A Fita Branca
[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/09/whiteribbon.jpg”] Apesar de ser um grande fã do cinema atmosférico e hiper-realista de Michael Haneke, nunca cheguei a fazer uma crítica de filme dele aqui no Salada de Cinema. Mas essa semana, ao rever A Fita Branca (Das weiße Band, 2009), achei a hora oportuna pra colocá-lo na seção dos clássicos do site. Ou […]
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Apesar de ser um grande fã do cinema atmosférico e hiper-realista de Michael Haneke, nunca cheguei a fazer uma crítica de filme dele aqui no Salada de Cinema. Mas essa semana, ao rever A Fita Branca (Das weiße Band, 2009), achei a hora oportuna pra colocá-lo na seção dos clássicos do site. Ou melhor, fazer um duplex especial dele: Violência Gratuita (Funny Games, 1997) num post não muito distante, quem sabe?
O diretor austríaco traz em suas obras um olhar frio, violento e pessimista, histórias incômodas que desafiam e criticam a passividade do espectador, que acaba se tornando testemunha ocular da crueza da situação. Ressentimento, traumas, intolerância, injustiças sociais são alguns dos temas trabalhados por ele, sempre com uma estética impecável, que é o caso de A Fita Branca.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e do Globo de Ouro (Melhor Filme Estrangeiro), a trama, narrada em off por um professor local, apresenta a vida numa cidade no interior da Alemanha anterior a Primeira Guerra Mundial. Acidentes bizarros começam a acontecer nesse vilarejo sem mais nem menos: um arame derruba um médico e seu cavalo, uma colheita é destruída, uma trabalhadora morre misteriosamente, crianças são maltratadas brutalmente. Muitas perguntas são feitas, o espectador anseia por respostas rápidas, mas ao invés disso, leva na cara cada vez mais dúvidas e questionamentos.
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Importante ressaltar que cada núcleo do elenco tem um número considerável de crianças e alguns dos pais delas tem métodos exagerados de rigidez e disciplina. Um exemplo: por causa de um atraso pra chegar em casa, o pai, um rígido pastor, decreta que ninguém vai jantar. Logo em seguida, anuncia que os dois filhos mais velhos vão receber golpes de vara e que vai doer mais nele do que nas crianças. Um dos filhos tem as mãos amarradas a cama para evitar de se masturbar, um pecado mortal. Atitudes grotescas como essa vão ganhando cada vez mais espaço no decorrer do longa.
Para lembrar os filhos da pureza da qual eles se desviaram, o pastor os obriga a usar uma fita branca. Outra criança, por roubar a flauta do filho do barão, apanha pra valer do pai. Um médico viúvo trata a mulher que cuida dos seus filhos de uma maneira muito humilhante e ela aguenta calada até não poder mais.
A maldade dos pais acaba sendo transferida automaticamente pras crianças da trama. Uma criança deficiente mental é uma das mais desafortunadas vítimas dos acontecimentos do vilarejo: a forma que as crianças a tratam é maldosa e desnecessária. Tudo acontece de uma maneira sutil, dando a parecer que é apenas uma infantilidade/imaturidade das crianças, mas é justamente por parecer singelo é que o espectador deve ficar atento a cada cena do filme.
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O mal está tão arraigado naquela cidade que não tem fita o suficiente que os lembre de algum resquício de bondade. Pelo contrário, A Fita Branca acaba representando justamente o contrário: a descoberta da maldade. A fotografia claríssima e bela em preto e branco de Christian Berger contrasta com o que vemos nas cenas. O domínio técnico de Haneke é inegável: desde a direção de arte extremamente bem construída até a escolha dos atores, com características sombrias, uma notável frigidez e indiferença. A resposta a todos esses questionamentos é arrebatadora.
Seria a história de A Fita Branca um prelúdio (ou simples alusão) ao nazismo? A julgar pelo sistema rígido e o controle social, além de um líder um tanto carismático. Como é narrado em off no começo do longa: “os eventos que se passaram ali, naquele vilarejo, no início do século, são de extrema importância para se compreender os eventos dramáticos que aconteceriam na Alemanha, décadas depois”. Impossível não fazer uma analogia a esse tratamento rígido dentro da própria casa com o que acontecia nos campos de concentração em Auschwitz, por exemplo. Quando cai a ficha de todos os acontecimentos e seus reais motivos, você desmorona. A Fita Branca vai, definitivamente, tirar o seu chão.
Leia outra crítica de ‘A Fita Branca’.
Assista ao trailer de ‘A Fita Branca’:
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