Bruno Martuci | 15 de novembro de 2016

Horizonte Profundo (2016)

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/11/newsimage-2-deepwater_2.jpg”] Quando Peter Berg encontra algo sobre o qual é apaixonado, normalmente é possível ver essa paixão em seu produto final. Quaisquer que sejam os problemas que alguém possa ter com O Grande Herói ou Friday Night Lights, estes são exemplos de obras para as quais Berg deu tudo de si. Seu mais recente […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/11/newsimage-2-deepwater_2.jpg”]

Quando Peter Berg encontra algo sobre o qual é apaixonado, normalmente é possível ver essa paixão em seu produto final. Quaisquer que sejam os problemas que alguém possa ter com O Grande Herói ou Friday Night Lights, estes são exemplos de obras para as quais Berg deu tudo de si. Seu mais recente filme, Horizonte Profundo, que teve sua estreia durante o Festival de Toronto, gira em torno do horrendo desastre que envolveu o vazamento de uma plataforma petroleira em 2010, custando vidas e firmando-se como um dos mais terríveis incidentes ambientais da história dos Estados Unidos. A produção iniciou com o diretor J.C. Chandor (Até o Fim) e, depois de misteriosas diferenças criativas entre ele e o restante da equipe, o cineasta foi forçado a sair do projeto, dando margem para Berg – e o resultado é um filme que funciona como uma obrigação contratual (além de deixar claro que Berg, após a finalização de Horizonte, pulou imediatamente para Patriot’s Day, sobre a maratona de Boston de 2013). Como é próprio dos filmes deste último diretor, a técnica se mostra perfeita, mas ele deixa a desejar quando falamos de desenvolvimento da narrativa e dos próprios personagens: sentimo-nos dentro de uma rotina – mais uma inevitabilidade que uma obra de arte ou até um entretenimento barato.

Horizonte Profundo é essencialmente dividido em dois atos: Ato 1 – Conheça a Equipe; Ato 2 – Veja o Desastre. Então, passamos um pouco de tempo com Mike Williams (Mark Wahlberg) e sua família, incluindo a esposa Felicia (Kate Hudson), antes dele sair para o trabalho numa nada comum estação de petróleo no Golfo do México. Conhecemos um dos mais velhos componentes do time, Mr. Jimmy (Kurt Russell) e uma das mais jovens, Andrea Fleytas (Gina Rodriguez). Claro, há outros executivos nefastos do BP (British Petroleum) andando por aí, garantindo que nada dê errado, incluindo a aparição vilanesca e extremamente memorável de John Malkovich como Donald Vidrine.

A primeira metade do filme é adornada com uma quantidade surpreendente de diálogos técnicos – várias conversas sobre níveis de pressurização e discussões sobre o estado deplorável do equipamento da plataforma. Há algo admirável sobre detalhes técnicos numa obra como essa, mas seu uso excessivo torna o cenário um tanto quanto repulsivo e complexo. Nós não sentimos que estamos conhecendo os personagens de modo diferente ao que conhecemos no dia do desastre. Quando as coisas se intensificam, nossa conexão não maior que a esperança que eles sobrevivam.

Mas quando a explosão realmente ocorre, tudo se mostra impressionante. No momento em que as coisas dão errado na Horizonte Profundo, os problemas não são ignoráveis: temos uma visão do Inferno permeado por água, lama, petróleo e eventualmente fogo. Para ser honesto, o fato de qualquer um sobreviver é bem marcante, e Berg e sua equipe técnica sabem como criar uma atmosfera de puro terror capaz de fazer o público se sentar na ponta da cadeira e se esquecer das graves falhas. Catalisadores explodem, canos se rompem e corpos são jogados para todos os lados. É incrível, mas superficial. Horizonte Profundo por vezes nos relembra de Battleship – A Batalha dos Mares quando falamos de qualidade de roteiro e desenvolvimento de arcos. E este também é um filme que confunde o espectador quanto à geografia dos lugares e a cronologia dos acontecimentos. A melhor sequência é quando a primeira explosão ocorre, quando água e lama inundam a câmara, e alguns homens sensatos ainda se dispõem a tentar consertar o vazamento antes que alguma desgraça ocorra. E depois que se mostram incapazes disso, tudo se transforma numa montagem indistinta e borrada de fogo e barulhos.

Pessoas morrem. Agora, como contamos a história de forma a entreter o público enquanto devemos criar uma narrativa envolvente que honre o caso conhecido desde 2010? Essa é uma questão difícil, a qual o filme não consegue administrar. Há uma versão mais ambiciosa de Horizonte Profundo que mergulha ainda mais fundo nas vidas dos protagonistas. Essa a qual fomos apresentados acerta em cheio nas explosões, mas tudo ao redor delas – as pessoas, os cálculos, a tragédia – é perdido. Peter Berg poderia ter feito outra versão. Mas talvez ele precisasse estar como diretor desde o princípio para consegui-la.

Assista ao trailer de ‘Horizonte Profundo’:

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