Igor Lino | 25 de setembro de 2015

Amy

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Amy-Winehouse.jpg”] Uma garota judia do subúrbio de Londres sonhava em se tornar uma diva do Jazz. Triste fim: assistimos de camarote à derrocada de uma celebridade global, extremamente talentosa, completamente perdida. “Amy”, o documentário dirigido por Asif Kapadia que conta a trajetória da cantora Amy Winehouse, foi exibido no Reino Unido batendo recorde de […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Amy-Winehouse.jpg”]

Uma garota judia do subúrbio de Londres sonhava em se tornar uma diva do Jazz. Triste fim: assistimos de camarote à derrocada de uma celebridade global, extremamente talentosa, completamente perdida. “Amy”, o documentário dirigido por Asif Kapadia que conta a trajetória da cantora Amy Winehouse, foi exibido no Reino Unido batendo recorde de bilheteria de uma estreia nas terras da rainha. Provou de cara o ponto mais importante do filme: o público permanece interessadíssimo em vampirizar celebridades.

O diretor estabelece uma linha do tempo, que começa com Amy adolescente, cantando informalmente e calando a todos com seu vozeirão poderoso. Ela ainda não sabe que seu sucesso arrebatador seria inevitável, mas nós já sacamos naqueles primeiros minutos de filme. A investigação é repleta de vídeos caseiros, muitos inéditos, que aproximam o público daquela menina espontânea e carismática. Estamos sentados no carro com ela, partindo para um show em um bar, antes da fama.

Cercada de bons amigos e ainda desvendando quais seriam seus próximos acordes, Amy é divertida, espirituosa, e parece completa naquele contexto restrito das pequenas casas de espetáculo. Em dado momento ela afirma que nunca quis ser famosa e que não estava preparada para isso, o que fica evidente quando, já conhecida, não sabe ao certo como se comportar em entrevistas.

Conforme assistimos à evolução de sua carreira, aparecem alguns erros de percurso que podem tê-la levado à queda mais tarde. A troca do empresário amigo e humano por um businessman é a primeira delas. A relação turbulenta com o namorado Blake Fielder, a inspiração para as composições que originaram o disco “Back to Black” e a catapultaram à fama. As atitudes questionáveis do pai, Mitch Winehouse, que fez malabarismos com a saúde da filha para tentar manter sua carreira em pé – ainda que ela própria não conseguisse se manter de pé. Mitch, aliás, chamou o documentário de “injusto” e disse estar preparando sua versão dos fatos.

Há cenas lindas, emocionantes e inesquecíveis para quem admira Amy. É de arrepiar vê-la no estúdio, gravando a música “Back to Black” à capela, no auge do potencial vocal e da limpidez do som. Já perto da data de sua morte, cantando com seu ídolo Tony Bennett, resgatando o nervosismo de realizar um sonho, e relembrando que só queria ser uma grande cantora de Jazz. Quando ganha o Grammy e congela por alguns segundos, conseguimos ver a menina suburbana sem acreditar aonde chegou. Essa cena dá sequência a uma das mais tristes (e não faltam cenas deprimentes). Amy puxa a melhor amiga de lado pra lhe dizer que sem drogas nada daquilo tem graça.

O diretor acerta em não poupar o público das cenas tristes, quando Amy vai ao fundo do poço pela química explosiva de seu vício com o sensacionalismo midiático. Mostra, por exemplo, a cantora cadavérica se estapeando em cima do palco, tentando recobrar a consciência. Ao fazer isso, em vez de explorar sua miséria, mete o dedo na cara do espectador pra lhe entregar sua dose de culpa pelo desfecho trágico. É enlouquecedor ver o tanto de flashes que a esperavam ao entrar ou sair de qualquer lugar, ou a maneira desumana como comediantes e a imprensa em geral se alimentavam de sua condição. Outros casos, como o da Princesa Diana, nos levam de volta à questão: quantas outras pessoas precisarão ser expostas aos seus fantasmas em praça pública até a morte para o entretenimento do público?

Tarefa difícil traçar um perfil psicológico de alguém tão complexo, que teve tal destino. Fazer o público entender um pouco melhor quem é aquela pessoa por trás do mito. Dar uma pista por que razão ela parecia uma marionete entregue ao namorado Fielder e mergulha nas drogas. “Amy” consegue.