Jaqueline Oliveira | 14 de setembro de 2013

Cenas Inesquecíveis – Cantando na Chuva

Sempre que chove, passam duas coisas pela minha cabeça: tomar um banho de chuva que nem a cantora Vanessa da Mata diz na música “Ai ai ai” ou pegar um guarda-chuva e sair dançando que nem o ator Gene Kelly em “Cantando na Chuva”. Se você é cinéfilo mesmo, principalmente um fã de musicais, tenho […]

Sempre que chove, passam duas coisas pela minha cabeça: tomar um banho de chuva que nem a cantora Vanessa da Mata diz na música “Ai ai ai” ou pegar um guarda-chuva e sair dançando que nem o ator Gene Kelly em “Cantando na Chuva”. Se você é cinéfilo mesmo, principalmente um fã de musicais, tenho certeza de que compartilha comigo este segundo desejo. Afinal, a cena se tornou um clássico do cinema e faz parte do imaginário coletivo do mundo inteiro.

Inclusive, chama atenção a forma como a sequência resistiu ao tempo. Na época de lançamento do filme, 1952, os críticos e as premiações quase deixaram “Cantando na Chuva” passar em branco. No Oscar, por exemplo, a produção só conseguiu duas indicações (melhor atriz coadjuvante para Jean Hagen e melhor trilha musical), mas não levou nenhuma estatueta para casa. O filme ficou engavetado pelo estúdio MGM até a década de 70, quando passou por um processo de restauração. Foi só nos anos 80, quando entrou na grade de programação das emissoras de TV, que “Cantando na Chuva” ganhou popularidade e começou a conquistar prestígio. O ciclo de louros tardio se fechou em 2007 quando o American Film Institute elegeu a produção como o quinto melhor filme da história do cinema.

Pra entender o sucesso de “Cantando na Chuva” é só assistir à sua cena mais famosa. Felizes, bem-humorados e despretensiosos, os quatro minutos que Gene Kelly passa dançando e rodopiando deixam sempre um sorriso na boca de quem assiste. Neste momento do filme, o personagem está repleto de felicidade, pois tem um grande plano para o trabalho e é retribuído no amor. Ou seja, dois motivos de sobra pra transbordar felicidade e contaminar todo mundo do lado de cá.

E haja bom humor pra conseguir fazer a cena! Quem vê o ator esbanjando felicidade, não imagina que ele estava com 38 graus de febre quando gravou a coreografia. Mesmo sem uma certeza sobre o tempo que levou a filmagem (alguns dados apontam um dia inteiro, enquanto outros sites noticiam 3 dias), o que importante é que, mesmo doente, o ator permaneceu lá, encharcado, repetindo e repetindo a cena até que ela estivesse ok. Além do desconforto do resfriado, Kelly ainda precisou trocar várias vezes de figurino, pois além de molhados, os ternos ainda encolhiam com a água.

Outra curiosidade sobre a cena é em relação à tempestade. Por muito tempo, correu a informação de que a água foi misturada com leite para que os pingos d’água ficassem grossos e se tornassem visíveis para a câmera. Apesar de criativa, a solução foi desmentida por produtores do filme há pouco tempo. Eles afirmaram a chuva era composta apenas de água mesmo e que a visibilidade dos pingos foi obtida usando apenas técnicas de iluminação do cenário.

Além de não ser uma música inédita (“Singing in the Rain” foi criada em 1929 para o filme “Hollywood Revue”), quase que a cena da chuva não existiu. No roteiro original, a canção seria executada em trio por Gene Kelly, Donald O’Connor e Debbie Reynolds. Após algumas alterações, o número envolvendo os três passou a ter a música “Good Morning” como trilha sonora e “Singing in the Rain” ficou então liberada para o número solo de Gene Kelly. Uma mudança que há 60 anos deixa os dias chuvosos muito mais alegres.