Cassia Alves | 26 de agosto de 2013

Muito barulho por nada | Crítica

  Todo autor que se preze aprecia Shakespeare. É uma contingência de ofício dos grandes cineastas. Joss Whedon, apesar da cotação ascendente desde o sucesso de “Os vingadores”, não está nessa horda. O que não o impediu de tentar um lugar ao sol. “Muito barulho por nada” (Much ado about nothing) é uma releitura da […]

much-ado-about-nothing

 

Todo autor que se preze aprecia Shakespeare. É uma contingência de ofício dos grandes cineastas. Joss Whedon, apesar da cotação ascendente desde o sucesso de “Os vingadores”, não está nessa horda. O que não o impediu de tentar um lugar ao sol. “Muito barulho por nada” (Much ado about nothing) é uma releitura da homônima peça shakespeariana já filmada tantas outras vezes. Whedon declarou que por muito tempo hesitou em fazer o filme porque não sabia ao certo o que dizer. Foi durante a promoção de “Os vingadores” que ele percebeu no que poderia contribuir para a clássica obra de Shakespeare em sua vertente cinematográfica.

“Muito barulho por nada” é um filme pequeno, rodado em 12 dias na casa do diretor durante um breve período de férias com amigos pessoais de Whedon; atores pouco famosos que tiveram seus grandes momentos em séries criadas por ele (Buff- a caça vampiros, Angel e Firefly).

Filmado em preto e branco, “Muito barulho por nada” propõe a estranheza como primeiro elemento a ser filtrado pela plateia. Apesar de situado nos tempos atuais, a linguagem é clássica shakespeariana do período vitoriano. Esse choque, advoga Whedon com seu filme, revela a modernidade do texto do autor britânico.

Se a linguagem é do inglês arcaico, o gestual dos atores não poderia ser mais contemporâneo.

Desse falso conflito subsiste a roupagem moderna do filme em sua estética avassaladora. Jovens e boêmios envoltos às armações do destino, às estripulias da inveja e às canduras do amor que assalta corações, mentes e vontades.

A estrutura da peça original é mantida e Whedon, com algumas artimanhas visuais, estabelece uma narrativa que aposta na fisicalidade dos atores (o tom teatral é ainda mais valorizado em seu filme do que nas adaptações anteriores da peça) para produzir efeitos transversais. Ou seja, que remetam diretamente aos designados por Shakespeare como ele entendia, o que o referencia como dramaturgo ainda relevante na radiografia das pandemias emocionais, e, simultaneamente, uma contagiante estrutura metalinguística em sua contemporaneidade.

A história? Em uma visita ao governador da Messina (Clark Gregg), um dos cavaleiros do príncipe, Cláudio (Fran Kranz) se enamora da filha do governador Hero (Jillian Morgese), o que desperta a raiva do irmão do príncipe, Don John (Sean Maher) que intriga para que o casamento não se realize. Enquanto isso, o conselheiro do príncipe, Benedick (Alexis Denisof) e a sobrinha do governador Beatrice (Amy Acker) vivem às turras, mas os demais percebem que eles estão, na verdade, apaixonados. E tramam para que se aproximem.

O tom farsesco é bem vindo nessa crônica atemporal sobre humanidades. Não há espaço para ambuiguidades, a não ser aquela orquestrada cenicamente por Whedon que expõe todo o vigor do texto de Shakespeare em contradição à opacidade dos personagens contemporâneos da dramaturgia atual frequentemente esvaziados de qualquer sentido dramático.

Talvez seja isso o que Whedon tenha a dizer com seu filme. Esteticamente ruidoso, “Muito barulho por nada” versa sobre o ridículo que atinge a todos nós. Seja o “estar apaixonado” ou a recusa em nos reconhecermos banais.

Ficha técnica:

Nome original: Much ado about  nothing

Direção: Joss Whedon

Roteiro: Joss Whedon

Elenco: Clark Gregg, Amy Acker eAlexis Denisof