Al Pacino encara serial killer em Parceiros da Noite, longa marcado por protestos que acaba de chegar à HBO Max

Thais Bentlin
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Lançado em 1980 e imediatamente cercado por controvérsia, Parceiros da Noite volta aos holofotes com sua entrada no catálogo da HBO Max. O longa, estrelado por Al Pacino e dirigido por William Friedkin, retrata a caçada a um serial killer em meio à cena noturna LGBT+ de Nova York.

A produção inspirada no livro homônimo de Gerald Walker enfrentou boicotes ainda nas filmagens, viu mais de 40 minutos irem para a sala de edição para reduzir a classificação indicativa e continua dividindo opiniões. A seguir, o Salada de Cinema apresenta os principais fatos que cercam essa obra que ecoa estilos de Stanley Kubrick e Martin Scorsese.

Enredo: infiltração arriscada em meio à vida noturna de Manhattan

Parceiros da Noite acompanha o policial Steve Burns (Al Pacino), destacado pelo capitão Edelson (Paul Sorvino) para se infiltrar no Meatpacking District e no West Village. As duas regiões concentravam, à época, diversos bares e clubes frequentados pela comunidade LGBT+.

Burns corresponde ao perfil das vítimas de um assassino em série que vem atacando homens gays. Sua missão é frequentar os locais, conquistar a confiança dos frequentadores e atrair o criminoso. Durante a investigação, o personagem tenta conciliar o relacionamento com a namorada e a imersão em um ambiente novo para ele.

Protestos e sabotagens durante as gravações

As filmagens, realizadas em Nova York no fim dos anos 1970, esbarraram em resistência de moradores e ativistas. Grupos LGBT+ temiam que o roteiro estigmatizasse ainda mais a comunidade, já alvo de violência e discriminação.

Há registros de interrupções de tomadas, barulho proposital em ruas próximas aos sets e ameaças de boicote aos cinemas que exibissem o título. Apesar dos atritos, Friedkin manteve a produção e concluiu as filmagens dentro do cronograma previsto.

Cortes na montagem e classificação indicativa

Após sessões de teste, o estúdio determinou a remoção de mais de 40 minutos, boa parte contendo cenas de sexo explícito em clubes noturnos. O objetivo era evitar a classificação X, que limitaria o lançamento comercial.

Esses cortes ajudaram a obra a receber o selo R nos Estados Unidos (menores de 17 anos apenas acompanhados por responsáveis), mas alimentaram discussões sobre a perda de nuances do roteiro original.

Comparações visuais com Kubrick e Scorsese

Cinéfilos e críticos apontam referências visuais claras aos trabalhos de Stanley Kubrick e Martin Scorsese. Sequências em túneis lembram o clima urbano de Taxi Driver, enquanto ambientes claustrofóbicos remetem ao labirinto de O Iluminado.

William Friedkin, vencedor do Oscar por Operação França, buscou transmitir a sensação de paranoia e decadência presentes na metrópole do fim dos anos 1970. A fotografia, cheia de sombras duras e néones, reforça o suspense contínuo do enredo.

Trajetória de Al Pacino em papéis com temática LGBT+

Parceiros da Noite não foi a primeira incursão de Al Pacino em histórias que tangenciam questões de sexualidade. Cinco anos antes, em Um Dia de Cão (1975), o ator interpretou um homem que planeja um assalto ao banco para financiar a transição de gênero da esposa.

No novo trabalho, porém, a sexualidade de Burns surge como ferramenta de infiltração, não como elemento afetivo central. A diferença de abordagem evidencia como o cinema dos anos 1970 e 1980 lidava de maneiras distintas com temas LGBT+.

Final aberto e alterações em relação ao livro

Gerald Walker apresenta, na obra original, um desfecho literal para a busca pelo assassino. Friedkin optou por alterar a identidade visual do criminoso em várias cenas, sugerindo que a violência contra a comunidade LGBT+ pode assumir muitas faces.

O desfecho ambíguo gerou debates entre espectadores e críticos, fortalecendo a aura de mistério em torno do filme. A mudança também se tornou um dos pontos mais discutidos em análises posteriores.

Disponibilidade e recepção atual

Parceiros da Noite já pode ser encontrado no catálogo da HBO Max no Brasil. A plataforma oferece o longa em versão restaurada, com áudio original em inglês e legendas em português.

Quarenta e três anos depois da estreia, a produção continua colecionando críticas mistas: elogiada pela estética estilizada e pelo desempenho de Pacino, mas questionada pela superficialidade na abordagem de dilemas morais e identidade.

FICHA TÉCNICA

Título original: Cruising
Título no Brasil: Parceiros da Noite
Direção: William Friedkin
Roteiro: William Friedkin, baseado no livro de Gerald Walker
Elenco principal: Al Pacino (Steve Burns), Paul Sorvino (capitão Edelson), Karen Allen (Nancy)
País: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1980
Gênero: Crime, drama, mistério, suspense
Duração: 102 minutos (versão disponível na HBO Max)

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Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.
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