André Sobreiro | 19 de setembro de 2017

Mãe!

Vou me permitir uma exposição real da primeira coisa que eu pensei assim que acabei de assistir Mãe!: O que? Eu não entendi nada! E é com essa frase que eu quero começar a falar desse filme. Mãe! é um audacioso – e pretensioso no melhor sentido da palavra – projeto de Darren Aronofsky, que […]

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Vou me permitir uma exposição real da primeira coisa que eu pensei assim que acabei de assistir Mãe!: O que? Eu não entendi nada! E é com essa frase que eu quero começar a falar desse filme.

Mãe! é um audacioso – e pretensioso no melhor sentido da palavra – projeto de Darren Aronofsky, que teve a divulgação baseada em poucas imagens e menos ainda informações do que se tratava. E faz todo o sentido esse trabalho quando se assiste ao filme.

A trama – em linhas bem gerais – é a história de um casal, ele poeta, ela sem profissão definida. Enquanto ele tenta lidar com um bloqueio criativo, ela faz as reformas da casa, a colocando de pé. E é em torno desse equilíbrio, que você nota uma fragilidade, que eles vivem. Até a chegada de um médico, que é colocado na casa como hóspede. E o equilíbrio acaba. Fim. Mais que isso é estragar a experiência do que é assistir Mãe!

Praticamente dispensando a trilha sonora, o filme é uma experiência impressionante aos sentidos. Os sons que a vida real faz estão todos ali, e vão causando uma percepção do olhar da personagem e das sensações dela que vão num crescente incômodo. E o mesmo se dá com o visual, na escolha das cores – repare nas cores do filme, em como elas vão evoluindo – da cenografia, de figurino, de tudo.

O elenco é outro ponto que merece destaque. Ed Harris entrega o que se espera dele, assim como Javier Bardem. Mas é no elenco feminino que seus olhos irão se focar. Muito se critica Jennifer Lawrence e sua apatia nos papéis. Críticas justas, na maioria das vezes. Aqui, Aronofsky soube usar da melhor maneira possível isso, mas forçou a atriz a ir além, colocando ela e sua personagem bem fora da zona de conforto habitual. Mas é dela os holofotes: Michelle Pfeiffer. Sua participação como a esposa de Harris é magistral e, a cada fala da personagem, um novo sentimento aflora em quem assiste. Eu disse que era um filme sensorial.

Mas afinal de contas, do que é o filme? Humanidade. Somos confrontados com a nossa humanidade, suas falhas, a relação entre Homem e Deus em cenas recheadas de metáforas e referências bíblicas.

Mais do que contar uma história – e o filme conta! – Mãe! se propõe a ser uma experiência a ser vivida na sala do cinema. Uma experiência por vezes irritante, por vezes incômoda, muitas vezes beirando o hipnótico, mas sem dúvida alguma, uma experiência que você não sai da sala sem amar. Ou odiar. Ao mesmo tempo, de acordo com as suas sensações. Uma obra-prima.