Felipe Curcio | 12 de outubro de 2016

cine música: Especial Woody Allen: Toca uma ópera aê!

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/10/allen1.jpg”] *Esse é o segundo texto de um especial de três colunas sobre a trilha sonora nos filmes de Woody Allen. Leia o primeiro aqui. Não é só de jazzes antigos que se faz a vasta obra de Woody Allen no cinema. E nem só de comédias. Apesar de pouco explorado, o lado dramático […]

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*Esse é o segundo texto de um especial de três colunas sobre a trilha sonora nos filmes de Woody Allen. Leia o primeiro aqui.

Não é só de jazzes antigos que se faz a vasta obra de Woody Allen no cinema. E nem só de comédias. Apesar de pouco explorado, o lado dramático de Allen é tão rico quanto o seu lado comediante. E, nada melhor para musicar um drama que uma boa ópera.

Allen pensou em colocar apenas uma música de ópera em “Match Point”(2005), uma vez que o estilo era um dos interesses em comum do personagem principal, Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers), com o grupo de amigos ricos. Percebeu, então, que a ópera iria ajudar a dar o tom do filme. “Há todo esse sangue e intensidade na história, então eu usei ópera”, afirmou.

De fato, a história é intensa: Wilton é professor de tênis que inicia amizade com o rico Tom Hewett (Mathew Goode), exatamente por causa do interesse em ópera, ao se aproximar de Tom, conhece também sua irmã, Chloe (Emily Mortimer), com quem inicia um relacionamento. Nesse ínterim, também conhece Nola (Scarlett Johansson), namorada de Tom, com quem tem um caso.

De olho no dinheiro e no status da família Hewett, Wilton se casa com Chloe, mas mantém Nola como amante. Até que, então, Nola fica grávida e Wilton, desesperado. E é aí que o tom do filme fica operesco: Wilton decide matar Nola. Baseado livremente em “Crime e Castigo”, o filme usa e abusa de árias de óperas cantadas pelo tenor italiano Enrico Caruso.

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As árias vêm de diversas óperas, como de La Traviatta de Giuseppe Verdi; o Elixir do Amor de Gaetano Donizetti e Salvador Rosa de Antônio Carlos Gomes. É interessante que, diferente de outros filmes em que Allen usou trechos de ópera para sublinhar a classe social de seus personagens, em “Match Point” as árias conversam com a história.

Em alguns momentos, os trechos são irônicos com as ações dos personagens ou até prevêem o que pode acontecer. Em uma das cenas mais incríveis do filme, é possível se escutar o dueto entre Otelo e Iago da ópera Otello de Verdi. Não, não é uma música, é um diálogo musicado de ópera, de forma que, durante toda essa cena, que é BEM IMPORTANTE para o filme (gente, não quero spoilar mais o filme), há outra cena acontecendo, só que na música.

Muitos críticos chamaram “Match Point” de um filme “pouco característico” de Woody Allen. Allen, muitas vezes auto-irônico e crítico, não costuma levar as questões morais e filosóficas tão a sério, como levou em “Match Point”. O fato do filme se passar em Londres, o primeiro da turnê européia de Allen, também destoa de todas as suas películas anteriores. A ópera, nesse contexto, vem só a acrescentar o peso do drama e a acentuar a diferença desse filme com os demais.

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É interessante pensar que, depois desse filme, Allen voltou a usar árias de óperas, só que com uso voltado mais para a comédia do que para o drama: em “Para Roma, com amor”, Allen dirige o ator Fábio Armilliato conhecido tenor de ópera, dentro e fora das telas. Amilliato faz Giancarlo, um personagem que só canta bem no chuveiro. O que nos reserva uma das cenas mais inusitadas de Allen: um tenor, cantando Pagliacci no chuveiro, no meio de um palco de um teatro maravilhoso e clássico de Roma.

A ligação de Allen com ópera não acabou por aí: no ano passado, o diretor foi chamado para dirigir uma ópera de Puccini, estrelada por ninguém menos que Plácido Domingo. Pois é, quando o talento é muito, ele se multiplica.