André Sobreiro | 18 de agosto de 2009

À Deriva

A mais recente obra do cineasta Heitor Dhália – conhecido do público por O Cheiro do Ralo, com Selton Mello – é daqueles filmes produzidos para gerar identificação. Não que ele tenha sido produzido com esse intuito, mas os temas abordados de alguma forma atingem o espectador e evocam memórias. O ambiente é a década […]

À Deriva

A mais recente obra do cineasta Heitor Dhália – conhecido do público por O Cheiro do Ralo, com Selton Mello – é daqueles filmes produzidos para gerar identificação. Não que ele tenha sido produzido com esse intuito, mas os temas abordados de alguma forma atingem o espectador e evocam memórias.

O ambiente é a década de 80, notada apenas pela música e figurino. Estamos em uma cidade afastada e litorânea e acompanhamos intimamente a vida do Mathias (Vincent Cassel), um escritor francês que mora no Brasil, sua esposa Clarice (Débora Bloch) e a filha mais velha deles, Filipa (a estreante Laura Neiva). Além deles, completam a família mais um casal de filhos, mais novos que Filipa.

O que aparenta ser uma família perfeita, na verdade é um lar despedaçado. O casamento de Mathias e Clarice claramente acabou e o escritor arruma uma amante, Clarice vive uma vida com tendências alcoólatras e Filipa é uma adolescente na descoberta da vida.

Essas questões simples ganham uma vivacidade sem tamanho nas mãos do diretor e, principalmente do trio de atores. Vincent Cassel atua com bastante naturalidade em uma línuga que não é a sua nativa e provoca um olhar de compaixão pelo escritor mesmo quando ele trai a esposa. Laura Neiva, por sua vez, mesmo estreante mostra um claro talento para o cinema. Sua interpretação é leve, verdadeira, dando a real sensação que a atriz realmente vivenciou aquelas situações.

O destaque maior do elenco, porém, é a atriz Débora Bloch. Reconhecida por sua beleza associada ao imenso talento, Bloch se permite um enfeiamento em cena. Essa caracterização, não segue a linha das produções hollywoodianas com próteses e quilos de maquiagem, mas sim em um rosto limpo, que se permite mostrar sinais de cansaço e de vivência. Assim, o público tem a chance de perceber as expressões da atriz e como ela as empresta para a dor da personagem, sem dúvida a maior dor do filme todo.

Com um trabalho de arte bastante cuidadoso (basta observar os figurinos de todo o elenco), direção firme que mantém o filme no eixo e um elenco bastante talentoso, A Deriva é uma produção nacional de qualidade e, com certeza, aponta um importante caminho do nosso cinema. Filmão.