Ricardo F. Santos | 5 de novembro de 2014

Interestelar: Além do infinito

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/11/11.jpg”] Espaço: a fronteira final. A ficção científica sempre foi um dos gêneros onde a ambição humana e artística poderia se manifestar de forma mais bela e desafiadora. Assim como declarei em meu texto sobre Gravidade, Stanley Kubrick foi aquele que melhor aproveitou a proposta com 2001: Uma Odisseia no Espaço, que permanece enigmático […]

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Espaço: a fronteira final. A ficção científica sempre foi um dos gêneros onde a ambição humana e artística poderia se manifestar de forma mais bela e desafiadora. Assim como declarei em meu texto sobre Gravidade, Stanley Kubrick foi aquele que melhor aproveitou a proposta com 2001: Uma Odisseia no Espaço, que permanece enigmático até hoje. Admirador confesso do gênero e do trabalho de Kubrick, Christopher Nolan se arrisca com seu megalomaníaco Interestelar, filme que certamente vai dividir muitas opiniões. Eu aqui? Estou do lado que adorou.

Guardados a sete chaves (acredite, os 4 trailers lançados nem rasparam a superfície) a trama é situada em uma Terra desolada e que sofre com escassez de alimentos. Ali, o engenheiro Cooper (Matthew McConaughey) é selecionado pelo professor Brand (Michael Caine) para uma missão de exploração espacial, que visa utilizar buracos de minhoca para viajar grandes distâncias no Universo, a fim de encontrar mundos habitáveis e preservar a raça humana.

À primeira vista, não é uma premissa tão elaborada ou original. Mas não se engane, o roteiro de Nolan e seu irmão Jonathan tem mais camadas do que A Origem, e uma escala épica maior do que os três filmes do Batman combinados. Inspirados pelas teorias do físico Kip Thorne (que exerce a função de produtor executivo aqui), Nolan comanda sua equipe para criar algumas das imagens mais belas já vistas no Cinema nos últimos anos, com a ajuda de efeitos visuais competentes, câmeras IMAX operadas pelo cada vez melhor diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema e um desenho sonoro acertadíssimo. Tudo pautado na ciência e no realismo que o cineasta tanto abraça, o que também garante uma sensação de autenticidade para os eventos em cena – a simples explicação para o conceito de buraco de minhoca é eficaz, por exemplo. E também pode ser assombroso, como o pesado uso da Teoria da Relatividade para retratar radicais mudanças temporais: uma hora em tal ambiente pode representar décadas em outro.

Claro, os conceitos abordados aqui rendem muita exposição. O roteiro também peca ao trazer seus personagens soltando frases de efeito pesadas em diálogos casuais (“A humanidade nasceu na Terra. Não está destinada a morrer aqui”), o que de certa forma vai contra a autenticidade almejada pelo diretor. Mas juro, quando o longa engata na missão e começa o espetáculo, eu perdoei qualquer erro. A condução de Nolan durante as sequências espaciais, aliada à poderosa e original trilha sonora de Hans Zimmer (Oscar, não me decepcione…) rende uma experiência inebriante e que me deixou imóvel na poltrona, me perguntando se as imagens fantásticas ali eram mesmo obra de seres humanos.

Mas mesmo diante do espetáculo, o fator humano é genuíno. A relação entre Matthew McConaughey e a filha (interpretada pela excelente Mackenzie Foy durante a infância e por Jessica Chastain na fase adulta) é comovente e garante ao ator mais grandes momentos para sua cada vez melhor filmografia.

E quando vamos chegando ao final das quase 3 horas de filme, Interestelar vai conquistar e decepcionar, dependendo do espectador. É um clímax abstrato que exige uma imaginação fértil e também paciência, podendo ser genial ou simplesmente ridículo. Vai depender muito. Funcionou pra mim e se apresentou como uma solução lógica que vinha se construindo desde o primeiro frame da projeção.

Interestelar vai variar muito de uma pessoa a outra. A recepção crítica revela que uns amaram, outros detestaram e alguns simplesmente não viram nada demais. Aposto que já deixei claro minha posição diante do filme, que considero uma das experiências cinematográficas supremas de 2014, capaz de me fazer esquecer seus pequenos erros. Mas mesmo que eu tivesse odiado o filme, reconheceria a mera decisão de Christopher Nolan em experimentar algo tão ousado, e incomum no gênero blockbuster atual.

Felizmente, para mim, não ficou só nas boas intenções.

Obs: Veja em IMAX, sério.

Obs II: Há uma participação muito especial no longa. A essa altura, vários sites já devem ter matado a surpresa, mas ainda assim é bem bacana ver um ator renomado escondido da divulgação de marketing. Enfim.