A segunda leva de episódios de Fallout chega prometendo mostrar mais cidades devastadas, criaturas mutantes e tecnologia retrô-futurista do que nunca. Essa ambição visual agrada quem joga a franquia há décadas e também fisga novos espectadores curiosos pelo caos radiante do pós-guerra nuclear.
Entretanto, quanto mais o mapa cresce, maiores ficam as chances de o enredo se desalinhar. A produção criou histórias inéditas dentro do cânone dos games e, agora, precisa provar que consegue manter todos os personagens relevantes — tarefa que outras adaptações de videogame driblaram ao focar em duplas ou trios centrais.
Fallout temporada 2 aposta alto na expansão do cenário, mas paga o preço da fragmentação
A série abraça a liberdade de contar uma trama própria, sem reencenar missões clássicas dos jogos. Esse caminho rendeu fan service criativo, como a origem do logo Vault Boy, mas também exige rigor para juntar tantas peças. Na nova temporada, Lucy segue caçando o pai, Hank, que opera planos obscuros em Las Vegas enquanto veste uma poderosa armadura. Ao mesmo tempo, o Ghoul acredita que Hank o levará até sua família, e Maximus, ressentido, se isola dentro da Irmandade de Aço.
Essa pulverização geográfica e emocional coloca o público diante de cinco ou seis linhas narrativas paralelas. O showrunner Jonathan Nolan precisa costurar todos esses pontos sem sacrificar a empatia pelos protagonistas. Se o espectador não sentir o peso das decisões de Lucy ou o conflito interno de Maximus, as cenas de ação e os novos monstros perderão impacto.
Comparação com outras adaptações revela o desafio inédito de Fallout
The Last of Us e Twisted Metal demonstram que um mundo rico funciona melhor quando gira em torno de poucos rostos. A primeira temporada de The Last of Us focou no vínculo Joel-Ellie; Twisted Metal preferiu acompanhar John e Quiet na corrida pelo torneio. Fallout temporada 2, em contrapartida, assume formato de ensemble e corre o risco de transformar cada arco em uma aventura quase isolada. O público do Salada de Cinema, acostumado a folhetins cheios de reviravoltas, sabe que a emoção nasce do choque entre personagens, não apenas de cenários espetaculares.
Mesmo com a chegada de antagonistas famosos, como o empresário Sr. Robert House, a fórmula não se sustenta se faltar uma linha-mestra clara. Lucy e o Ghoul formam o que poderia ser o “lobo solitário e filhote” da vez, só que a dupla fica separada boa parte do tempo. Sem essa espinha dorsal, o seriado pode virar um amontoado de side quests dignas do game, mas pouco eficazes para TV.
Imagem: Divulgação
Do ponto de vista técnico, a produção mantém o padrão cinematográfico, com direção de arte caprichada e maquiagem convincente para mutantes. No entanto, a real vitória será equilibrar espetáculo e sentimento. Se conseguir alinhar destinos de Lucy, Hank, Maximus e Norm num clímax forte, Fallout temporada 2 provará que seu mundo gigante não é inimigo da boa dramaturgia.
Por outro lado, caso cada personagem continue vagando por conta própria, a temporada pode reproduzir a sensação de se perder em um mapa gigantesco, sem bússola narrativa. Os próximos episódios dirão se a franquia encontrará o mesmo fio condutor que fez de The Last of Us um sucesso global ou se ficará conhecida como o sandbox mais bonito, porém menos emocional, do streaming.
No fim das contas, o Prime Video tem em mãos um universo rico, capaz de render muitas temporadas, quadrinhos e até spin-offs. A questão imediata, porém, é garantir que todo esse potencial não se dilua em excesso de informação. Fallout temporada 2 está no limiar entre a obra-prima visual e o quebra-cabeça complacente. A plateia já viu que o mundo é vasto; agora, quer sentir que cada jornada converge para algo que valha a viagem.
Ficha técnica
Título original: Fallout
Plataforma: Prime Video
Gênero: Ficção científica, ação, drama
Estreia da 2ª temporada: ainda sem data oficial
Criadores: Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner
Showrunners: Lisa Joy e Jonathan Nolan
Elenco principal: Ella Purnell (Lucy), Aaron Moten (Maximus), Walton Goggins (The Ghoul), Kyle MacLachlan (Hank)
Classificação indicativa: 18 anos


