Bruno Martuci | 1 de fevereiro de 2016

Suíte Francesa

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Suite-Francaise.jpg”] Histórias de amor sempre são perigosas – principalmente quando transformadas em filmes. A possibilidade de cair em clichês como “o amor vence qualquer obstáculo” e “o amor se sobrepõe a quaisquer defeitos” é imensurável. E as premissas contidas na sinopse de “Suíte Francesa” levam o espectador exatamente pelo mesmo caminho. Entretanto, a nova […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Suite-Francaise.jpg”]

Histórias de amor sempre são perigosas – principalmente quando transformadas em filmes. A possibilidade de cair em clichês como “o amor vence qualquer obstáculo” e “o amor se sobrepõe a quaisquer defeitos” é imensurável. E as premissas contidas na sinopse de “Suíte Francesa” levam o espectador exatamente pelo mesmo caminho.

Entretanto, a nova produção de Saul Dibb (“A Duquesa”, “A Linha da Beleza”) se tornou uma das grandes surpresas de 2016. Baseada no romance homônimo de Irène Némirovsky – escritora judia que foi raptada pelos alemães em plena Segunda Guerra Mundial -, a história gira em torno de Lucile Angellier (Michelle Williams), uma francesa que vive às custas e às ordens de sua sogra (Kristin Scott Thomas) numa pequena vila do interior. Quando sua cidade é tomada pelo exército inimigo, a rotina de todos muda e a protagonista passa a desenvolver uma relação dúbia e cautelosa com o tenente Bruno von Falk (Matthias Schoenaearts).

A sinopse é bem clara e não dá brechas para quaisquer pontos altos ou viradas impactantes – principalmente quando os primeiros momentos do filme são apresentados por uma narradora. Uma tentativa nada original de contextualizar o cenário e as personagens e um provável insulto ao público, dando a entender que a complexidade da narrativa é tal que não pode ser entendida sem a presença de uma entidade onisciente.

Felizmente, o diretor – e também roteirista – se mostrou sagaz ao escolher uma técnica “à la Woody Allen”. No decorrer da produção, vemos que o narrador – Lucille – se faz extremamente necessário para transmitir aqueles pequenos detalhes que foram perdidos ou ocultos.

Com a performance incrível de Michelle Williams, a qual abandonou o estilo pin-up de “Sete Dias com Marilyn” para dar vida a uma personagem muito mais elaborada e mais profunda, o filme transcendente os conceitos de amor e guerra – tão banalizados em produções de época. O desenvolvimento de cada um dos arcos é bem visível: Lucille se mostra ofuscada pelo tratamento rigoroso e compulsório da sogra nos dois primeiros atos – uma metáfora muito inteligente da dominação existente durante a Segunda Guerra Mundial. Mas logo depois que descobre os segredos que seu marido escondeu dela por tantos anos, torna-se o principal elemento de investida contra os inimigos – simbolizando a luta pelos valores e a decadência das batalhas entre países inimigos.

O mais interessante foi a abordagem escolhida em “Suíte Francesa”. Dibb não escolhe retratar a Guerra como um evento histórico entre “mocinhos e bandidos”. Ambos alemães e franceses são retratados como humanos – e somos apresentados a todos os pontos de vista possíveis. Lucille e Bruno resgatam os conceitos primordiais da ideia de amor, e toda a ideia dos laços que se consolidam trama após trama, refletem a ideia da confiança. A protagonista passa a confiar em um ser humano, não em uma aberração. E Bruno vai pelo mesmo caminho.

Logo, por mais que a confiança deva existir entre pessoas conhecidas, Lucille encontrou seu refúgio com alguém jamais imaginou – e o mesmo pode se dizer de Bruno. O conceito de “heróis e vilões” é questionado por diversas vezes e de várias maneiras.

Outro ponto a ser aplaudido é a magnífica trilha sonora, composta por Alexandre Desplat (“Harry Potter”, “A Árvore da Vida”). Uma combinação de instrumentos clássicos que transmite o interior do personagem sem cair em combinações autoexplicativas.

“Suíte Francesa” foi uma das grandes surpresas desse ano. Contando com um elenco incrível e com participações especiais ainda mais surpreendentes, mostra um lado da guerra que, felizmente, foge dos clichês convencionais.