Chegou à Netflix o longa Brightburn: Filho das Trevas, produção de 2019 que aplica uma lente de horror sobre o arquétipo do menino destinado a salvar o mundo. O resultado é um suspense que, em vez de enaltecer feitos heroicos, revela o lado sombrio de um poder absoluto nas mãos de um pré-adolescente.
Dirigido por David Yarovesky e estrelado por Jackson A. Dunn, Elizabeth Banks e David Denman, o filme propõe ao público uma pergunta incômoda: o que acontece quando a esperança depositada em alguém especial se transforma em ameaça? A narrativa aponta essa desilusão e constrói uma atmosfera que mantém o espectador em constante alerta.
Premissa que vira o mito do herói do avesso
Em Brightburn: Filho das Trevas, o casal Tori e Kyle Breyer encontra um bebê após a queda de um objeto do céu em sua fazenda no Kansas. A criança, batizada de Brandon, cresce cercada de carinho, mas demonstra sinais de força sobre-humana ao chegar à puberdade. O longa acompanha a descoberta desse poder e a consequente ruptura de laços familiares.
A trama inverte a expectativa popular de que habilidades extraordinárias venham acompanhadas de altruísmo. Brandon logo percebe que o mundo ao redor não pode detê-lo e, em vez de assumir um papel nobre, dá início a pequenos atos de crueldade que evoluem para violência mortal. A narrativa mantém foco no impacto dessa virada dentro de casa, sem recorrer a explicações detalhadas sobre a origem extraterrestre do garoto.
Personagens centrais e atuações marcantes
Jackson A. Dunn interpreta Brandon com uma calma que contrasta com seus atos brutais. O jovem ator sustenta a dualidade entre aparência inocente e comportamento predatório, elemento essencial ao terror psicológico que sustenta Brightburn: Filho das Trevas.
Elizabeth Banks, no papel da mãe Tori, encarna a fé inabalável de quem prefere negar qualquer indício de perversidade no filho. A atriz passa da ternura ao desespero e ajuda a intensificar a angústia do público. Já David Denman vive Kyle, pai que reconhece cedo o risco representado pelo garoto e tenta impor limites, revelando medo crescente diante do poder incontrolável.
Violência calculada e clima de horror próximo
O filme adota uma progressão direta: cada incidente amplia a sensação de perigo na pequena cidade onde os Breyer residem. As mortes são poucas, porém construídas meticulosamente para causar impacto. A escolha da direção enfatiza o silêncio antes dos ataques, ampliando o desconforto sem recorrer a sustos fáceis ou efeitos exagerados.
Imagem: Divulgação
Ao posicionar a violência no ambiente doméstico e escolar, a produção reforça a ideia de que o horror se torna mais intenso quando alcança lugares familiares. Brightburn: Filho das Trevas explora essa proximidade para manter o suspense constante, destacando que a ameaça não vem de fora, mas do interior da própria família.
Direção, produção e escolhas narrativas
David Yarovesky opta por um roteiro enxuto, concentrado no desgaste das relações e na escalada de crueldade de Brandon. A ausência de uma explicação profunda sobre a origem do protagonista ajuda a manter o foco na dinâmica familiar, elemento que diferencia Brightburn de outros títulos de super-herói e terror.
A fotografia privilegia tons escuros e ambientes rurais, reforçando a sensação de isolamento. Já a trilha sonora pontua momentos de tensão sem sobrecarregar as cenas, permitindo que o vazio emocional do antagonista se destaque. A produção se apoia em efeitos visuais discretos, suficientes para ilustrar o poder do garoto sem desviar a atenção do drama.
Recepção, detalhes técnicos e disponibilidade
Lançado em maio de 2019, Brightburn: Filho das Trevas recebeu avaliação 8/10 na escala apontada pela fonte original. O longa tem 1 hora e 30 minutos de duração e combina elementos de drama, mistério e terror. Disponível no catálogo brasileiro da Netflix, a obra ganhou nova projeção ao chegar ao serviço de streaming, ampliando o debate sobre sua proposta de desconstruir o mito do herói.
Para quem acompanha de perto lançamentos comentados aqui no Salada de Cinema, vale destacar que Brightburn: Filho das Trevas oferece uma alternativa sombria às narrativas convencionais de superpoderes. O filme convida o público a refletir sobre os perigos de um poder sem empatia, fazendo da própria casa o palco central de seu suspense.


