Eric P Sukys | 3 de novembro de 2015

cine remix: 007 contra os Espectros

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Jame_bond_silhouette.jpg”] James Bond sorveu seu martíni, distinguindo o odor alcoólico dos sabores a se misturar na bebida cristalina: o gin, a vodca, o toque quase etéreo do limão. Estava tão concentrado, tão acostumado a aqueles momentos, que nem os solavancos do avião pousando em Roma o atrapalharam, sacudindo-o ou à sua bebida. Concluído o […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Jame_bond_silhouette.jpg”]

James Bond sorveu seu martíni, distinguindo o odor alcoólico dos sabores a se misturar na bebida cristalina: o gin, a vodca, o toque quase etéreo do limão. Estava tão concentrado, tão acostumado a aqueles momentos, que nem os solavancos do avião pousando em Roma o atrapalharam, sacudindo-o ou à sua bebida. Concluído o desembarque, ele logo se encaminhou à locadora de carros (BMW?, Porsche?, não conseguia se decidir) de onde sairia dirigindo para a costa italiana, até o glamouroso hotel que lhe haviam reservado.

Pilotando um Lamborghini (afinal, estava na Itália), ele deslizou por estradas recém-asfaltadas, a contornar morros e serpentear por pistas sinuosas como as mulheres que lhe ficaram na lembrança. Viu no retrovisor um vulto, e não se assustou nem um pouco. Desacelerou, mudou de faixa, na tentativa de rever aquela sombra que o seguia. Não viu ninguém.

Devia ser um agente russo, ou um terrorista, ou um capanga disfarçado, como sempre, pensou Bond. Mas o vulto não reaparecia, apenas uma ou outra sombra, de relance, se insinuava nos espelhos. 007 esgotou seu repertório de truques, fez retornos para tentar inverter a perseguição, parou em acostamentos e em postos de gasolina; nada adiantou.

Chegou ao hotel ainda pensando no vulto. Fez o check-in, distraído: balbuciou “James”, em vez da identidade designada para a missão. Subiu com pressa ao seu quarto, nos andares superiores. O barulho dos sapatos ecoava nas paredes de pedra do lugar, um castelo medieval cujos quartos haviam sido modernizados e reformados para abrigar os hóspedes.

Bond resolveu tomar um banho, para descansar. A água quente do chuveiro, junto aos barulhos da maré e do vento contra as montanhas lá fora, o relaxou. Com seu roupão preferido, sentou-se na cama. Ouviu a campainha tocar.

Antes de se levantar, ele apagou a luz, no que pôde ver pela fresta de baixo da porta o movimento de uma sombra. Pegou sua arma e foi abrir a porta lentamente. Nisso, passou pelo canto de seus olhos outro vulto, dentro do quarto. Ele logo pôs as costas contra a parede, aumentando seu campo de visão: ninguém. Um movimento furtivo no espelho o deixou desconfiado. Com agilidade, abriu a porta e agachou-se, disparou seis tiros nos homens que enfim se revelaram. Não se ouviu nenhum ruído de corpos caindo.

Bond se levantou sem tirar da mira os homens, que, ele percebeu, estavam desarmados. Notou que tinha em comum com os estranhos o senso de elegância: vestiam smokings bem alinhados, calças impecáveis, penteados firmes e resolutos. O agente secreto ficou muito incomodado com aqueles seis homens, cinco morenos e um loiro, brancos como fantasmas e tão diferentes dele, encarando-o com estranheza. Reconheceu neles algo de familiar, como se, além do estilo, compartilhassem outras coisas: memórias, missões, identidades falsas, emoções.

Da porta aberta, vieram os ruídos de um carrinho de limpeza, empurrado por um funcionário.

“Gentlemen”, disse Bond, com a maior sutileza que conseguiu, indicando-lhes a saída com a arma. Sua voz grave reverberou no quarto, nas paredes de pedra do corredor. Nenhum deles se mexeu. Bond repetiu o pedido, também sem qualquer efeito. Apontou a eles o revólver de novo e anunciou em seu sotaque britânico: “Vou contar até três”.

“Um.”

“Dois.”

“Falando sozinho, signore?”, disse o funcionário de limpeza.