Jaqueline Oliveira | 5 de agosto de 2013

Senta que lá vem… 007 Cassino Royale

  Quando Martin Campbell assumiu a direção de “007 Cassino Royale”, ele ganhou um verdadeiro abacaxi: reinventar o espião mais famoso do mundo no momento que ele estava mais em baixa. Afinal, vamos concordar: desde o final da década de 1980, James Bond havia se enfiado em uma série de filmes fracos e anêmicos. E […]

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Quando Martin Campbell assumiu a direção de “007 Cassino Royale”, ele ganhou um verdadeiro abacaxi: reinventar o espião mais famoso do mundo no momento que ele estava mais em baixa. Afinal, vamos concordar: desde o final da década de 1980, James Bond havia se enfiado em uma série de filmes fracos e anêmicos. E são vários os motivos para isso! Primeiro que, desde a queda do muro de Berlim em 1989, o espião havia perdido seu grande vilão cinematográfico: os comunistas que queriam dominar mundo. E, claro, sem um grande vilão, fica difícil ser o salvador da pátria. Segundo que o atores Timothy Dalton e Pierce Brosnan, por mais que encarnassem a elegância e o charme do personagem, nunca conseguiram dar a ele apelo popular e comercial suficientes para honrar sua trajetória. E terceiro que a franquia 007 sentiu na pele a concorrência pesada do cinema de ação dos anos 1990, um período no qual a sutileza e inteligência de James Bond não tinham como competir com os músculos, a ferocidade e a testosterona da pancadaria de Jean-Claude Van Damme e Sylvester Stallone. Como se já não fosse o bastante, quando Matt Damon e seu Jason Bourne reconfiguraram o cinema de espionagem em 2002 com “A Identidade Bourne”, parecia que o último prego no caixão estava posto. E foi então, justo quando a água bateu na bunda, que surgiu o melhor filme de 007 nos últimos 20 anos.

Em “007 Cassino Royale”, Martin Campbell mudou os rumos de James Bond usando uma estratégia inteligente: usou o primeiro livro no qual o personagem aparece para mostrar o começo de sua trajetória. Porém, o diretor evitou fazer um reboot clássico e ignorar os 20 filmes anteriores do herói. Na produção, aos poucos o melhor matador a serviço do Reino Unido vai adquirindo cada uma das características que o tornam um ícone. Um processo que começa na sequência de abertura.

Primeiro de tudo, Campbell utiliza a quebra da expectativa para surpreender o espectador. Ao invés de começar o filme com a clássica cena em que James Bond atira contra a tela e dá início à sequência de créditos (uma marca de todos os filmes anteriores que você pode conferir aqui), o diretor nos apresenta Bond antes de ele se tornar um agente 00 (para conseguir o título, ele tem que matar dois criminosos).  A sequência, que intercala diálogos a uma luta brutal em um banheiro, dura pouco mais de quatro minutos. Nela, é perceptível que Bond é um agente inteligente, brutal e que não hesita em partir para a briga, ainda que sua brutalidade neste primeiro momento transpareça uma boa dose de nervosismo e imaturidade. É no final da sequência apenas, quando Bond extermina seu segundo rival, que enfim há o tiro em nossa direção e começa a sequência de créditos.

Os créditos de 007, que se tornaram um patrimônio da cultura pop, aqui também são apresentados com modificações. Totalmente imersos no tema da jogatina, a principal ausência ao longo da animação são as mulheres que sempre rodeiam o agente secreto. Uma vez que o personagem passa por uma jornada de formação do mito ao longo do filme, os criadores consideraram que somente no final dele Bond se tornaria o sedutor que conhecemos. Logo, encher a sequência de mulheres iria contra a narrativa do longa-metragem. Porém, no lugar delas, ganha destaque outro elemento com o qual o agente possui grande intimidade: a violência. São perseguições, lutas e emboscadas que ganham um tratamento metafórico, abstrato e totalmente estilizado. A ação se passa sobre mesas de um cassino, os tiros e armas se transformam em naipes do baralho, as miras de revólveres são roletas de apostas e o cenário é adornado com os arabescos que ilustram os versos das cartas de baralho. Uma escolha visual que casa perfeitamente com a canção-tema “You Know My Name” interpretada de forma tão visceral por Chris Cornell. Não tem como não saber que se trata de James Bond quando ela termina.

Para mim, definitivamente, a melhor abertura de um filme do 007 de todos os tempos. Desculpe, Adele!