De tempos em tempos a Netflix surpreende assinantes ao resgatar títulos que moldaram a história do cinema. Desta vez, o serviço incluiu em seu catálogo Os Bons Companheiros, longa de 1990 dirigido por Martin Scorsese e considerado um dos maiores filmes de gângster já produzidos.
Com ritmo frenético, trilha sonora marcante e elenco de peso, a obra volta a ficar ao alcance de quem quer (re)descobrir a vida real do mafioso Henry Hill. Para o Salada de Cinema, a novidade serve como convite perfeito para quem curte narrativas intensas, mesmo que o interesse principal seja novelas e doramas: a arte de contar boas histórias atravessa gêneros.
Os Bons Companheiros na Netflix: sinopse sem spoilers
A trama acompanha Henry Hill, garoto do Brooklyn que, ainda adolescente, abandona a escola para trabalhar para a máfia local. Fascinado por carros reluzentes, ternos caros e cumprimentos que param o trânsito, ele decide trocar a estabilidade de um emprego comum pelo respeito instantâneo dos “homens feitos”.
Gradualmente, o jovem executa recados simples, estaciona carros em locais proibidos e entrega envelopes suspeitos. Cada pequena tarefa amplia seu acesso a um universo regido por lealdade, sangue-frio e negócios milionários. Com o passar dos anos, Henry se torna peça-chave de um esquema que mistura família, vizinhança e crime organizado.
Da admiração ao conflito interno
O brilho do poder tem preço alto. Enquanto acumula dinheiro fácil, Hill percebe que qualquer falha pode render punição imediata de parceiros Armados ou da polícia cada vez mais atenta. Quando tenta equilibrar casamento, filhos e golpe final, o protagonista compreende que glamour e tensão caminham lado a lado.
Como Martin Scorsese transforma a vida real em cinema intenso
Scorsese, mestre em retratar o submundo nova-iorquino, usa câmera inquieta para colocar o público dentro de cozinhas lotadas, bares esfumaçados e festas intermináveis. Planos-sequência longos mostram corredores apertados, espelhos e olhares desconfiados, reforçando a sensação de que qualquer detalhe fora do lugar pode detonar violência.
A montagem alterna calmaria e caos. Em um trecho emblemático, Henry passa um dia inteiro lidando com telefonemas, entregas e um helicóptero que insiste em sobrevoar o bairro. O diretor acelera cortes, mistura rock dos anos 70 e close-ups suados, transmitindo a paranoia que consome o mafioso quando tudo ameaça ruir.
Música e ritmo como narradores invisíveis
Canções de Tony Bennett, The Rolling Stones e Cream não entram só para marcar época. Cada batida pontua decisões erradas, traições iminentes ou explosões de violência que alteram o destino dos personagens. O resultado é um filme que nunca deixa o espectador relaxar.
Ray Liotta, Robert De Niro e Joe Pesci: trio que sustenta o clássico
Interpretado por Ray Liotta, Henry Hill surge carismático, ambicioso e, em última instância, vulnerável. Robert De Niro, no papel de Jimmy Conway, encarna o mentor frio que prefere agir nos bastidores. Já Joe Pesci, vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante, entrega um Tommy DeVito imprevisível, capaz de alternar piadas e explosões brutais em segundos.
A química entre os três gera algumas das cenas mais comentadas do gênero. O diálogo aparentemente trivial que culmina no famoso “Funny how?” de Pesci virou referência cultural, lembrando que, na máfia, nenhum comentário é casual.
Relações familiares em meio ao perigo
Além da fraternidade criminosa, o filme destaca o relacionamento de Henry com Karen Hill (Lorraine Bracco). Ela, seduzida pela promessa de vida confortável, precisa lidar com telefonemas na madrugada, visitas à delegacia e a ameaça constante que paira sobre a família. A dinâmica ressalta o custo emocional de abraçar o submundo.
Por que Os Bons Companheiros segue relevante para novos públicos
Trinta anos depois, o longa continua provocando discussões sobre ambição, lealdade e identidade. Quem assiste hoje pode refletir como redes de poder, ainda que ilegais, se estruturam em códigos de conduta, punições e recompensas que lembram qualquer ambiente competitivo — inclusive o corporativo.
Além disso, novos fãs de novelas e doramas, acostumados a narrativas densas e personagens complexos, tendem a encontrar no filme a mesma construção cuidadosa de relações, segredos e reviravoltas. A diferença está na ambientação: em vez de grandes conglomerados empresariais da ficção asiática, temos restaurantes italianos e depósitos clandestinos do Brooklyn.
Imagem: Divulgação
Disponibilidade reforça catálogo de clássicos na plataforma
A inclusão de Os Bons Companheiros na Netflix sinaliza investimento em títulos atemporais que atraem cinéfilos e curiosos. Para quem já maratonou as séries coreanas mais recentes e busca algo diferente, o filme é passagem direta para a atmosfera visceral de Scorsese, sem sair do sofá.
Portanto, quem ainda não conferiu a obra-prima ou deseja revisitar cada plano bem coreografado, agora encontra o título em versão remasterizada no streaming. A chance de acompanhar ascensão e queda de Henry Hill, embalada por clássicos do rock, está a um clique de distância.
Ficha técnica
Título original: Goodfellas
Título no Brasil: Os Bons Companheiros
Direção: Martin Scorsese
Elenco principal: Ray Liotta, Robert De Niro, Joe Pesci, Lorraine Bracco
Roteiro: Nicholas Pileggi e Martin Scorsese, baseado no livro Wiseguy
Ano de lançamento: 1990
Duração: 2h26min
Gênero: Biografia, Crime, Drama
Disponível em: Netflix


