| 8 de dezembro de 2017

Cine Sinistro | Que plot twistão da porra!

Imagine só se todo filme, por mais complexo que fosse, tivesse de ser resumido em alguns pares de palavras, numa espécie de tuíte-biográfico. É batata arriscar que as histórias articuladas a partir de plot twists provavelmente seriam reduzidas às reviravoltas dos seus roteiros. “Aquele filme em que o fulano estava morto o tempo todo”; “a […]

Imagine só se todo filme, por mais complexo que fosse, tivesse de ser resumido em alguns pares de palavras, numa espécie de tuíte-biográfico. É batata arriscar que as histórias articuladas a partir de plot twists provavelmente seriam reduzidas às reviravoltas dos seus roteiros. “Aquele filme em que o fulano estava morto o tempo todo”; “a história que não passou de uma alucinação do cicrano”; “a trama em que o verdadeiro assassino era o mocinho”, e por aí vai.

Cena de Jogos Mortais - 2004

Essa enxurrada de spoilers não seria o maior dos problemas em resumos de bons filmes, aqueles com roteiros intrincados, tramas bem encaixadas, diálogos potentes e edição cativante. Nesses casos, a revelação do plot twist viria apenas como uma cerejinha do bolo, um mimo para o público (que já estaria satisfeito com o restante da sessão).

Acontece que o vício no uso de plot twists, mesmo quando não necessários, faz com que muita coisa ruim venha sendo lançada. É como se todo o filme existisse só para preencher (de forma medíocre) o espaço que rodeia a cena reveladora, aquela que deveria explodir nossos miolos, mas só acelera os bocejos.

E é aí que chegamos ao cinema de terror. Mais do que qualquer outro gênero, é ele quem melhor se apropriou do recurso de plot twists para assustar, enojar e surpreender. Desde O Gabinete do Doutor Caligari, de 1920, passando pelas revelações mindfuck das histórias de Alfred Hitchcock, até chegar aos sustos verossímeis causados pelos found footages do século XXI, é na sombra do terror que mora a verdadeira potência da surpresa.

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Porém, também são características de muitas produções de terror os menores orçamentos, os piores elencos e as continuações mais mercenárias do cinema, aquelas que só existem pra tentar repetir o lucro da primeira parte da série, mas que quase sempre derrapam nesse objetivo. É o caso, por exemplo, do recente Jogos Mortais: Jigsaw, a que assisti essa semana.

Que filme esquecível, amiguinhos. Eu até entendo que uma das intenções, sete anos após o lançamento da última parte da saga, era apresentar a perversidade punitiva de Jigsaw a um novo público, jovem demais para ter acompanhado aquele banho de bom cinema no início dos anos 2000.

Para isso, no entanto, seria necessário resgatar a punção criativa do diretor James Wan – aquela vocação gore que nos fazia afundar na poltrona, roer as unhas e quase despertava um vomitozinho de vez em quando. É inegável o legado, narrativo e financeiro, dos primeiros filmes da série – que surgiu de forma independente e despretensiosa – mas não dá pra engolir a divulgação enganosa dessa oitava sequência, que pintou o filme como a volta triunfal de Jogos Mortais. Como fã, eu sinto muito, mas está mais para enterro de uma boa ideia.

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Mas voltemos ao tema do título: os plot twistões da porra. No sentido literal, eles são as “torções de enredo”, aquelas revelações que fazem a cabeça entrar em parafuso. E é exatamente por esses mini-infartos que alguns filmes de terror ficam marcados para sempre na memória coletiva do público. É o caso de O Corpo que Cai (1958), Psicose (1960), O Bebê de Rosemary (1968), Sexta-Feira 13 (1980), A Bruxa de Blair (1999), Os Outros (2002), A Vila (2004), O Nevoeiro (2007), Arraste-me para o Inferno (2009), Corra! (2017), Grave (2016), entre outros.

Todos esses exemplos oferecem um roteiro muito bem desenhado que serve de estofo para que o plot twist brilhe e torne aquela uma história marcante. O problema é quando não há nada de relevante além de uma tentativa desesperada de impressionar o público com uma reviravolta maluca – e quase sempre previsível, como Jogos Mortais: Jigsaw e tantos outros filmecos dispensáveis por aí.

Para ganhar meu coração, os melhores plot twists do terror são aqueles totalmente imprevisíveis, que me fazem questionar a minha capacidade de observação e percepção; os que enganam público e personagens, sendo revelados de maneira única para quem está fora e dentro do filme; e os que surgem nos últimos minutos da história, oferecendo um desfecho que resume toda aquela confusão e que me deixa com cara de tacho por não ter percebido as pistas antes.

E para vocês, amiguinhos, qual é o plot twist do cinema de terror que mais merece o seu troféu de plot twistão da porra?

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