André Sobreiro | 14 de fevereiro de 2013

Oscar 2013 – A Feiticeira de Guerra

Estamos em algum lugar da África Subsaariana, mas o diretor canadense Kim Nguyen não especifica direito qual. Embora A Feiticeira da Guerra tenha sido rodado no Congo, a localização da narrativa não tem tanta importância. De ritos, crendices, guerrilha e ausência de lei, a África está cheia. Certo é que, para nascer em algumas dessas “Áfricas”, é preciso […]

Estamos em algum lugar da África Subsaariana, mas o diretor canadense Kim Nguyen não especifica direito qual. Embora A Feiticeira da Guerra tenha sido rodado no Congo, a localização da narrativa não tem tanta importância. De ritos, crendices, guerrilha e ausência de lei, a África está cheia.

Certo é que, para nascer em algumas dessas “Áfricas”, é preciso estar preparado. E assim começa A Feiticeira da Guerra, filme que retrata dois anos – e como tudo mudou em tão pouco tempo – na vida de Komona. A jovem conta ao seu filho, que ainda está em gestação, como foi levada de sua vila por rebeldes contrários ao governo para ser treinada e se tornar um soldado.

Dança e música estão presentes no ritual em que os rebeldes passam as armas para os novos guerrilheiros. Para encarar aquela realidade, os jovens bebem o que chamam de “seiva mágica”, um alucinógeno. A cultura da guerra também não é nada racional.

Komona passar a ver “fantasmas” – figuras visualmente impressionantes – e os rebeldes acreditam que ela seja uma feiticeira. Mesmo se tornando uma espécie de “consultora” do líder da facção, Komona continua explorada, precisa combater, pegar em armas e ajudar nas tarefas do acampamento.

No entanto, o filme não é sobre crianças cooptadas para a guerrilha, sobre a guerra na África ou ainda sobre a delicada questão dos albinos no continente – que acabam aparecendo na história, mas de forma bem superficial.

O filme é sobre Komona e o que pode acontecer com uma criança – ou duas, porque o bebê nasce quase no fim do longa – naquela África. Ela mata, foge, casa-se, fica viúva, engravida, é presa, dá à luz sozinha. Encontra em seu caminho violência, amor, ódio, e, por fim, um pouco de solidariedade e paz consigo mesma.

A escolha de foco acaba deixando a discussão política e a potencial força de denúncia do filme em um segundo plano (no entanto, sempre presente). A narrativa toma novos rumos a todo momento, a história é cheia de idas e vindas, o que pode se tornar um pouco cansativo. Por outro lado, ao focar a narrativa na menina, o diretor confere ao longa um tom extramente sensível. No papel de Komona, Rachel Mwanza ganhou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival Internacional de Berlim do ano passado. A Feiticeira da Guerra concorre ainda ao Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro.

Por Anaïs Fernandes, especial para o Oscar