Cassia Alves | 22 de setembro de 2014

Sexo além de Almodóvar

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/09/entre-a-spernas.jpg”] Nos habituamos com a ideia de que o único cineasta espanhol a falar de sexo é Pedro Almodóvar. Esta é uma ilação equivocada que ocorre em parte pelo insofismável talento do cineasta em questão e em parte por nossa pura ignorância. É bem verdade que Manuel Gómez Pereira não manteve o brilho que […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/09/entre-a-spernas.jpg”]

Nos habituamos com a ideia de que o único cineasta espanhol a falar de sexo é Pedro Almodóvar. Esta é uma ilação equivocada que ocorre em parte pelo insofismável talento do cineasta em questão e em parte por nossa pura ignorância.

É bem verdade que Manuel Gómez Pereira não manteve o brilho que ensejou nos anos 90, mas dois de seus filmes são dos mais bem sucedidos daquela década em abordar o sexo e suas peculiaridades de uma maneira que só o libertário cinema europeu poderia fazer em uma década que viu o politicamente correto alvorecer com força.

O primeiro é “Por que chamam amor quando querem dizer sexo?” (1993), que trata exatamente do que o bem sacado título insinua. Pereira aborda a paixão de uma atriz pornô por seu novo e surpreendente parceiro de cena como hipótese para uma investigação de como o sexo, em alguns contextos e circunstâncias, pode ser imperativo – e até mesmo confundido com o amor.

Há quem diga que em uma relação amorosa há paridade entre sexo e sentimento na casa dos 50%, Pereira joga a dúvida: e se não for bem assim? E se o sexo, mesmo em uma equação aparentemente equilibrada como essa, está sendo negligenciado?

Já em “Entre as pernas” (1999), que traz um caliente Javier Bardem ao lado de uma ainda mais estarrecedora Victoria Abril, a ponderação é de outra natureza. Aqui o vício em sexo é discutido com retoques de thriller hitchcockiano e erotismo elevadíssimo. Sai o tom cômico do primeiro filme e entram as cenas de sexo bem coreografadas como um elaborado exercício de metonímia. O aspecto visual, portanto, se subscreve em “Entre as pernas” como emulação do sentido narrativo do filme.

A personagem de Victoria Abril é uma adultera que persegue o orgasmo fora da cama do marido. Javier Bardem faz um homem viciado em sexo pelo telefone. Ambos se envolvem. Tudo estremece quando Bardem é suspeito de um assassinato e o marido de Abril é o policial a cargo da investigação.

“Entre as pernas” não propõe nenhuma tese complexa, apenas defende a ideia de que o sexo pode ser o motor de nossas vidas e que, embora esse conceito seja profundamente sedutor, talvez não seja o ideal.