Anne Hathaway veste disciplina impecável, Rebel Wilson aposta na espontaneidade barulhenta. Juntas, as duas transformam a idílica Riviera Francesa em campo de batalha para ver quem aplica o golpe mais lucrativo em As Trapaceiras, longa lançado em 2019.
Com direção de Chris Addison e distribuição da Netflix, a produção recicla o enredo de Os Safados (1988) sem tirar o pé do acelerador: são 94 minutos de rivalidade, golpes e humor ligeiro, perfeito para aquele fim de semana preguiçoso no sofá.
Rivalidade é o motor de As Trapaceiras
No centro da trama, Josephine Chesterfield (Anne Hathaway) ostenta o rótulo de golpista refinada. Ela domina a arte de encantar milionários graças a uma fachada de elegância e um repertório de histórias inventadas com precisão cirúrgica.
O equilíbrio do império clandestino ruge quando Penny Rust (Rebel Wilson) desembarca na mesma região com métodos bem menos discretos. Criada nos trambiques de rua, Penny enxerga na Riviera um alvo gordo demais para deixar passar e, logo de cara, entra em rota de colisão com Josephine.
Aposta transforma crime em competição esportiva
Para manter o próprio território intacto, Josephine inicialmente tenta treinar — e controlar — a novata. O plano, porém, sai do trilho quando as personalidades se chocam. Surge então uma aposta simples: quem enganar primeiro um jovem bilionário da tecnologia leva tudo, quem perder sai de cena.
Essa mecânica dá a As Trapaceiras ritmo esportivo. Cada golpe executado vira um ponto na disputa, cada improviso mal-sucedido funciona como cartão amarelo. O alvo, interpretado por Alex Sharp, reúne fortuna, ingenuidade e carência emocional, combinação perfeita para duas mestres da mentira.
Luxo como fachada para o jogo sujo
A paisagem mediterrânea de iates, cassinos e hotéis cinco estrelas serve menos como cartão-postal e mais como contraste. Quanto mais impecável a superfície, mais evidente fica a sujeira dos bastidores, onde pequenos gestos calculados decidem quem sai com a carteira cheia.
Chris Addison não aprofunda suspense. Ele prefere o prazer imediato do choque entre as atrizes: quando Josephine tenta controlar o tempo, Penny atropela o cronômetro; quando a veterana exibe vocabulário rebuscado, a rival recorre à vulnerabilidade escancarada. Essa troca constante mantém o público atento sem exigir quebra-cabeças complicados.
Refilmagem de Os Safados troca gênero e renova o jogo
As Trapaceiras é refilmagem direta de Os Safados, comédia de 1988 estrelada por Michael Caine e Steve Martin. A mudança de protagonistas homens para mulheres não é mero detalhe de elenco. Ela altera a dinâmica de poder e adiciona camadas de subestimação: em um meio dominado por aparências, ser vista como “inofensiva” vira arma silenciosa.
Imagem: Divulgação
Além disso, a nova versão investe em humor físico e falas rápidas, mantendo a estrutura de rivalidade em cenário luxuoso, mas com diálogos ajustados ao ritmo atual de consumo — algo que funciona bem para a audiência da Netflix e para quem acompanha o Salada de Cinema em busca de boas dicas.
Elenco é responsável pelo brilho da produção
Anne Hathaway constrói Josephine à base de postura ereta, entonação calculada e olhar que mede cada centímetro da vítima. Já Rebel Wilson ocupa espaço com naturalidade ruidosa, soltando piadas e improvisos que quebram o verniz de elegância ao redor.
O contraste entre as duas sustenta a narrativa até o último minuto. Nenhuma se encolhe para que a outra brilhe; o brilho é a própria disputa. Alex Sharp, por sua vez, interpreta o bilionário idealista com a ingenuidade necessária para que os golpes façam sentido.
Formato enxuto favorece entretenimento rápido
Com 94 minutos, As Trapaceiras evita gordura narrativa. Essa escolha acelera a rivalidade e impede que a piada central perca força por repetição, embora deixe pouco espaço para mergulhar em consequências morais mais profundas.
No fim, o filme se mostra satisfeito em exibir o funcionamento do estelionato como ofício: repertório de histórias prontas, leitura rápida de desejos alheios e a certeza de que, em território de luxo, aparência vale tanto quanto cheque assinado.
Tecnicamente simples, efeito imediato
Addison mantém a câmera focada no confronto verbal, evitando saltos visuais rebuscados. A trilha sonora acompanha o clima leve, e os figurinos reforçam a oposição entre o refinamento de Josephine e a abordagem casual de Penny. O resultado não reinventa o gênero, mas entrega o que promete: humor ágil e competição constante.
Fixa técnica
Filme: As Trapaceiras
Direção: Chris Addison
Ano de lançamento: 2019
Gênero: Comédia / Crime
Duração: 94 minutos
Elenco principal: Anne Hathaway, Rebel Wilson, Alex Sharp
Onde assistir: Disponível no catálogo da Netflix
Avaliação média: 8/10


