Eric P Sukys | 15 de julho de 2016

cine remix: Procurando Assunto

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/07/ProcurandoAssunto.png”] Eu queria ser cronista à moda antiga, daqueles que falavam de tudo ao escrever sobre nada, mas não dá. Primeiro porque ainda não posso voltar no tempo. Depois, porque até o Nada é hoje um assunto no qual muita gente é especialista — deve haver teses, artigos, notícias, opiniões, fotos no insta, snaps […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/07/ProcurandoAssunto.png”]

Eu queria ser cronista à moda antiga, daqueles que falavam de tudo ao escrever sobre nada, mas não dá. Primeiro porque ainda não posso voltar no tempo. Depois, porque até o Nada é hoje um assunto no qual muita gente é especialista — deve haver teses, artigos, notícias, opiniões, fotos no insta, snaps e uma metralhadora de posts dissecando o Nada em todos os seus aspectos. Eu que não vou me meter nisso aí.

Mas o pior é o seguinte: como é que eu posso escrever sobre nada se tem tanto assunto por aí? Esse é o dilema de Cine-Remix, desde o começo. Assuntos abundam; logo, desenvolvemos essa gambiarra de misturar os temas, remixar os filmes, diluir um enredo no outro, para ver se dávamos conta do máximo de assuntos possíveis. Falhamos.

Nessa semana, por exemplo. Só o que está em cartaz no cinema renderia texto até o fim do mundo (que, aliás, foi tema da última coluna: Tanto assunto, de fato, que não conseguimos escolher.

Seria melhor aproveitar o gancho de “Procurando Dory”? Quem sabe escrever uma cena rápida, do ponto de vista da menina que quase levou Nemo para casa, no filme anterior. Ela teria levado a sério a impressão de que os peixes têm consciência, se comunicam, planejam fugas. Começa uma investigação e descobre que não só peixes, mas brinquedos, carros, insetos, cães falam! Mas quem a escutaria, se ninguém dá ouvidos às coadjuvantes?

Não, não, outra história de loucura não. Melhor esquecer. É óbvio que compensaria mais aproveitar o gancho de uma estreia, como “Caça-Fantasmas”. O Cine-Remix desse filme sai quase que no automático: imaginar outras histórias recontadas com personagens femininos. “Onze Mulheres e um Segredo”. “Três Mulheres em Conflito”. “As Boas Companheiras”. “A Rainha Leoa”. “Cidadã Kane”. Mas isso também não seria bom — por um lado, acusariam de falta de criatividade; por outro, de que é um oportunismo de mercado; por um terceiro, de que não basta só mudar o gênero para mudar a perspectiva, porque essas histórias, esses olhares, essa visão de mundo ainda seriam muito masculinos. Talvez os três argumentos estejam certos.

Que fazer então? Sacanear “Era do Gelo”, inventando um possível último filme da franquia, quando o esquilo finalmente comeria a noz e descobriria que, depois de tanta briga e busca, ela estava com a validade vencida?

Ou melhor desenterrar, da ficção ou da memória, dos documentários ou dos debates sobre filmes indies, um pequeno nó de acontecimentos miúdos, que fica soterrado em meio a tanta gritaria, a tanta foto e like e view e vídeo e fato? Procurar nessa gororoba de conteúdo aquele aroma dissonante, frágil e muito leve, que se evapora num instante e nenhuma selfie capta? Descobrir, aí, o ponto de fuga da coluna, pequeno Nada para onde converge tudo?

Não sei. Mas acho que seria melhor ser cronista à moda antiga. Devia ser mais fácil.