| 18 de março de 2017

cine mundo: Eu, (insira seu nome)

Em tempos de Reforma da Previdência, o filme britânico “I, Daniel Blake” é um grande soco na boca de nosso estômago que nos deixa literalmente sem ar em suas cenas finais. Mas o que a Reforma tem a ver com um filme inglês? Dirigido por Ken Loach, apesar de simples o longa com certeza é […]

Em tempos de Reforma da Previdência, o filme britânico “I, Daniel Blake” é um grande soco na boca de nosso estômago que nos deixa literalmente sem ar em suas cenas finais. Mas o que a Reforma tem a ver com um filme inglês?

Dirigido por Ken Loach, apesar de simples o longa com certeza é uma das produções mais emocionantes que vi nos últimos tempos. “I, Daniel Blake” segue Daniel Blake (Dave John) durante uma parte de sua vida, a velhice. Ele é marceneiro com 59 anos que após sofrer um ataque cardíaco torna-se incapaz de continuar trabalhando. Impossibilitado de continuar a exercer a única atividade que lhe sustentava é obrigado a solicitar benefícios do governo. Aqui no Brasil chamamos isso de aposentadoria por invalidez, ou seja, um benefício concedido apenas para quem sofre alguma incapacidade sem cura e que impossibilite totalmente a realização do trabalho.

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Daniel então se depara com uma enorme barreira, a burocracia. A partir daí uma sensível história de luta, dor, sofrimento e empatia se desenrola na frente dos olhos do telespectador. Nosso protagonista tem seus benefícios negados, pois o Estado o enxerga como uma pessoa apta ao trabalho mesmo com a advertência médica de repouso, logo seu sustento está ameaçado.

E é em uma dessas salas de espera em um órgão público que Daniel conhece Katie (Hayley Squires) mãe solteira de duas crianças que acaba de se mudar Newcastle e também procura ajuda do governo. Sensibilizado com a situação precária da jovem, Daniel a ajuda a reformar seu novo apartamento, um começo de uma bela amizade.

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Como bem pontuou Matheus Pichonelli em sua crítica sobre o filme na Carta Capital, Loach conseguiu de forma estupenda registrar a desumanização das relações. Ainda acrescento, o cineasta traz à tela uma crítica ao processo de gentrificação que acontece em grandes cidades como Londres ou mesmo São Paulo.

A cada frame estamos mais e mais envolvidos pelas dores de nossos personagens principais. Um senhor que vê seu sustento ameaçado, pois não consegue se aposentar. Uma mãe faminta que para comprar um novo calçado para a filha precisa conseguir dinheiro por através de métodos obscuros. Jovens que para sobreviver vendem produtos contrabandeados abaixo do preço de mercado. Nos envolvemos, não apenas porque são vidas semelhantes à de muitos brasileiros, mas porque são vidas negligenciadas.

“I, Daniel Blake” foi vencedor da Palma de Ouro – a segunda do diretor Ken Loach – por um filme que revela a ineficiência e a burocracia do governo inglês.