Bruno Martuci | 14 de setembro de 2016

A Bruxa de Blair

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/09/the-woods-2016-teaser-trailer.jpg”] É oficial: 2016 tornou-se o ano para filmes de terror. Já se passaram 17 anos desde que “A Bruxa de Blair” mudou drasticamente o gênero de terror e a indústria de filmes independentes, e ainda assim sua sequência surpresa, “Bruxa de Blair” (anteriormente intitulada “The Woods”) espera que você tenha esquecido a história […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/09/the-woods-2016-teaser-trailer.jpg”]

É oficial: 2016 tornou-se o ano para filmes de terror.

Já se passaram 17 anos desde que “A Bruxa de Blair” mudou drasticamente o gênero de terror e a indústria de filmes independentes, e ainda assim sua sequência surpresa, “Bruxa de Blair” (anteriormente intitulada “The Woods”) espera que você tenha esquecido a história – ao menos um pouco. Encabeçado por Adam Wingard (“Você É o Próximo”, “The Guest”) e escrito por seu colaborador regular, Simon Barrett, o longa é filmado, construído e executado do mesmo modo que o original. A tensão gradativamente cultivada é capaz de satisfazer puritanos do gênero – talvez o suficiente para revigorar a franquia em potencial -, mesmo que se mostre familiar a maioria das pessoas.

Iniciando no famoso – e assustador – casarão onde o primeiro filme termina – um fato já mostrado pelo trailer – Wingard e Barrett nos introduzem a quatro novos rostos, dos quais um possui laços de sangue com uma das vítimas de “A Bruxa de Blair”, Heather. Motivados a visitar a mesma floresta em busca de respostas, o grupo também almeja o feitio de um documentário durante a estranha viagem do amigo. Mas em vez de passar as últimas horas antes da jornada preparando-se para escaladas ou repondo o estoque de alimentos, os cineastas amadores introduzem ao público uma gama de câmeras, cujo principal objetivo é prover máxima e ininterrupta cobertura… Do que quer que seja.

Confiante e sucinto, o preâmbulo resgata obras como “Atividade Paranormal”, “Cloverfield – Monstro” ou qualquer outra realizada em found footage e lançada no período pós “A Bruxa de Blair” – além de mostrar que, em excesso, essa vertente cinematográfica pode entrar numa decadência irreversível. Enquanto nos parece que esses cineastas sabem que estão entrando num território místico e palco de várias lendas assustadoras, essa sequência ainda se estende, mesmo que Wingard habilmente modernize as câmeras escondidas; mas diferentemente do original, “Bruxa de Blair” traz consigo um ritmo mais harmônico e mais dinâmico.

Drones, câmeras na mão e equipamentos de manuseio mais fácil – como POVs – são implementados, tornando as tomadas mais fluidas e mais agradáveis, justificadamente homogeneizado e cuidadosamente editado. Como o original, Wingard e o diretor de fotografia Robby Baumgartner sabem o que fazem, violando as tênues linhas de narração para nos deixar desorientados assim como os campistas.

Pareado com um design de som que enfatiza barulhos repentinos mais que qualquer coisa, sustos acontecem em abundância através da primeira metade esporadicamente humorada. Wingard continua a utilizar a comicidade como meio de colocar o público num falso estado de segurança – preparando-os para nos apresentar um arco dramático tão abrupto que é capaz de nos fazer segurar o braço da cadeira sem soltá-lo uma vez sequer -, mas sua tendência para a repetição logo toma conta do filme. Até mesmo um dos personagens exclama “Pare de fazer isso!” depois de um susto particularmente não justificado. O som pode ser maravilhoso – extremamente maravilhoso, visto que esta é a marca dos filmes do diretor -, mas impossível de ser captado com tal perfeição.
E esse pode ser parte do problema com “Bruxa de Blair”. O que parecia novo acabou caindo da repetição e na prolixidade, fazendo com que o found footage entrasse em desuso. Somos espertos o suficiente para compreender que esses filmes são feitos para nos capturarem – e tal ciência pode nos distrair da história mesmo quando os elementos formais são difíceis de falhar.

O cinema deveria ser admirado, mas quando copiamos amadores, onde podemos traçar a linha divisória em termos de valor de produção? Espectadores não tiveram a mesma preocupação com “A Bruxa de Blair” porque foi feito com pouco mais de vinte mil dólares. Agora, mesmo com um orçamento de cinco milhões, os fãs podem se perguntar o porquê do cabelo desgrenhado da personagem não bloqueia a visão das câmeras P.O.V. ou como alguém conseguiu encontrar as gravações, visto que estavam perdidas numa floresta assombrada.

Apesar dos furos no roteiro e na produção, essa nova iteração surge como a sequência que todos estávamos esperando – principalmente se compararmos ao fracasso de “A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras”, uma continuação mal desenvolvida e colocada às pressas no mercado por razões financeiras. Wingard, nesse remake-sequência-reboot, vai para o lado totalmente oposto, colocando um véu de segredos e lançando-o quase duas décadas após a estreia do original. E mais importante, ele fez o possível para se manter verdadeiro ao espírito do universo criado por Eduardo Sanchez e Daniel Myrick – outra prova de que “Bruxa de Blair” pode ser considerado mais um reboot que qualquer outra coisa.

A grande questão feita no longa é se os atos, em sua completude, marcam o início de uma nova franquia ou o fim do subgênero found footage. Claro, ambas as questões são parcialmente dependentes dos resultados de bilheteria, mas é notável o quão diferente o filme é, artisticamente falando, que o “oficial”.

Enquanto o estúdio responsável escolheu Joe Berlinger para encabeçar o projeto, o qual é mais conhecido por dirigir documentários, ele mesmo se distancia daquilo que tornou “A Bruxa de Blair” tão aterrorizante: o medo do escuro, do desconhecido, daquilo que se esconde entre as árvores. Figurativamente, conta-se uma história bem diferente daquela criada por Myrick e Sanchez, mas o clímax e a atmosfera conseguiram ser mantidas – e muitas vezes, melhoradas.

Ainda diferenciando-se do original, Wingard decide responder algumas questões deixadas em aberto: opta-se por fazer algumas tomadas mostrando a antagonista, mesmo que de forma breve. Conseguimos vê-la se escondendo entre as árvores, arrastando corpos, atacando os cinegrafistas amadores. A trama ainda faz referência à própria mitologia do filme, explicando que as pessoas tornam-se alvo da maldição da bruxa ao passarem uma noite inteira acampando na floresta, além de justificar o porquê dos supostos sobreviventes estarem de costas para a câmera e encarando uma parede nos últimos momentos.

O “ponto fraco”, por assim dizer, vem com a escolha de mostrar a vilã. Caso o filme tivesse alguns minutos a mais, o arco da personagem poderia ter sido muito melhor aproveitado. Mas mesmo com a trama em aberto, não podemos deixar de nos contentar com a produção da obra e os efeitos catárticos que nos são causados – além da sensação de “algo a mais está por vir” quando saímos da sala do cinema.

Assista ao trailer de ‘A Bruxa de Blair’:

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