Foundation: a space opera da Apple TV+ que recoloca a ficção científica nos trilhos

Thais Bentlin
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A ficção científica sempre foi terreno fértil para grandes ideias, mas nem todo ano entrega um título capaz de empolgar quem gosta de aventuras interplanetárias. Nos últimos tempos, cyberpunk, distopias climáticas e thrillers psicológicos dominaram o gênero, deixando o espaço sideral um pouco de lado.

É nesse vácuo que Foundation, produção da Apple TV+, surge para lembrar por que a space opera ocupa lugar especial no coração dos fãs. Com escopo gigantesco, a série adapta o clássico de Isaac Asimov e mostra que ainda há muito céu para explorar quando se conecta enredo cerebral, efeitos de cinema e personagens complexos.

Foundation prova que a space opera continua fundamental

Lançada em setembro de 2021, Foundation preenche todos os requisitos do subgênero: impérios galácticos, crises políticas e um conflito que atravessa séculos. A trama acompanha o matemático Hari Seldon, criador da psico-história, teoria capaz de prever o colapso de uma civilização que se estende por inúmeros planetas. Para evitar a barbárie, Seldon propõe a criação de uma Fundação encarregada de preservar o conhecimento humano.

Enquanto isso, a dinastia Cleon mantém o trono com três clones do mesmo imperador — Irmão Amanhecer, Irmão Dia e Irmão Crepúsculo — cada qual em fase diferente da vida. Essa escolha narrativa reflete discussões sobre identidade, poder hereditário e até clonagem, temas que ressoam com questões contemporâneas. Ao combinar ciência dura, dilemas filosóficos e intriga palaciana, Foundation entrega mais do que batalhas espaciais: oferece reflexão sem perder o fôlego do entretenimento.

O investimento da Apple TV+ salta aos olhos. Cada planeta exibe arquitetura própria, figurinos elegantes e fotografia que alterna entre o minimalismo tecnológico e paisagens que lembram épicos medievais. A direção, dividida entre nomes como Alex Graves e Roxann Dawson, consegue equilibrar ação física e debates intelectuais, mantendo o ritmo necessário para prender o público do primeiro ao último minuto.

Por que a Apple TV+ era o lar ideal para Foundation?

Diferente de concorrentes que apostam em volume, a Apple TV+ foca em curadoria. Isso explica como a plataforma encontra espaço tanto para dramas intimistas quanto para projetos ambiciosos, caso de Silo, Severance e For All Mankind. Com Foundation, o investimento alto em efeitos visuais e roteiros complexos se justifica: a série exige cenários grandiosos e cronogramas de gravação flexíveis para lidar com múltiplas linhas do tempo.

Se estivesse em um serviço que valoriza quantidade, é provável que a adaptação dos livros de Asimov fosse comprimida ou ficasse sem verba suficiente. A Apple trata a space opera como peça-chave de seu catálogo, garantindo liberdade criativa ao showrunner David S. Goyer. Resultado: tramas paralelas se desenvolvem sem pressa, permitindo ao espectador mergulhar em religiões futuras, rebeliões e reviravoltas políticas que dão sabor único à produção.

Para quem acompanha novelas e doramas, acostumados a histórias longas e cheias de reviravoltas, Foundation oferece sensação familiar: personagens que mudam de lado, amores proibidos, traições familiares e até triângulos de poder dignos de um folhetim. O Salada de Cinema, sempre de olho em boas narrativas, destaca como a série alia melodrama e especulação científica, conquistando públicos diversos.

Além disso, a Apple não descuida do elenco. Lee Pace domina a tela como Irmão Dia, entregando autoridade e vulnerabilidade em doses iguais. Jared Harris injeta carisma no cerebral Hari Seldon, enquanto Laura Birn, como a androide Demerzel, questiona limites de lealdade e livre-arbítrio. Esses nomes, somados a novatos cheios de energia, renovam a mitologia criada há mais de 70 anos.

Com recepção positiva — a média crítica oscila entre 8 e 8,5 em grandes agregadores —, Foundation reforça que a TV pode superar o cinema quando o assunto é construir universos complexos. A segunda temporada ampliou a escala e a terceira, já confirmada, promete avançar 150 anos no futuro, sem abandonar o jogo de xadrez político que mantém tensão constante.

Enquanto o mercado busca a “próxima grande série”, Foundation já cumpre o papel de embaixadora da space opera moderna. Se as concorrentes aprenderem a lição, o público poderá acompanhar mais viagens estelares com qualidade digna de tela grande — mas acessíveis no conforto da sala.

Até lá, quem procura uma ficção científica grandiosa encontra em Foundation um motivo legítimo para maratonar. Basta ajustar a playlist, apagar as luzes e embarcar nessa jornada que prova, episódio após episódio, que o futuro da ciência, da política e da humanidade continua sendo matéria-prima inesgotável para a imaginação.

Foundation: a space opera da Apple TV+ que recoloca a ficção científica nos trilhos - Imagem do artigo original

Imagem: Divulgação

FICHA TÉCNICA

Título original: Foundation

Gênero: Drama, Ficção científica, Space opera

Plataforma: Apple TV+

Data de estreia: 23 de setembro de 2021

Showrunner: David S. Goyer

Diretores principais: Alex Graves, Roxann Dawson, Jennifer Phang, Mark Tonderai, Andrew Bernstein

Elenco principal: Jared Harris (Hari Seldon); Lee Pace (Brother Day); Laura Birn (Demerzel)

Classificação indicativa: TV-MA

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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