Eric P Sukys | 16 de setembro de 2016

cine remix: Coerência Desaparecida (uma cena noir)

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Cine-Remix-71-Coerência-Desaparecida.png”] Crédito da imagem: Keryma Lourenço O detetive Williams finalmente conseguiu abrir a janela dos fundos do cartório. Aguardou um instante, tenso: se disparasse o alarme, saberia que o Pé-Chato não tinha cumprido sua promessa. Mas houve silêncio, apenas; bom sinal. Entrou. O caso parecia estar chegando ao fim. O detetive já tinha perdido […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Cine-Remix-71-Coerência-Desaparecida.png”]

Crédito da imagem: Keryma Lourenço

O detetive Williams finalmente conseguiu abrir a janela dos fundos do cartório. Aguardou um instante, tenso: se disparasse o alarme, saberia que o Pé-Chato não tinha cumprido sua promessa. Mas houve silêncio, apenas; bom sinal. Entrou.

O caso parecia estar chegando ao fim. O detetive já tinha perdido a noção do tempo que passara investigando o misterioso desaparecimento da Srta. Coerência. Se a dica de um informante estivesse certa, ali, em meio aqueles papéis embolorados, estava a solução do sumiço.

Williams se lembrava do infame dia inicial. Não recebia trabalhos havia semanas. Um marasmo, aprofundado pelo contraste com a turbulência das notícias políticas, que tomavam rádios, TVs, jornais. Então, chegou o primeiro cliente.

Um assessor de um figurão da política local. Williams o ouviu: receberia dele uma bela soma, para que encontrasse, sem alarde, a tal srta. Coerência, ex-amante do chefe. Williams prometeu considerar.

Com os dias, outros clientes apareceram, oferecendo-lhe cifras maiores ou menores pelo mesmo serviço: encontrar a dama. Vieram empresários, repórteres, lobistas, líderes de movimentos; Williams os ouvia e prometia considerar.

O detetive não demorou a conectar os fios e deduzir que a turbulência política tinha a ver com o desaparecimento de Coerência. Encontrá-las, e aos segredos que ela certamente teria consigo (tendo convivido intimamente com tantas figuras do alto escalão), provocaria um curto-circuito na política local. Como Williams deixaria um caso desses, potencialmente, explosivo, passar?

O rastro das pistas e dos informantes o tinha levado até aquele cartório. O Pé-Chato lhe tinha dado a dica de um número de localização, cuja pasta revelaria a Williams o real paradeiro de Coerência. Depois de vasculhar algumas gavetas, o detetive encontrou o tal fichário.

Nele, fotos de Coerência, seu registro civil, CPF, declarações de imposto de renda. Alguém havia centralizado naquela pasta as informações da dama — talvez para facilitar a destruição desses vestígios. Williams percorreu com atenção os documentos, buscando a informação crucial.

Achou-a: uma rasura na certidão de nascimento. Na mais antiga. Colocou o papel contra a luz vacilante e pôde ler o verdadeiro nome da dama: não Coerência, mas Conveniência. Uma troca simples de identidade. Coerência, concluiu o detetive, fora uma farsa; seu desaparecimento provavelmente deve ter resultado de uma nova troca, agora assumindo a identidade anterior, Conveniência. E esse novo rastro, sabia Williams, não seria tão difícil de encontrar.