| 15 de julho de 2017

Entrevistas com Karine Teles e Tom Karabachian, protagonistas de ‘Fala Comigo’

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Fala-Comigo-3_foto-Bruno-Melo.jpg”] Em ‘Fala Comigo’, que chega aos cinemas depois de ser premiado com os troféus de melhor filme e melhor atriz (Karine Teles) no último Festival do Rio, o adolescente Diogo (Tom Karabachian) e Ângela (Karine), uma mulher já na casa dos 40 anos, vivem um romance. A relação começa de forma inusitada: ela […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Fala-Comigo-3_foto-Bruno-Melo.jpg”]

Em ‘Fala Comigo’, que chega aos cinemas depois de ser premiado com os troféus de melhor filme e melhor atriz (Karine Teles) no último Festival do Rio, o adolescente Diogo (Tom Karabachian) e Ângela (Karine), uma mulher já na casa dos 40 anos, vivem um romance.

A relação começa de forma inusitada: ela é paciente da terapeuta Clarice (Denise Fraga), mãe do garoto. Diogo tem como hábito ligar anonimamente para mulheres e se masturbar ouvindo a voz delas, e durante as ligações vai conhecendo um pouco mais sobre Ângela, recém-saída de um casamento e em depressão.

O filme escrito e dirigido por Felipe Sholl mexe com questões que vão além do preconceito da sociedade em relação a um relacionamento entre um homem mais novo e uma mulher mais velha, mas também toca na dificuldade de comunicação e falta de diálogo até mesmo dentro de uma família.

Na semana de lançamento do filme, Karine e Tom conversaram com o Salada de Cinema. Leia abaixo:

Salada de Cinema – Como foi o processo de preparação de vocês, a construção de uma intimidade que fica muito latente no filme?

Karine Teles – Eu acho que isso é muito um mérito do Felipe, o diretor. De saber conduzir a gente para isso. Hoje eu estava lembrando, que depois que o Tom passou no teste e a gente estava começando a se conhecer, fez as primeiras leituras, o Felipe falou “acho que seria bom vocês se conhecerem um pouco melhor, combinem de fazer alguma coisa”. Aí a gente combinou de jantar fora, eu e o Tom num restaurante. E foi engraçado, porque a gente nem se conhecia e as pessoas olhavam sem saber se a gente era um casal, se éramos amigos, ou mãe e filho. Já foi muito potente isso, porque de alguma forma a gente experimentou o preconceito da sociedade com esse casal.

Além disso, a gente teve uma coisa muito rara, que foi tempo para ensaiar. A gente ensaiou pouco mais de um mês e acho que isso fica nítido na tela, tá todo mundo ali muito à vontade, muito seguro, disponível para as situações do filme. Acho que se não tivesse esse cuidado várias cenas do filme poderiam virar outras coisas, completamente diferentes, para um outro lado que seria outro filme.

Tom Karabachian –  A primeira vez que eu vi a Karine foi no teste. E lá a gente já viu que a química funcionou. O teste foi incrível, e a gente saiu de lá muito com vontade de fazer esses personagens. O Felipe conduziu a gente de uma forma tão delicada e doce, como ele é, que o processo foi bem calmo, bem pensado. Ele deu tempo ao tempo… O Felipe demorou dez anos para lançar o filme, desde que escreveu, então soube aproveitar cada tempo necessário.

Interessante que o filme demorou dez anos entre ter sido escrito e finalmente ser lançado, e hoje sai num momento no qual os problemas de comunicação dentro da sociedade parece ainda mais forte. Como vocês acham que o filme se relaciona com o que mundo vive hoje?

Karine Teles – Acho que é um bom momento para a gente lançar este filme e acho que ele levanta discussões importantes. Quanto essa coisa da dificuldade de comunicação, acho que isso vem de muito tempo, não é um privilégio da nossa época. É uma dificuldade do ser humano mesmo, e tanto que por isso existem tantas obras de arte, tantos filmes, livros e músicas a respeito disso. É realmente uma questão chave na vida das pessoas. A capacidade de se conhecer, de saber o que quer, de enfrentar a opinião alheia para fazer o que se gosta, e o que se quer.

