Suporte NeoImagine | 1 de junho de 2010

O Escritor Fantasma

O diretor Roman Polanski retorna com um thriller vigoroso. O diretor, que permanece em prisão domiciliar na suíça (ele editou o filme na prisão), destila todo o seu cinismo em O Escritor Fantasma. Na trama, um escritor (Ewan McGregor) é contratado para redigir as memórias do primeiro ministro inglês Adam Lang (Pierce Brosnan), cuja figura […]

O diretor Roman Polanski retorna com um thriller vigoroso. O diretor, que permanece em prisão domiciliar na suíça (ele editou o filme na prisão), destila todo o seu cinismo em O Escritor Fantasma. Na trama, um escritor (Ewan McGregor) é contratado para redigir as memórias do primeiro ministro inglês Adam Lang (Pierce Brosnan), cuja figura política está agonizando em público.

Embora não admita, Polanski estabelece a todo o momento um paralelo com a realidade. É inescapável a comparação com o ex-primeiro ministro inglês Tony Blair. Nesse sentido, a composição metódica e referencial de Brosnan é fundamental.

O escritor fantasma guarda, em seu cerne, semelhanças com um dos maiores filmes do diretor franco polonês, Chinatown. Tal como naquele filme, o protagonista se embrenha em uma história de conspiração a qual não consegue resistir e tal qual naquele filme o olhar de Polanski é repleto de humor negro e suspeição.

A fita é brilhantemente dirigida. Polanski “pensa” seu filme com absoluto pragmatismo, mas não deixa de ser envolvente. A elaboração dos planos é um deleite cinéfilo. Desde a cena inicial, passando por uma conversa intimidadora em uma casa no meio da floresta, até o curso de um bilhete até chegar as suas mãos de destino. Contudo, os personagens e os diálogos tão inteligentes quanto cortantes nunca deixam de ser o foco da narrativa. Apesar da estrutura elegante e do desenvolvimento bem ritmado e consciente, se há alguma coisa que atrapalha a eficiência do thriller é justamente um de seus maiores atrativos. O cinismo de Polanski aqui parece coisa de mulher traída. Ao mostrar um Blair fantoche (na verdade uma velha teoria de muita gente), o diretor parece advogar em causa própria. Defenestrar o serviço de inteligência americano – pelo qual ele, Polanski, foi preso em colaboração com a polícia suíça em setembro passado – reduz a força do filme. Isso ocorre a partir do momento que a nossa realidade invade a de O escritor fantasma. Reparem na atriz que faz a secretária de estado americana. Qualquer semelhança com Condolezza Rice (ex–secretária de estado do governo Bush) não deve ser mera coincidência. Embora Polanski vá dizer o contrário.

De qualquer jeito, o novo filme do diretor é um filmaço. Com grandes chances de se inscrever como um dos melhores desse 2010. O cinismo de Polanski, ainda que contaminado por uma experiência pessoal recente, é o cinismo de um grande cineasta. E é um prazer ver um grande cineasta dando vazão a seus fantasmas.

Título original: The Ghost Writer
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Robert Harris
Elenco: Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Olivia Williams e Kim Catrall
Duração: 128 min

Por Reinaldo Matheus Glioche do Claquete Cultural