Em meio à avalanche diária de estreias, a Netflix acaba de colocar no ar “Togo”, longa de 2019 que recria um feito improvável nas paisagens brutais do Alasca. Protagonizado por Willem Dafoe, o filme narra a missão de transportar soro antitoxina para conter uma epidemia de difteria em 1925.
A produção dirigida por Ericson Core foge do melodrama fácil e se ancora no vínculo intenso entre o musher Leonhard Seppala e o cão que dá nome ao título. Com 1h53 de duração, a obra combina aventura, biografia e drama histórico com uma nota altíssima de aprovação: 9/10, segundo a crítica especializada.
Sinopse: coragem em terreno onde erros não cabem
“Togo” começa quando a vila de Nome, no extremo oeste do Alasca, registra casos de difteria em crianças. Sem estradas ou linhas férreas que resistam ao inverno, a única saída para levar o antídoto até lá é um revezamento de trenós. Mesmo ciente dos riscos, Leonhard Seppala (Willem Dafoe) aceita percorrer o trecho mais extenso e traiçoeiro.
À frente do trenó, está Togo, cão subestimado por seu porte menor. O roteiro de Tom Flynn revela, em flashbacks, como o animal superou limites físicos, pulou cercas e se impôs como líder pela obstinação. Esse recuo no tempo evita esteriótipos e mostra que a lealdade de Togo nasceu de repetidos confrontos e fracassos compartilhados com Seppala.
Personagens que sustentam o drama humano
Enquanto Seppala se deixa guiar por um senso de dever quase teimoso, Constance (Julianne Nicholson) surge como ponto de equilíbrio. Ela relembra ao marido o impacto humano que se esconde atrás dos números da epidemia. A dinâmica entre o casal expõe o peso emocional de quem fica aguardando notícias em solo firme.
Essa troca deixa claro que recusar a missão significaria negar a própria identidade para Seppala. O resultado é um retrato de coragem que nasce da necessidade, não da busca por glória—a mesma postura que tantos protagonistas de novelas e doramas adotam quando o destino bate à porta.
Realismo visual sem pirotecnia
Os efeitos empregam verossimilhança em vez de espetáculos grandiosos. Gelo rompendo, ventanias súbitas e inclinações extremas reforçam a sensação de que qualquer cálculo pode falhar. A montagem intercala ação frenética e pausas estratégicas para mostrar o desgaste físico tanto do homem quanto do cão.
Essa opção narrativa impede que a travessia vire uma simples sequência de obstáculos. As paradas revelam ferimentos, exaustão e o pavor real que ronda cada centímetro daquele território, lembrando que a linha entre heroísmo e tragédia é tênue.
O vínculo entre Seppala e Togo
Em vez de tratar Togo como mascote dócil, o filme destaca sua combinação de resistência e foco. A liderança do husky não surge de obediência cega, mas de uma inteligência prática que o torna insubstituível. Willem Dafoe sustenta essa percepção ao mostrar um Seppala que aprende mais com falhas do que com epifanias.
Imagem: Divulgação
Nos trechos finais, o espectador se depara com a pergunta incômoda: até que ponto vale empurrar um animal — e a si mesmo — além dos próprios limites? O longa não oferece respostas fáceis, limitando-se a expor o preço cobrado por um ambiente que exige demais de quem ousa protegê-lo.
Por que assistir “Togo” agora na Netflix
Para quem segue o Salada de Cinema e curte narrativas de época, “Togo” entrega uma história real, tensa e bem amarrada. A estreia no streaming facilita o acesso a um capítulo pouco lembrado, mas decisivo, da história norte-americana.
Além disso, a chegada do filme à plataforma é oportunidade de descobrir (ou revisitar) a direção segura de Ericson Core, a performance contida de Julianne Nicholson e a atuação intensa de Willem Dafoe — que raramente decepciona em papéis que exigem entrega física e emocional.
Ficha técnica
Título original: Togo
Ano: 2019
Direção: Ericson Core
Gêneros: Aventura, Biografia, Drama, História
Elenco principal: Willem Dafoe (Leonhard Seppala), Julianne Nicholson (Constance Seppala)
Duração: 113 minutos
Avaliação crítica: 9/10
Disponibilidade
O longa já está liberado no catálogo brasileiro da Netflix. Basta buscar pelo título e preparar o cobertor para acompanhar 40 graus negativos sem sair do sofá.
Com pouca maquiagem narrativa e muita neve realista, “Togo” lembra que nem todo herói carrega espada ou usa capa; às vezes, ele late e puxa um trenó enquanto o mundo espera por uma dose de esperança.


