Corpos que insistem em impor limites e mentes que desafiam cada um deles: esse é o ponto de partida de Girl, longa belga de 2018 que estreou no catálogo da Netflix. Dirigido por Lucas Dhont, o filme acompanha Lara, interpretada por Victor Polster, em meio a treinos exaustivos de balé e ao processo de transição hormonal.
Com ritmo contido e olhar quase documental, Girl evita discursos prontos, optando por registrar silenciosamente a rotina da protagonista. A decisão de focar no cotidiano – e não em grandes reviravoltas – resulta em um drama belga na Netflix que provoca reflexão sem recorrer a explicações mastigadas.
Do que trata o drama belga na Netflix
Lara tem 15 anos, mudou de cidade, de escola e de companhia de dança. A cada amanhecer, ela veste collant, amarra as fitas das sapatilhas e encara aulas em que a perfeição técnica é norma. Paralelamente, intensifica o uso de hormônios para adequar o corpo à identidade de gênero.
O drama belga na Netflix apresenta esses dois eixos – arte e transição – como linhas que se cruzam o tempo todo. Dhont mostra que, para Lara, evoluir nos giros e pliés é tão urgente quanto ver o espelho refletir quem ela sente ser.
Corpo em transformação, disciplina extrema
Girl escancara a colisão entre exigências físicas do balé e as alterações provocadas pelos hormônios. Sangue dentro das sapatilhas, bolhas nos pés e hematomas tornam-se quase comuns. Ainda assim, Lara não reduz o ritmo e aceita a dor como etapa de um processo maior.
Victor Polster interpreta cada gesto com precisão, evitando sentimentalismo. Ao permanecer contido, o ator evidencia a racionalização do sofrimento da personagem, caracterizando o drama belga na Netflix como uma produção que recusa melodrama fácil.
Sequências que prendem a respiração
Algumas cenas transformam tarefas simples – como tomar banho em vestiários coletivos – em momentos de tensão quase insuportável. O diretor usa planos fechados para evidenciar desconfortos que o mundo exterior raramente percebe, reforçando o peso de cada pequeno passo.
Núcleo familiar sustenta o roteiro
Dentro de casa, o pai Mathias, vivido por Arieh Worthalter, mantém apoio firme, mas sabe que há fronteiras que não pode atravessar. Já o irmão caçula, Milo, representa lembranças de uma infância que ainda não conhece tantas fissuras.
Esse ambiente doméstico funciona como porto seguro, ainda que o filme escolha não mergulhar profundamente nas emoções individuais de cada parente. A trama permanece concentrada na protagonista, sublinhando a solidão que envolve processos de autodescoberta.
Imagem: Divulgação
Representatividade em debate
A escolha de um ator cisgênero para interpretar Lara gerou discussões nas redes sociais. No entanto, a narrativa não se propõe a criar tese sobre representatividade; ela se restringe à experiência singular da personagem.
Assim, o debate sobre elenco acontece fora da tela, enquanto o drama belga na Netflix continua a acompanhar Lara sem assumir pretensão de falar por todas as pessoas trans. Essa opção pode frustrar quem busca respostas universais, mas mantém o foco no percurso íntimo da protagonista.
Balé como metáfora de dor e superação
Dentro dos estúdios, a diretora da companhia acentua cobranças, tornando claro que nenhum triunfo vem sem sacrifício. Só que Girl mostra que a dor física dos ensaios reflete dilemas internos: cada arabesque falho ou salto mal executado expõe dúvidas sobre limites pessoais.
Por isso, muitos críticos apontam a dança como lente precisa para observar a relação entre corpo e identidade. No Salada de Cinema, destacamos como essa fusão entre disciplina artística e busca por autenticidade transforma o longa em experiência visceral.
Detalhes de produção
- Título original: Girl
- Direção: Lucas Dhont
- Ano: 2018
- Gênero: Drama
- Avaliação média: 9/10
- Elenco principal: Victor Polster, Arieh Worthalter, Oliver Bodart
Um final que interrompe mais do que encerra
Sem grande catarse, o desfecho chega abrupto, reforçando a ideia de que certas rotas não terminam; apenas se reorganizam em fases futuras. A ausência de resolução definitiva ecoa a instabilidade de quem equilibra pressões técnicas, biológicas e sociais.
Com pouco mais de 100 minutos, Girl deixa perguntas em aberto e convida o espectador a conviver com o incômodo. Essa escolha consolida o drama belga na Netflix como obra que valoriza o não-dito, preferindo mostrar dúvidas em suspensão a oferecer respostas fáceis.