E como a gente está nessa época meio estranha, em que tem um conservadorismo muito explícito e muito descarado, as pessoas não tem nenhum pudor em ser preconceituosas, arrogantes, violentas e grosseiras. Tem gente que acha isso bonito, que tem orgulho de ser assim. E aí um filme que fala de amor de uma maneira tão direta e instigante, acho primoroso que tenha acontecido isso agora. Espero que o maior número possível de pessoas assista ao filme não só por isso, mas porque ele fala muito da gente. Lembro de ter lido o roteiro e ficar com a sensação de que toda vez que você acha que entendeu alguma coisa sobre os personagens, vem uma outra cena e derruba este seu conceito. Acho isso lindo, para mostrar que a gente tem que ser mais paciente e generoso com o outro.

Tom Karabachian – Exatamente. A gente precisa rever nossos próprios conceitos. Todos nós temos preconceitos e acho que esse filme chega para falar sobre amor, e sobre abrir um leque de visão que a gente às vezes fecha por viver numa sociedade tão patriarcal. Então esse filme vem justamente para tentar comunicar e fazer a gente perceber isso. Fazer a gente abrir nossos canais e ver o que o mundo tem para oferecer e tentar, da melhor maneira, transformar isso em amor, em coisas bonitas, que te fazem feliz.

Nas sessões que vocês já acompanharam do filme, qual é o feedback que vem do público, diante de um assunto que pode ser considerado polêmico?

Tom Karabachian – A maioria das pessoas vem falar com a gente trazendo uma reação muito positiva. As pessoas normalmente vem falar o quanto gostaram, mesmo tendo gente que discorda do filme, o bom é ver que muita gente sai da sessão querendo falar sobre. A gente gosta de ver o filme com o público e ficar de olho na reação das pessoas em cada cena. E o mais legal é que, quando o Felipe escreveu, ele não fez nenhuma piada, o filme não é uma comédia. Mas tem uns lugares cômicos no filme, que acho que vem da ironia, que nem o Felipe sabia que isso ia acontecer. Só quando a gente viu o resultado foi ver a provocação na cara das pessoas.

Karine Teles – Acho que é um riso que às vezes vem da ironia, mas também tem o riso do espelho, de se reconhecer ali e achar graça das situações. Mas é um filme bem-humorado, otimista.

Ao mesmo tempo, a personagem da Denise Fraga, que faz a mãe do Diogo, acusa a Ângela de estar abusando de um adolescente. Isso foi uma preocupação na hora de tratar a questão no roteiro?

Karine Teles – A gente conversou muito sobre isso. E é engraçado que ontem a gente teve uma sessão do filme com o Contardo Calligaris [psicanalista e colunista da Folha de S. Paulo], e ele falou que se existe algo que pode ser considerado abuso no filme é do Diogo com a Ângela, de ligar anonimamente para a casa dela e se masturbar ouvindo a voz dela. Ela, que é a pessoa mais velha, em nenhum momento abusa dele.

Essa fala da personagem da Denise vem justamente da ignorância dela sobre a situação. Ela não sabe o que está acontecendo, sabe apenas que o filho está ficando com uma mulher mais velha e essa é a única informação que ela tem. Ela, que é a terapeuta da Ângela, conhece essa essa mulher deste momento de fragilidade quando ela foi procurar ajuda. Ela tira dessa situação a conclusão de que o relacionamento pode fazer mal para o filho de 17 anos, que ela também não conhece!

Uma coisa que eu queria falar é isso: a gente colocou o trailer do filme nas redes sociais e a maioria das reações negativas vem de gente que ainda nem assistiu ao filme. Então, assiste o filme primeiro, e se continuar achando isso tudo, vou respeitar sua opinião. Mas o preconceito está muito arraigado, faz parte do ser humano. A gente lida com o preconceito como uma forma de se defender, se encontrar no mundo e afirmar nossas posições, mas é muito lindo quando você consegue enxergar através do seu preconceito. Estes são os momentos mais libertadores, quando você consegue passar a barreira de uma coisa que você achava que era definida e descobre uma outra possibilidade. Espero que as pessoas vivam muitos momentos assim na vida, porque é muito bom!

Assista ao trailer de ‘Fale Comigo’:

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