Gisele Santos | 6 de dezembro de 2014

Walter Salles, o desbravador da condição humana

Nome: Walther Moreira Salles Jr. Nascimento: Rio de Janeiro, 12 de abril de 1956 Três filmes essenciais: Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004). [img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/10/Walter-Salles.jpg”] A nossa realidade poder ser deveras chocante e ultrapassar muitas vezes a ficção. Isso alimenta a arte. Nutre a reflexão. Alimenta o Cinema, como […]

Nome: Walther Moreira Salles Jr.
Nascimento: Rio de Janeiro, 12 de abril de 1956
Três filmes essenciais: Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004).

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/10/Walter-Salles.jpg”]

A nossa realidade poder ser deveras chocante e ultrapassar muitas vezes a ficção. Isso alimenta a arte. Nutre a reflexão. Alimenta o Cinema, como aconteceu com o Cinema Novo no Brasil. E, como já afirmou em entrevistas, alimenta Walter Salles.

O produtor e diretor alcançou projeção mundial por buscar tratar a questão humana de maneira universal, investigativa e delicada. Uma jornada perscrutando as nuances da alma. Citando o escritor argentino Jorge Luis Borges, Salles diz que isso significa tentar “nomear aquilo que ainda não foi nomeado”.

Parte constantemente da tentativa de aproximação com a polifonia. Muitos de seus Road Movies, gênero proeminente na filmografia de Walter, são em parte sobre essa reflexão. Personagens que, insatisfeitos com o que a sociedade pode lhes oferecer, querem ampliar os horizontes, compreender novos pontos de vista, transgredir a ilusão do comodismo.

Nascido no Rio de Janeiro em 1956, filho do falecido embaixador e banqueiro Moreira Salles, seus anos de infância foram vividos no exterior, na França e nos Estados Unidos. Ele detestava morar fora do Brasil. Foi justamente nesta época que começaram os flertes com a Sétima Arte, uma maneira de encontrar uma realidade mais interessante. Com 8 ou 10 anos, conheceu Chaplin. “Tive sorte de ver Chaplin muito cedo. É realmente uma boa maneira de se começar”, disse ele no “Altas Horas”.

Na adolescência, as faíscas cinematográficas que o encantaram partiram do contato com cineastas do Neorrealismo italiano, como Michelangelo Antonioni, em especial no filme “Profissão: Repórter” (1975). Na primeira vez que assistiu à obra, Walter simplesmente não conseguiu sair do cinema. Ele ficou atordoado. Havia passado por uma experiência intensa e enriquecedora. O lanterninha teve que pedir educadamente para ele deixar a sala de exibição.

Sua paixão também era direcionada à fotografia, nas obras de Sebastião Salgado e de Henri Cartier-Bresson, considerado o pai do fotojornalismo. Mesmo diante desse deslumbramento com imagens, Salles ainda não havia decidido trabalhar definitivamente com longa-metragens.

Cursou Economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Não contente, fez mestrado nos Estados Unidos em Comunicação Audiovisual na Universidade da Califórnia. A carreira cinematográfica começou mesmo em 1985, quanto abriu com o irmão João Moreira Salles e mais outro sócio a produtora VideoFilmes, produzindo documentários para TV.

Em 1995, em parceria com a cenógrafa Daniela Thomas, Walter Salles dirigiu o primeiro longa de relevância, “Terra Estrangeira”, recebendo boa aceitação da Crítica e do público. O enredo foca a falta de perspectiva de vida num Brasil marcado pela insegurança da Era Collor.

A ressaca com Collor também foi matéria-prima para o road movie “Central do Brasil” (1998), mas em uma abordagem otimista. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Salles disse que o filme tentava mostrar que o Brasil ainda valia a pena, apesar da desilusão política. “Central do Brasil” logrou imensa fama mundial, com indicações ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira e de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro. Também ganhou vários prêmios, como nos festivais de Berlim e de Havana.

Outro acerto veio com “Abril Despedaçado” (2001). Sob o véu da rivalidade mortal entre duas famílias no Nordeste, Walter retratou o ódio em estado bruto para denunciar um problema universal: a banalização da violência. A crescente incapacidade de se revoltar com a chacina.

Em seguida, a América Espanhola foi o tema para mais um road movie, “Diários de Motocicleta” (2004), baseado no livro de viagens de Che Guevara. Gael García Bernal interpreta o jovem libertário e posterior ícone do século XX Ernesto Guevara, que ao lado do melhor amigo Alberto Granado viaja durante quatro meses em 1952 pelo continente sul-americano a bordo de uma motocicleta. Para realizar o filme, Walter e sua equipe fizeram três anos de pesquisas, percorreram duas vezes a rota que Ernesto e Alberto trilharam e ouviram a família Guevara muitas vezes.

Modesto, Walter, que no cartório tem um “h” no nome (Walther), diz não ter interesse em uma carreira glamourosa de cineasta. Ele está interessado em vivenciar experiências específicas nos filmes. Nada de egos gigantes. Não é à toa que seu pintor favorito é Giotto, artista que pela primeira vez retratou a figura humana de maneira não idealizada, buscando os defeitos e a realidade.