André Sobreiro | 24 de agosto de 2017

Como Nossos Pais

A simples menção ao título do mais recente filme de Laís Bodanzky já me faz começar a cantarolar a música de Belchior (e me achar com o talento de Elis Regina). O que, em momento algum é algo ruim para o filme, muito pelo contrário. Ao longo de toda a trama, os clássicos versos “minha […]

como

A simples menção ao título do mais recente filme de Laís Bodanzky já me faz começar a cantarolar a música de Belchior (e me achar com o talento de Elis Regina). O que, em momento algum é algo ruim para o filme, muito pelo contrário. Ao longo de toda a trama, os clássicos versos “minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais” ecoa na mente e complementa a trama.

Como Nossos Pais conta a história de Rosa, uma mulher que sonha em ser dramaturga mas, em nome da estabilidade de seu núcleo familiar – duas filhas e um marido idealista – acaba por se tornar uma produtora de conteúdo para marcas. Mas essa tão buscada estabilidade contrasta com a instabilidade de seu núcleo familiar maior. Os pais são separados, o irmão vive um casamento por um fio. E, em uma revelação chocante, Rosa descobre que poucas certezas familiares que ela tinha, na verdade, são falsas.

E é nessa desconstrução de certezas e construção de novas verdades para sua vida que acompanhamos a história de Rosa e sua mãe, Clarice. A dualidade entre elas (olha a música aí de novo), por sinal é um dos pontos altos do filme. Mãe e filha entram em conflito quase que instintivamente a cada encontro. Cabe, aliás, a Clarisse Abujamra e a Maria Ribeiro muito do mérito do filme. Enquanto Clarisse faz uma mãe que nos incomoda com uma secura e egoísmo que demoramos a entender, Maria Ribeiro faz de Rosa uma mulher cheia de medos, inseguranças e falhas, que beiram à irritação e, talvez por isso mesmo, muito reais.

Seus conflitos, por vezes triviais, criam com o espectador vários momentos de identificação. A vida, afinal de contas, nem sempre é feita de grandes rompantes e dramas e são os pequenos que estão ali, no cotidiano.

E as duas atrizes entregam isso com muito talento. Maria Ribeiro, por sinal, faz de Rosa uma mulher tão real que coloca em questão questões nossas, banais, mas que no todo ganham muita importância.

Outro que merece destaque é Jorge Mautner. No papel de Homero, o pai de Rosa, o cantor/ator cria um personagem cativante, com uma loucura cheia de leveza e verdades que nos fazem refletir: seria ele o louco ou louco somos nós que não levamos a vida assim?

Reflexão, diga-se, é algo que o roteiro do filme provoca. O trabalho de Laís e Luiz Bolognesi com o filme é de um refinamento muito bem feito. É muito fácil acreditar nas verdades daqueles personagens e, ao mesmo tempo, seguir o fio da meada proposto.

Um belo trabalho de cinema que merece todos os elogios recebidos até agora.

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