multitela: Por que Big Little Lies é tão importante porém tão decepcionante?
[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/07/17-big-little-lies.w710.h473.jpg”] Desde que o projeto foi encomendado, muito se podia falar e esperar de Big Little Lies: encabeçado por Reese Witherspoon e Nicole Kidman, a história baseada seria baseada no livro de Liane Moriarty, que é considerado um grande sucesso e, além de tudo, praticamente um arauto de manifesto feminista em forma de subtexto […]
[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/07/17-big-little-lies.w710.h473.jpg”]
Desde que o projeto foi encomendado, muito se podia falar e esperar de Big Little Lies: encabeçado por Reese Witherspoon e Nicole Kidman, a história baseada seria baseada no livro de Liane Moriarty, que é considerado um grande sucesso e, além de tudo, praticamente um arauto de manifesto feminista em forma de subtexto inteligente combinado com uma trama de mistério e, acima de tudo, “quem matou quem” – algo que nós brasileiros já estamos extremamente acostumados de ver em nossas tão subestimadas novelas.
Com tudo isso, não podia dar errado: Nicole e Reese fizeram a “venda” do projeto para a HBO, prometendo que quem dirigiria a minissérie de sete capítulos seria ninguém menos que Jean-Marc Vallée – diretor de Clube de Compras Dallas e Livre, esse último protagonizado pela própria Reese. Uma grande promessa de ótima encenação, de produção caprichada da HBO – e ainda com Reese e Nicole assumindo papeis de produtoras executivas do projeto. O resultado? Uma recepção acalorada da crítica. Incrível como todos esperavam? Talvez não tudo isso.
A história gira em torno de três mães que vivem em uma espécie de subúrbio clássico norte-americano. Tudo começa com a chegada de Jane (Shailene Woodley) nesse ambiente e os primeiros passos de adaptação à comunidade local. No primeiro dia de escola de seu filho Ziggy, o menino é acusado de agredir fisicamente a filha de Renata (Laura Dern, sempre incrível). Nesse momento, o vínculo começa a se estabelecer entre Jane e Madeline (Reese Witherspoon), que logo introduz sua companheira de todas as horas Celeste (Nicole Kidman). Nessa mistura de situações bem cotidianas, temos uma mãe que busca perfeição, outra que parou de trabalhar para lidar com os filhos e aguenta agressão do marido, e outra que esconde um passado mais que complicado. Todos os ingredientes estão aqui, dispostos, prontos para serem estruturados da melhor maneira possível.
Porque, então, tudo não está incrível ou mesmo uma obra prima, como dizem por aí na grande maioria dos veículos especializados? É notável o esmero da produção, que é caprichada em um nível HBO mesmo. Porém, alguns vícios de linguagem infelizmente não foram deixados de fora. Honestamente, a estrutura narrativa, que inclui flashbacks constantes, e a maneira como a história foi contada não convenceu muito esse espectador que vos fala.
Sabemos do grande talento de Vallée, principalmente em humanizar personagens complexos e extrair grandes performances de seus atores – a simplicidade de Matthew McConaughey e o desprendimento de Jared Leto em Dallas são primorosas. Até mesmo a crueza da performance de Reese em Livre é digna de reconhecimento. Porém, a questão nunca foi a capacidade do realizador em dirigir atores – não à toa, Nicole, Reese, Shailene estão ótimas, mesmo que ofuscadas por uma sempre eficiente Laura Dern. A questão é o excesso de maneirismos na condução, que não parece em nenhum momento segura da história que está contando ou mesmo do roteiro que está sustentando sua estrutura.
Tudo parece um grande delírio – e sem uma proposição clara de que essa era a intenção. É nítido que existem cenas e diálogos brilhantes, mas todos estão meio soltos em cenas de devaneios grandiloquentes e sonhos bizarros, que em sua grande maioria não adicionam quase nada à trama propriamente dita, Se a ideia era manter o clima de suspense, tudo poderia ter sido feito de outra maneira – e não sempre tentando parecer como uma grande sequência de músicas de um programa da MTV que junta diversos videoclipes dirigidos pelo mesmo (ótimo) diretor monotemático.
Ainda, o subtexto feminista ficou ofuscado demais por uma ideia de manter na trama esse tal grande mistério – que, ao final, pode muito bem ser desvendado já no primeiro ou segundo episódio; merecíamos saber antes até para que pudéssemos nos compadecer mais da situação em si. No ato final, entendemos todo o mise-en-scène Agatha Christie; no entanto, isso acontece bem mais pelo ótimo desempenho de todo o elenco feminino do que pela direção ou roteirização em si. Mesmo com produção caprichada e – principalmente – enquadramentos magníficos, nada justifica a quantidade de pontas soltas ou mesmo personagens que aprecem pouco e não se explicam, além de muitas vezes aparecem muito e nunca terem nada importante ou especial a dizer.
Por isso, por mais que Big Little Lies seja um ótimo entretenimento e um marco importante no atual momento do protagonismo feminismo, o resultado é muito mais uma grande decepção – e, essencialmente, porque poderia (e deveria) ser muito melhor do que realmente é. Por mais que diversos especialistas tenham clamado a produção como obra-prima, isso parece muito mais excesso de boa vontade do que realidade. Estamos diante de uma obra importante, essencial, e que deve ter visibilidade. Mesmo assim, deve ser visto como realmente é: um manifesto estético bem intencionado mas, acima de tudo, incompleto.
Assista ao trailer de ‘Big Little Lies’:
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