Um estúdio envidraçado, luzes frias e monitores piscando: é nesse espaço apertado que ‘Setembro 5 na Netflix’ resolve contar, segundo a segundo, o atentado ocorrido durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Dirigido pelo suíço-alemão Tim Fehlbaum, o filme de 2024 usa o ponto de vista da equipe da ABC Sports para mostrar como notícias e imagens de terror invadem o roteiro esportivo numa madrugada que entrou para a história.
Peter Sarsgaard, John Magaro e Leonie Benesch conduzem o espectador por um drama que não sai de um único cenário, mas abala o mundo inteiro — e, com essa proposta claustrofóbica, a produção já garantiu indicação ao Oscar e a atenção dos assinantes que buscam no Salada de Cinema as novidades do streaming.
O longa alemão, disponível globalmente, mescla elementos de suspense, história e tragédia, mantendo a reconstituição fiel dos fatos sem se alongar em julgamentos ou análises políticas.
História real revisitada em ‘Setembro 5 na Netflix’
A narrativa cobre apenas 24 horas, começando na madrugada de 5 de setembro de 1972, quando um grupo armado invade a Vila Olímpica e faz atletas israelenses reféns. A produção reconstitui cada movimento com base em registros oficiais, depoimentos de jornalistas e gravações originais de TV.
Em vez de seguir os sequestradores ou a polícia, a trama permanece dentro da cabine de transmissão da ABC Sports, localizada a poucos metros do local do crime. A decisão de Fehlbaum coloca o público no centro dos dilemas éticos vividos pelos profissionais encarregados de informar sem provocar pânico.
Enredo acompanha bastidores da ABC Sports
Peter Sarsgaard interpreta Roone Arledge, executivo que insistia em tratar cada prova olímpica como espetáculo emocional. Nas primeiras cenas, ele manda cortar da vitória de um nadador para o rosto abatido do adversário alemão, convicto de que contrastes fortes prendem a audiência.
Quando chega a notícia do sequestro, a mesma lógica de show ameaça contaminar a cobertura. Arledge se vê diante de perguntas impensáveis algumas horas antes: até que ponto exibir a tragédia sem servir de vitrine para os terroristas?
Roone Arledge transforma esporte em espetáculo
Conhecido nos EUA por revolucionar a forma de transmitir eventos esportivos, Arledge precisa agora pesar, em tempo real, cada quadro que entra no ar. Entre ligações de patrocinadores e comunicados oficiais, o executivo ego confessa que ir “para fora” pode equivaler a abandonar reféns e público.
Pressão sobre Geoff Mason cresce a cada corte
Criado na pele de John Magaro, Geoff Mason assume o controle da mesa de edição minutos após o ataque. Sem preparação, ele recebe instruções fragmentadas da chefia, da polícia e de colegas em campo. Cada clique num botão pode salvar vidas ou agravar a situação.
Imagem: Divulgação
Tensão aumenta com rádio da polícia ao fundo
Leonie Benesch dá vida a Marianne, funcionária local bilíngue que traduz, ao vivo, as comunicações da polícia para inglês. O rádio crepita informações truncadas: número de sequestradores, estado dos reféns, avanços e recuos das forças de segurança.
A tradução simultânea serve de bússola para quem está na cabine, mas também evidencia como ruídos, pausas e contradições moldam a narrativa. A trilha sonora some em vários momentos, dando lugar ao zumbido dos equipamentos e ao som nervoso dos teclados.
Direção prende o espectador dentro da cabine
Para ampliar a sensação de confinamento, o diretor filma quase tudo por meio de reflexos em monitores, cabos emaranhados e janelas de vidro. O público só vê o que os operadores veem — jamais o corredor onde terroristas circulam, salvo por planos abertos e distantes.
O diretor de fotografia Markus Förderer reforça o clima com closes curtos nos rostos suados dos personagens, que, durante 90 minutos, não têm como escapar das próprias decisões. Quando o letreiro ON AIR se apaga, restam cinzeiros lotados, copos vazios e um relógio que continua marcando um tempo que parece não acabar.
Por que ‘Setembro 5 na Netflix’ virou favorito ao Oscar
Além da reconstituição minuciosa, o longa apresenta ritmo de thriller, atuação contida e roteiro que evita heroísmos fáceis. O resultado atraiu atenção imediata da Academia, rendendo ao título uma vaga entre os indicados internacionais.
A aposta de Fehlbaum num recorte limitado, mas emocionalmente expansivo, lembra sucessos recentes como ‘Oppenheimer’, que também focou em decisões cruciais tomadas em salas fechadas. Esse enfoque, somado ao apelo universal da Olimpíada de Munique, cria empatia global sem precisar recorrer a imagens explícitas de violência.
Ficha técnica
Título original: September 5
Direção: Tim Fehlbaum
Elenco principal: Peter Sarsgaard (Roone Arledge), John Magaro (Geoff Mason), Leonie Benesch (Marianne)
Ano de produção: 2024
Nacionalidade: Alemanha/Suíça
Gênero: Drama, História, Thriller, Tragédia
Duração: 1h 50min
Plataforma: Netflix
Avaliação prévia: 9/10


