“O Esquema Fenício” chegou ao catálogo do Prime Video cercado de expectativas. A combinação de Wes Anderson na direção, Benicio Del Toro no papel principal e um elenco afinado mexeu com a curiosidade do público.
Entre cores calculadas e diálogos velozes, o longa provoca reações opostas: há quem se renda à criatividade estética, mas também quem saia exausto. A seguir, o Salada de Cinema destrincha os principais pontos dessa experiência cinematográfica.
Trama coreografada entre ambição e caos
“O Esquema Fenício” acompanha Zsa Zsa Korda, um magnata excêntrico interpretado por Benicio Del Toro. Convencido de que pode transformar a infraestrutura de um país inteiro, ele trata pontes, estradas e ministérios como se fossem prateleiras de uma loja de antiguidades. É a partir dessa ambição que o roteiro se desenrola, revelando acordos nebulosos e promessas frágeis.
Para manter o projeto em pé, Zsa Zsa precisa convencer investidores, despistar rivais e lidar com o próprio ego. O protagonista, no entanto, não enxerga as rachaduras que sua visão corporativa provoca, alimentando a tensão que percorre cada cena. “O Esquema Fenício” se apoia nesse contraste entre controle absoluto e perigoso improviso.
Zsa Zsa Korda, o magnata que quer redesenhar um país
Del Toro encarna um empresário que confunde ambição com destino. Ele surge como agente de turbulência: gestos cronometrados, frases afiadas e uma confiança que beira a arrogância. Quanto mais o personagem afirma ter domínio sobre tudo, mais a narrativa mostra o contrário. É nessa fricção que o filme encontra ritmo.
Liesel e Bjørn: vozes que desafiam a ordem
Mia Threapleton vive Liesel, jovem prestes a entrar para a vida religiosa e, de repente, transformada na herdeira de um império cercado por dilemas éticos. Seu conflito interno adiciona camadas à trama. Michael Cera interpreta Bjørn, secretário fascinado por insetos que observa a insanidade corporativa com precisão clínica. Suas intervenções curtas e certeiras funcionam como contraponto humano ao protagonista.
Estilo visual de Wes Anderson em foco
Se o roteiro entrega tensão, o visual amplia a experiência. Anderson preenche a tela com paletas de cores simétricas, cenários meticulosamente construídos e movimentos de câmera que lembram coreografias. “O Esquema Fenício” reforça a marca registrada do diretor, adicionando uma camada de grandiosidade às negociações obscuras.
A direção de arte transforma cada sala de reunião em atração à parte. Objetos vintage, molduras alinhadas e luz suave criam ilusão de ordem, enquanto a trama grita desordem. A colisão desses elementos faz o espectador alternar entre o deleite estético e a percepção de que tudo pode ruir a qualquer momento.
Cores, cenários e ritmo milimetrado
Do uniforme pastel dos assessores às prateleiras perfeitamente organizadas em um galpão, cada detalhe sugere controle. O ritmo dos diálogos acompanha esse desenho visual, como se personagens fossem peças de um grande relógio. Quando surge uma falha — um olhar demorando além da conta, uma porta batendo fora de hora — o filme ganha nova pulsação.
Imagem: Divulgação
Humor nas frestas da narrativa
O humor de “O Esquema Fenício” não vem de piadas diretas, mas da ironia instalada em reuniões diplomáticas e discursos corporativos. Sempre que Zsa Zsa tenta provar que pensa além do poder, a encenação revela o contrário. O riso surge como registro da artificialidade, evidenciando o absurdo dos negócios que movem a trama.
Recepção do público no Prime Video
Desde a estreia na plataforma, “O Esquema Fenício” gera debates intensos. Parte dos assinantes enaltece a ousadia estética e a engrenagem narrativa que mistura ação, comédia, crime, drama e suspense. Outro grupo aponta exaustão diante de tantos recursos visuais, sentindo falta de mergulho mais profundo nos dilemas éticos de Zsa Zsa e Liesel.
A divisão revela, sobretudo, o efeito Anderson: encanto visual, ritmo certeiro e, em alguns momentos, sensação de que a forma se sobrepõe ao conteúdo. Ainda assim, a curiosidade em torno do longa permanece alta, impulsionada pela presença marcante de Benicio Del Toro e pela síntese entre caos corporativo e design milimétrico.
Encanto estético versus exaustão narrativa
Para quem valoriza a experiência visual, o filme é banquete. Para quem busca catarse emocional profunda, pode faltar fôlego. Essa tensão ajuda a explicar por que “O Esquema Fenício” figura entre os títulos mais comentados do Prime Video, conquistando novos espectadores enquanto provoca debates acalorados nas redes.
Mesmo sem entregar revelação absoluta, o longa confirma que a assinatura de Wes Anderson continua capaz de gerar conversa, seja pela beleza incontestável, seja pela sensação de incompletude que ele próprio parece abraçar.
Fixa Técnica
Título original: O Esquema Fenício
Direção: Wes Anderson
Elenco principal: Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera
Ano de lançamento: 2025
Gênero: Ação, Comédia, Crime, Drama, Suspense
Duração: não divulgado
Disponível em: Prime Video
Avaliação média: 8/10


