Amazon MGM confirmou que o universo Stargate voltará à TV, mas ainda há dúvidas sobre qual rumo a produção seguirá. O anúncio reacendeu a discussão sobre como fazer um reboot relevante em plena era do streaming, marcada por orçamentos altos e público exigente.
Nesse cenário, Battlestar Galactica, relançada em 2004 por Ronald D. Moore, surge como principal estudo de caso. A série transformou uma aventura camp dos anos 1970 em um drama sofisticado, reconhecido até hoje como um divisor de águas na ficção científica televisiva.
O que Battlestar Galactica ensina ao reboot de Stargate
Lançada em 2004, Battlestar Galactica ganhou status de “primeira série de prestígio” do gênero ao investir em fotografia sombria, conflitos morais complexos e efeitos visuais de cinema. A produção captou o espírito pós-11 de Setembro e entregou discussões sobre política, fé e tecnologia, mantendo ação e suspense em cada episódio.
Algumas escolhas foram cruciais. A antiga raça inimiga, os Cylons, deixou de ser apenas robôs cromados e passou a assumir formas humanas, permitindo debates sobre identidade e ética. Os protagonistas, antes arquétipos simples, tornaram-se figuras cheias de falhas, caso de Gaius Baltar, que migrou de vilão caricatural para anti-herói perturbado. Esses elementos provaram que a ficção científica pode tratar de problemas contemporâneos sem perder entretenimento.
Para o reboot de Stargate, que chegará direto ao Prime Video, a lição principal é apostar em relevância temática. A franquia original se destacou nos anos 1990 e 2000, sobretudo com Stargate SG-1, mas raramente mergulhou em dilemas filosóficos profundos. Atualizar o conflito central, abrindo espaço para debates sobre colonização espacial, inteligência artificial e crises de refugiados, pode atrair novos públicos sem afastar fãs antigos.
Produção, tom e personagens: três pilares para o sucesso
Há três frentes em que a Amazon pode se inspirar no case Battlestar Galactica:
Imagem: Divulgação
- Produção de alto nível: Moore elevou o patamar de design de naves, batalhas e cenários. Para o reboot de Stargate, efeitos de última geração e direção de arte mais realista são indispensáveis, sobretudo para competir com Star Wars e Star Trek, hoje frequentes no streaming.
- Tom mais sombrio: Ao abandonar a leveza dos anos 1970, Battlestar Galactica trouxe um clima de urgência que ampliou o envolvimento do público. Inserir tensão política e riscos reais dentro do reboot de Stargate pode tornar cada viagem pelo portão um evento imperdível.
- Personagens complexos: A transformação dos Cylons e de Baltar mostrou que antagonistas e heróis podem trocar de lugar. Estender essa nuance a figuras conhecidas, como Teal’c ou uma nova geração de exploradores, dará longevidade às tramas.
Mesmo não sendo exatamente um “reinício” — a Amazon planeja uma história original no mesmo universo —, seguir essas estratégias permitirá que o reboot de Stargate seja mais do que nostalgia. A própria plataforma precisa de um grande espaço-opera contínuo após o fim de The Expanse, e a franquia criada por Roland Emmerich oferece terreno fértil para isso.
Ronald D. Moore provou, há quase 20 anos, que é possível reformular conceitos envelhecidos sem perder sua essência. Se os produtores de Stargate absorverem essa abordagem — atualizando temas, aprofundando personagens e caprichando na estética — a série poderá não apenas honrar seu passado, mas também liderar a próxima fase da ficção científica televisiva, atraindo inclusive quem costuma acompanhar novelas e doramas em busca de narrativas humanas e envolventes. A equipe do Salada de Cinema ficará de olho nos próximos passos dessa jornada.
Ficha Técnica
- Título original: Battlestar Galactica
- Exibição: 2004 – 2009 (SyFy)
- Criação: Ronald D. Moore
- Principais atores: Edward James Olmos, Mary McDonnell
- Gênero: Ação, Drama, Ficção Científica, Guerra
- Nota agregada: 9/10
- Próximo projeto: Reboot de Stargate (Prime Video, data a definir)


