Os fãs que aguardavam um aparecimento do Time Lord em The War Between the Land and the Sea podem se preparar para a frustração.
A produção, nova aposta dentro do universo de Doctor Who, praticamente ignora o personagem-título: o máximo que se ouve são breves menções ao viajante do tempo.
Em vez disso, o enredo mergulha em disputas políticas bem terrenas – ou melhor, aquáticas – deixando as viagens no tempo em segundo plano.
A escolha, segundo os showrunners, serve para dar identidade própria ao spin-off.
Sem a sombra do Doutor, figuras como Barclay, Salt e Kate Lethbridge-Stewart ganham espaço para brilhar.
Ainda assim, justificar a ausência do herói em termos de continuidade não é tarefa simples, principalmente após o final do 60º aniversário, que prendeu o Décimo Quarto Doutor na Terra com sua TARDIS.
Por que The War Between the Land and the Sea deixa o Doutor fora de cena
Em séries passadas – Torchwood e The Sarah Jane Adventures – bastava dizer que o Doutor estava ocupado salvando abelhas em algum planeta distante.
Agora, essa desculpa perdeu validade. O especial de 60 anos mostrou o Décimo Quarto Doutor decidindo viver permanentemente no nosso planeta, TARDIS inclusa.
Ou seja, em tese ele está sempre de plantão para qualquer ameaça, de plásticos assassinos a deuses egípcios do caos.
Diante desse contexto, o roteiro de The War Between the Land and the Sea opta por outra saída: afirmar que o Time Lord deve proteger, mas não conduzir o destino da humanidade.
O argumento encontra resistência na própria história da franquia. O Terceiro, o Quinto e o Décimo Primeiro Doutores já atuaram como mediadores entre humanos, Silurianos e Sea Devils.
Logo, por que ele ignoraria agora a ofensiva dos Homo aqua, ancestral espécie marinha que decide reivindicar território?
A resposta oficial do spin-off passa por um discurso de autodeterminação terrestre, algo do tipo “a Terra precisa aprender a andar com as próprias pernas”.
Contudo, a explicação mais crível, segundo analistas dentro do próprio cânone, é bem menos inspiradora: depois de tantas tentativas fracassadas de negociar paz entre terra e mar, o Doutor simplesmente conclui que sua intervenção só pioraria a situação.
Em outras palavras, ele estaria exausto de ver acordos desmoronarem em massacres, como aconteceu quando o Brigadier explodiu os Silurianos na era Pertwee.
A lógica canônica para a ausência do Time Lord
Seja qual for a face atual – Décimo Quarto, Décimo Sexto ou qualquer outra regeneração futura –, é inconcebível que o Doutor não perceba a escalada do conflito.
Portanto, a única justificativa que se sustenta é a sua decisão consciente de ficar fora. Ele julga que, desta vez, sua presença geraria mais violência ou, no máximo, não faria diferença.
A UNIT estaria agradecida por ajuda extra, mas o viajante do tempo prefere confiar que Barclay e Kate darão conta do recado, enquanto observa de longe.
Imagem: Divulgação
Para o público de The War Between the Land and the Sea, essa escolha narrativa permite explorar um drama político mais pé no chão, ainda que recheado de “pessoas-peixe”.
E, convenhamos, manter o protagonista onipresente tornaria qualquer tensão inócua: bastaria tocar a chave de fenda sônica e resolver tudo em 45 minutos.
O Salada de Cinema aponta que a decisão também evita sobrecarregar o já intricado calendário de gravações envolvendo múltiplas encarnações do mesmo personagem.
No fim, o spin-off entrega uma trama que reforça a autonomia dos coadjuvantes e amplia o escopo do chamado “Whoniverse”.
Se o Doutor acabará aparecendo em futuras temporadas ainda é mistério, mas, por enquanto, a produção sustenta que o herói prefere dar um passo atrás – talvez cansado, talvez estratégico.
Resta ao espectador julgar se essa ausência é perda ou ganho para a narrativa.
Ficha técnica
- Título original: The War Between the Land and the Sea
- Franquia: Doctor Who / Whoniverse
- Gêneros: Drama, Aventura, Ficção científica
- Emissora: BBC One
- Data de estreia: 11 de maio de 2024
- Principais personagens: Barclay, Salt, Kate Lethbridge-Stewart
- Criação: Donald Wilson e Sydney Newman
- Roteiristas: Steven Moffat, Pete McTighe, Kate Herron, Inua Ellams, Juno Dawson
- Direção: Alex Pillai, Peter Hoar, Ben Chessell, Julie Anne Robinson, Jamie Donoughue, Amanda Brotchie, Dylan Holmes Williams


