Shu-Fen volta para Taipei levando as duas filhas depois que o ex-marido adoece e as dívidas batem à porta. A capital taiwanesa não oferece tapete vermelho: ela precisa manter um pequeno box de comida em um mercado noturno enquanto administra pressões familiares que parecem nunca parar.
É nesse cenário que “A Garota Canhota” se desenvolve, filme de 2025 que acaba de chegar ao catálogo global da Netflix. Dirigido por Shih-Ching Tsou, o drama aborda a rotina de uma mãe exausta e de duas adolescentes presas a expectativas rígidas, tudo embalado por um realismo que conquistou nota 9/10 em avaliações iniciais.
Contexto e enredo de “A Garota Canhota”
A história gira em torno de Shu-Fen, vivida por Janel Tsai, que precisa recomeçar a vida ao lado das filhas I-Ann (Shih-Yuan Ma) e I-Jing (Nina Ye). A mudança para a casa dos pais coloca toda a família sob códigos tradicionais que ignoram a crise financeira do trio. Ao mesmo tempo, revela o conflito entre gerações sobre como educar crianças na metrópole moderna.
I-Ann tenta levantar algum dinheiro como betel nut beauty — profissão comum em estradas de Taiwan, onde jovens vendem nozes em bancas iluminadas. O trabalho, porém, cobra seu preço emocional, principalmente quando ela se envolve com um homem casado na busca frustrada por validação. Já a irmã mais nova, I-Jing, passa a rejeitar a própria mão esquerda após comentários supersticiosos do avô, que vê na dominância sinistra um “mau presságio”.
O papel da mãe em meio à tensão
Enquanto as filhas enfrentam seus dilemas, Shu-Fen se equilibra entre manter o negócio de comida e segurar a culpa por não atender às demandas afetivas das garotas. Brando Huang interpreta Johnny, vizinho de barraca que ilustra outro modo de lidar com o mesmo caos econômico, criando um contraponto à rigidez que cerca a protagonista.
Dinâmica familiar e críticas sociais
O roteiro, assinado pela própria diretora, evita exageros melodramáticos. Em vez disso, apresenta pequenas fissuras que expõem a fragilidade das relações domésticas. Um dos momentos mais tensos ocorre quando as irmãs caminham pela feira noturna e I-Ann deixa escapar uma frase que redefine a percepção sobre suas motivações.
A precariedade financeira surge como detalhe cotidiano: contar moedas, negociar prazos, aceitar comentários invasivos dos clientes. Elementos que lembram o leitor do Salada de Cinema de que, em “A Garota Canhota”, o dinheiro nunca é apenas pano de fundo — ele molda cada gesto, cada silêncio.
Vínculos que resistem a rachaduras
Não há vilões claros no longa. O avô, por exemplo, reproduz crenças culturais sem perceber o impacto devastador nos netos. Os irmãos de Shu-Fen também impõem comparações cruéis, mas o fazem a partir de expectativas sociais arraigadas. A força do filme está justamente em humanizar todos os lados, evitando caricaturas.
Desfecho sem respostas fáceis
Quando um episódio grave coloca as duas meninas em risco, Shu-Fen finalmente encara o acúmulo de frustrações que vinha empurrando para debaixo do tapete. O final não oferece redenções rápidas, e sim a constatação de que alguns laços sobrevivem porque aprendem a conviver com trincas profundas.
Imagem: Divulgação
Essa escolha narrativa sublinha o ponto-chave de “A Garota Canhota”: estabilidade existe, mas é sempre provisória. A mãe, a adolescente e a criança continuam carregando marcas, porém agora entendem melhor os próprios limites e a importância de cuidar umas das outras.
Elenco principal e ficha técnica
- Direção: Shih-Ching Tsou
- Elenco: Janel Tsai (Shu-Fen), Shih-Yuan Ma (I-Ann), Nina Ye (I-Jing), Brando Huang (Johnny)
- Ano de produção: 2025
- Gênero: Drama
- Duração: 1h58
- Avaliação média: 9/10
Por que assistir agora?
Com a estreia na Netflix, “A Garota Canhota” amplia a presença de títulos asiáticos no streaming, atraindo fãs de novelas e doramas que buscam histórias intimistas. A combinação de sutileza emocional e realismo pungente coloca o filme na mesma prateleira de produções que exploram vínculos familiares sob pressão, como “A Família Mitchell” ou “Minari”.
Para quem procura um drama sem maniqueísmos, a obra de Shih-Ching Tsou se mostra opção valiosa. O longa transcende as diferenças culturais ao retratar dilemas universais: o medo de falhar como mãe, a urgência de se afirmar na adolescência e o pavor infantil de não ser aceito. Tudo isso embalado por uma fotografia discreta e atuações contidas.
Recepção crítica e impacto cultural
A imprensa especializada elogiou a forma como “A Garota Canhota” evita discursos didáticos sobre desigualdade social, optando por mostrar o problema na prática diária. Alguns veículos destacam ainda a direção sensível de Tsou, capaz de transformar o mercado noturno de Taipei em personagem vivo, repleto de luzes, ruídos e possibilidades.
Com a chegada ao catálogo mundial, cresce a expectativa de que o público ocidental reconheça nuances culturais pouco vistas em produções mais comerciais. A narrativa, ancorada na relação entre mães e filhas, reforça a tendência da Netflix de investir em histórias locais com potência global.
Onde assistir
O filme está disponível exclusivamente na Netflix em todos os países onde o serviço opera. Basta uma busca rápida pelo título para iniciar a sessão e conferir por que “A Garota Canhota” vem ganhando atenção nas redes sociais desde a estreia.
Conclusão
Sem grandes reviravoltas, mas cheio de pequenos abalos, o drama “A Garota Canhota” oferece um retrato honesto de como as tensões familiares podem crescer silenciosamente. Seja pela performance intensa de Janel Tsai ou pelo olhar compassivo de Shih-Ching Tsou, o longa já se destaca como um dos dramas asiáticos mais relevantes do ano, merecendo lugar de destaque no catálogo da Netflix e no radar de quem acompanha o universo dos doramas.


