos quente, opção rápida para aquecer o estômago no set em meio ao frio da madrugada.
Minutos depois da primeira colherada, risos incontroláveis, delírios visuais e crises de pânico tomaram conta do estúdio. Corredores viraram labirintos para quem estava sob efeito da droga. Cameron, febril, cambaleava ao lado de Bill Paxton, enquanto outros colegas se revezavam entre gargalhadas histéricas e gritos de socorro.
Como o envenenamento começou
Relatos dão conta de que um profissional, em completo delírio, tentou até mesmo atacar o diretor com uma caneta. O surto coletivo obrigou a produção a chamar ambulâncias às pressas. No total, mais de 60 pessoas foram encaminhadas ao hospital Queen Elizabeth II, em Halifax, onde receberam atendimento de emergência e hidratação intravenosa.
PCP confirmado em exames: droga estava no cardápio
Testes toxicológicos indicaram a presença de fenciclidina, o PCP, substância alucinógena dissociativa conhecida por causar confusão extrema, paranoia e força fora do normal. A Vigilância Sanitária descartou qualquer hipótese de intoxicação alimentar convencional: o ingrediente havia sido adicionado deliberadamente.
Uma vez confirmado o envenenamento, a polícia local abriu inquérito. Amostras da “sopa misteriosa de Titanic” foram coletadas, e funcionários do buffet prestaram depoimento. A suspeita inicial se voltou para um cozinheiro terceirizado ou um ex-funcionário demitido dias antes, possivelmente em busca de vingança.
Investigação paralisada sem culpados
Apesar do esforço das autoridades canadenses, o caso esfriou. Nenhum suspeito foi formalmente acusado e, em 1999, o inquérito acabou arquivado. A falta de câmeras de segurança na cozinha, somada à rotatividade de funcionários no set, dificultou a coleta de provas conclusivas.
Para a produção, o episódio significou alguns dias de atraso nas filmagens e novas regras de segurança alimentar. O estúdio passou a monitorar rigorosamente fornecedores e a selar recipientes até que chegassem às mesas dos integrantes da equipe.
Impacto na produção e lembranças 30 anos depois
Titanic chegou aos cinemas em dezembro de 1997 e se tornou um fenômeno mundial, vencendo 11 Oscars. Nos bastidores, porém, a “sopa misteriosa de Titanic” virou alerta permanente sobre os riscos aos quais equipes de filmagem podem estar expostas.
Imagem: Divulgação
Hoje, 30 anos depois, integrantes que estavam no local recordam a noite como um “pesadelo surreal”. Para muitos, a experiência de quase perder o controle da própria mente trouxe mais tensão que qualquer cena de naufrágio gravada em estúdio. O incidente permanece como uma âncora de perguntas sem resposta no fundo da memória coletiva de Hollywood.
Ficha técnica
Data do incidente: 9 de agosto de 1996
Local: Halifax, Canadá
Número de vítimas: Mais de 60 pessoas
Droga identificada: PCP (fenciclidina)
Principais afetados: James Cameron, Bill Paxton e equipe técnica
Situação da investigação: Arquivada em 1999, sem culpados


