Diego Olivares | 9 de janeiro de 2017

Eu, Daniel Blake (2016)

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Poster-Nacional-Eu-Daniel-Blake.jpg”] Diante de um cenário de crise, o cinema surge como forma não só de denúncia, mas também como instrumento de representatividade para aqueles que, numa discussão de reestruturação econômica, são muitas vezes deixados de lado. O cinema europeu, perante uma grave crise neoliberal e um quadro de austeridade econômica e alto nível de […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Poster-Nacional-Eu-Daniel-Blake.jpg”]

Diante de um cenário de crise, o cinema surge como forma não só de denúncia, mas também como instrumento de representatividade para aqueles que, numa discussão de reestruturação econômica, são muitas vezes deixados de lado. O cinema europeu, perante uma grave crise neoliberal e um quadro de austeridade econômica e alto nível de desemprego, encontra na singularidade e nas lutas pessoais a melhor forma de expor situações, ainda que íntimas, absolutamente universais.

O britânico “Eu, Daniel Blake”, dirigido por Ken Loach e vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, faz parte desse momento do cinema europeu. No filme, o protagonista-título é um carpinteiro viúvo que, após sofrer um ataque-cardíaco, busca o auxílio-doença do governo Inglês, porém esbarra numa burocracia insuportável, o que torna a sua jornada uma verdadeira odisseia de um homem comum.

Na busca pelos seus direitos Daniel cruza caminho com a jovem Katie, mãe solteira de dois filhos, que também sofre com o desemprego e a pobreza. Os dois se aproximam, principalmente graças à humanidade do protagonista, que não mede esforços para ajudar a família.

A direção de Loach é extremamente honesta. Por mais dramática que seja a trama, o filme não é apelativo em nenhum momento. Da fotografia, apenas observadora, à trilha sonora, ou melhor, a falta dela (não há som não-diegético), o diretor denota um estilo naturalista muito eficaz. Mesmo nas cenas focadas na Katie, as mais carregadas emocionalmente, não há nada artificial que fuja das características da produção.

Vale destacar o carisma do protagonista, vivido por Dave Johns, cuja bondade apresentada para com os outros torna ainda mais desesperador vê-lo esbarrar constantemente no antagonista do filme: o Estado que cria a ilusão de que, se você é pobre, a culpa é sua– como disse o próprio diretor em entrevista recente ao El País.

A impotência dos personagens de “Eu, Daniel Blake” é palpável, assim como a solidariedade entre aqueles que à reconhecem. Transbordando humanidade, Ken Loach questiona exatamente a falta dela naqueles que deveriam ter.

Assista ao trailer de ‘Eu, Daniel Blake’:

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