Suporte NeoImagine | 24 de janeiro de 2012

Especial J. Edgar – A fragilidade dos machões

Ao longo de sua filmografia como diretor, Clint Eastwood sempre pareceu se esforçar para retratar personagens masculinos que, num primeiro momento, se mostram impenetráveis em relação às emoções. No entanto, no decorrer da narrativa esses mesmos personagens demonstram que a resistência parece ser uma defesa frente às agruras pelas quais passaram – e ainda passam […]

Ao longo de sua filmografia como diretor, Clint Eastwood sempre pareceu se esforçar para retratar personagens masculinos que, num primeiro momento, se mostram impenetráveis em relação às emoções. No entanto, no decorrer da narrativa esses mesmos personagens demonstram que a resistência parece ser uma defesa frente às agruras pelas quais passaram – e ainda passam – na vida. Para exemplificar essa temática, vamos recorrer a alguns filmes do diretor, em especial àqueles mais recentes.

Em Os Imperdoáveis (1992), William Munny (o próprio Eastwood) é um pistoleiro que abandonou a “profissão” – e uma série de hábitos reprováveis – quando encontrou uma mulher. Após a morte da esposa, William cria seus dois filhos pequenos com muita dificuldade até que ouve a notícia que há uma recompensa pela morte de dois homens. O pistoleiro decide, com muito amargor, aceitar o trabalho e chama um antigo companheiro, Ned Logan (Morgan Freeman), para ajudá-lo. O que é interessante, neste filme, é a desconstrução lenta que Eastwood faz da figura do pistoleiro, que ajudou a construir no Cinema. O filme é uma espécie de despedida de um dos gêneros fundadores de Hollywood – o Western – justamente por causa dessa desconstrução. William Munny é um homem amargurado e profundamente arrependido do que cometeu durante a vida. O fato de sua mulher – o elemento que proporcionou seu arrependimento – ter morrido só aumenta essa amargura. William vai atrás dos homens principalmente por conta do que fizeram: cortaram o rosto de uma mulher. Essa linha tênue entre a dureza que o pistoleiro ainda exibe (e boa parte do ato final é centrada no fato de que não há redenção possível para ele) e sua tentativa quase que desesperada de se apegar às emoções, ao arrependimento e ao que julga certo é que move o filme.

Sobre Meninos e Lobos (2003) se volta para Jimmy Markun (Sean Penn), ex-líder de uma gangue, agora já em uma vida legalizada, que tem a filha assassinada. O acontecimento traz à tona sua relação com dois amigos de infância, Dave Boyle (Tim Robbins) e Sean Devine (Kevin Bacon). Jimmy demonstra profundo amor pela família e é justamente quando perde a filha que seus instintos mais violentos voltam à tona.

Já em Menina de Ouro (2004), Eastwood retira do roteiro maniqueísta de Paul Haggis uma relação muito tocante entre um treinador de boxe (o diretor) e uma garçonete (Hilary Swank) cujo sonho é ser lutadora, apesar da idade avançada. Cheios de feridas emocionais causadas pela família, os dois encontram nessas feridas uma relação de carinho que é, para o treinador, também uma chance de redenção.

Nota-se que a relação familiar é, para Eastwood, o que separa os homens de sua violência essencial. É também nessa relação – que não necessariamente é construída com a família de sangue – que há a possibilidade de redenção e de perdão, que parecem ser caras ao cinema de Clint Eastwood. É através da família que os machões estereotipados se transformam em humanos.