Wes Anderson leva saga familiar a território fictício no filme O Esquema Fenício, já disponível no Prime Video

Thais Bentlin
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Um magnata europeu cruza salões cheios de maquetes, aviões de brinquedo e pilhas de papéis. Em volta dele, assessores falam ao mesmo tempo, em línguas diferentes, enquanto contratos se acumulam.

É assim que O Esquema Fenício começa, produção de Wes Anderson que chegou ao catálogo do Prime Video. O filme revela o empresário e traficante de armas Zsa-Zsa Korda tentando equilibrar um megaprojeto de reconstrução nacional e a retomada do contato com a filha noviça, Liesl.

Trama se passa na Phoenicia dos anos 1950

Ambientado numa Phoenicia imaginária da década de 1950, o roteiro exibe o país logo após mais uma tentativa de assassinato contra Korda, vivido por Benicio Del Toro. O industrial, ao despertar de uma experiência quase mística num tribunal celestial burocrático, conclui que o período de impunidade talvez tenha prazo de validade.

Para evitar o fim da própria fortuna, ele decide acelerar um plano de infraestrutura de grandes proporções, apelidado de “esquema fenício” por diplomatas céticos. A proposta envolve portos, oleodutos, ferrovias e uma multidão de trabalhadores mal pagos, todos representados em gráficos guardados em caixas de sapato.

Geopolítica, conspirações e perigo iminente

Governos estrangeiros fingem apoiar o projeto, mas conspiram para derrubar o empresário, temendo o fluxo de armas e dinheiro que corre pela região. Do outro lado, grupos militantes veem Korda como símbolo de elites que lucram com guerras alheias e transformam cada encontro de negócios em disputa de sobrevivência.

Entre anúncio público, assinatura forçada de contratos e sabotagens no canteiro de obras, o diretor estabelece uma escalada de tensão. Atentados frustrados e ameaças anônimas marcam o avanço da história, comprimindo pouco a pouco as chances de recuo do protagonista.

Liesl: a filha freira no centro do drama familiar

Mia Threapleton interpreta Liesl, criada em convento desde a infância. Ao receber o convite do pai para assumir parte da empresa, a jovem retorna ao palácio levando uma mistura de curiosidade e desconfiança. Rumores de que Korda possa ter responsabilidade pela morte da mãe fortalecem o distanciamento.

Dentro desse conflito, Wes Anderson posiciona Bjørn, papel de Michael Cera. Entomólogo norueguês promovido a secretário, ele cataloga insetos e contratos com o mesmo rigor científico. A presença dele gera humor e ressalta o absurdo de decisões tomadas em salões decorados com miniaturas milimetricamente alinhadas.

Fotografia e trilha reforçam estética de maquete

A direção de fotografia de Bruno Delbonnel isola convento, deserto e palácio como se fossem cenários independentes, cheios de linhas simétricas que lembram vitrines. A trilha composta por Alexandre Desplat oscila entre suspense e melodias quase cômicas, sugerindo a instabilidade de um universo que passa do risco à farsa em questão de segundos.

Esse tratamento visual cria charme imediato, mas evidencia uma artificialidade que suaviza, ao menos na superfície, guerras, deslocamentos e traumas típicos de disputas territoriais. Quem acompanha o Salada de Cinema costuma reconhecer esse estilo de Wes Anderson: simetria rigorosa, paleta de cores vintage e humor seco costuram o longa do começo ao fim.

Escalada de consequências e dilema final

À medida que o plano avança, o “esquema fenício” deixa de ser mero exercício arquitetônico em miniatura e passa a representar prisões ampliadas, fronteiras vigiadas e populações deslocadas. Pressionado por governos que querem saída honrosa e militantes que articulam ataque espetacular, Korda se vê diante da escolha: sacrificar parte do projeto para preservar a imagem pública ou sustentar tudo e arriscar levar Liesl junto para a queda.

Nesse ponto, as famosas caixas de sapato da primeira cena reaparecem abarrotadas de mapas, reportagens e objetos recolhidos no deserto. A organização aparente expõe de forma clara o caos moral que impulsiona a busca por poder e redenção.

Benicio Del Toro, Mia Threapleton e Michael Cera lideram elenco

Benicio Del Toro varia sedução e brutalidade em pequenas mudanças de voz e postura, encarnando um homem que se enxerga como benfeitor apesar de comandar trabalhos forçados. Mia Threapleton mantém Liesl como presença contida, reagindo com olhos arregalados sempre que um novo detalhe do projeto é revelado. Já Michael Cera atua como válvula cômica, lembrando ao público o nonsense escondido atrás de cada assinatura de contrato.

Disponível no Prime Video

O Esquema Fenício foi lançado em 2025 e já pode ser assistido pelos assinantes do Prime Video. A produção mistura ação, comédia, drama e thriller em pouco mais de duas horas, mantendo o ritmo característico do cineasta.

Para quem acompanha o catálogo de streaming em busca de tramas que unam humor, crítica política e dilemas familiares, a nova obra de Wes Anderson surge como opção peculiar e difícil de largar. Vale conferir como o diretor faz de maquetes e palácios cenários para refletir sobre culpas herdadas e ambições aparentemente sem limites.

Ficha técnica

Título: O Esquema Fenício
Direção: Wes Anderson
Elenco principal: Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera
Ano: 2025
Gênero: Ação, Comédia, Crime, Drama, Thriller
Disponível em: Prime Video
Avaliação: 9/10

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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