Fernando Campos | 5 de maio de 2016

Dois Rémi, Dois

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/05/deux-remi-deux-7dfd-diaporama-1.jpg”] Independente do grau de parentesco, o cinema cansou de explorar enredos com personagens idênticos. Doppelganger (ou duplo) trata-se de uma lenda alemã sobre a existência de uma criatura que tem o poder de se transformar em um clone perfeito da pessoa, não só na imagem mas também em seus sentimentos mais profundos. Esse […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/05/deux-remi-deux-7dfd-diaporama-1.jpg”]

Independente do grau de parentesco, o cinema cansou de explorar enredos com personagens idênticos. Doppelganger (ou duplo) trata-se de uma lenda alemã sobre a existência de uma criatura que tem o poder de se transformar em um clone perfeito da pessoa, não só na imagem mas também em seus sentimentos mais profundos. Esse universo sensorial que se desenvolve é o principal atrativo pra obras do gênero.

Dirigido por Pierre León, diretor e ator francês de origem russa, Dois Rémi, Dois (Deux Rémi, Deux) foi vagamente inspirado na obra de Fiodor Dostoiévski, O Duplo, publicada em 1846. Foi com esse romance que nasceu o interesse do escritor russo pelas profundezas da mente humana, além de arrancar elogios de Sigmund Freud. O livro lida com a dualidade do homem, a bifurcação da consciência, a desfragmentação de si mesmo, a ânsia de provar pro mundo que existe.

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Em apenas 1 hora e 06 minutos, Dois Rémi, Dois parece um filme feito especialmente pra TV, a julgar por sua duração, mas Pierre consegue nos entregar um filme interessante, que nos faz refletir sobre a insegurança humana e o auto conhecimento e, ao mesmo tempo, trata do tema com leveza, característica nada comum em outros filmes do gênero, como Um Corpo Que Cai (lá vem o chato citar Hitchcock de novo!). Diferente das páginas de Dostoiévski, o longa realmente tem uma leveza especial em se tratando de um doppelganger, do conflito do verdadeiro eu e seu impostor.

Rémi (Pascal Cervo) tem 30 anos. É introspectivo, fechado e pragmático. Tem um emprego sem graça e uma leve queda por Delphine, filha do patrão, interpretada por Luna-Piccoli Truffaut, neta de François Truffaut. Mora com seu irmão, Philippe (Serge Bozon), personagem um tanto vago, que poderia ser melhor construído. Aliás, não só Philippe, Delphine também. Apesar dessa observação, o enredo não se danifica por detalhes como esse, mas seria interessante um acréscimo nessas subtramas.

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A vida segue monótona e eis que seu duplo aparece na trama, com características bem opostas: independente, charmoso e atrevido, além de se sobressair no emprego e no campo amoroso. A cópia acaba por obrigar o verdadeiro Rémi a se abrir pra vida. Cabe ao nosso herói saber se impôr e mostrar a que veio, diante de toda a enlouquecedora situação.

Quem leu a obra de Dostoiévski vai notar sutilezas simpáticas, como a cena que Rémi paga a conta na padaria. Destaque para o conflito de Rémi com seu duplo impostor e pro desfecho da história. Importante ressaltar a trilha original de Alexander Zekke e a fotografia de Thomas Favel como pontos altos do filme.

Apesar de indicado como comédia, a classificação é subjetiva. Por mais que o desenrolar seja leve, Dois Rémi, Dois é denso e intrigante. Um exercício de reflexão e auto conhecimento.